"Dentro dos limites que nos impõe nossa condição de seres humanos, penso que procurei sempre servir da melhor maneira a meus alunos e à Psicologia".
Doutora Aniela Meyer Ginsberg por ela mesma.(1)
19/12/85
Aliando sempre uma postura de extremo profissionalismo às delicadezas da feminilidade, a imagem forte deixada por Dra. Aniela na memória de seus ex-alunos torna-se ainda mais admirável, se nos detivermos em conhecer um pouco mais sobre o trabalho que desenvolveu ao longo dos seus quase quarenta anos de atividades.
Afinal quem seria aquela professora tão enérgica, de quem muitos de nós ainda se
recordam como uma ‘senhorinha’, sempre muito elegantemente composta - segundo padrões europeus - sem dispensar, até o final de sua vida, um toque de cor no rosto e o adorno de um colar de pérolas?
Ao constatarmos - por exemplo nos arquivos da "Fundação Aniela e Tadeusz Ginsberg" - o expressivo vulto de sua obra, compreenderemos melhor porque aquela figura de senhora idosa, fisicamente fragilizada pelo Mal de Parkinson, mobilizava ainda uma atitude tão respeitosa e atenta em seus alunos, aqueles irreverentes universitários dos anos 60/70.
O relato detalhado sobre a obra de Dra. Aniela já é tema constante da atenção e interesse dos pesquisadores da própria FATG. Neste nosso pequeno espaço a intenção é destacarmos, mais que tudo, o papel essencial por ela desempenhado na história da Psicologia da PUC-SP. Indo apenas um pouco além dessa meta, traçaremos aqui também o breve perfil de uma mestra que escolheu dedicar os frutos materiais de sua vida em benefício daqueles que, no futuro, não teriam a chance de ser seus alunos!
A Dra. Aniela Meyer Ginsberg, nasceu em Varsóvia, Polônia, em 2 de outubro de 1902. Sua infância transcorreu durante o período da 1a. Guerra, vivência essa que parece ter influído em seu futuro interesse por temas relacionados às pesquisas inter e intraculturais.
Ainda na Europa foi aluna de Wertheimer, Kholer, Kurt Lewin, W. Stern, entre outros. Formou-se na Universidade de Varsóvia, em 1933, iniciando sua vida profissional junto ao Laboratório de Orientação Profissional da Prefeitura daquela cidade. Em 1936 veio para o Brasil, em função do trabalho de seu marido - Tadeusz Ginsberg - na época funcionário do Banco Francês e Brasileiro.
Em 1940 inicia sua colaboração com outros pioneiros da Psicologia no Brasil. Foi nessa época que, entre outras atividades, atuou como técnica junto à Divisão de Seleção do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial - SENAI - de São Paulo. Em 1948 integra-se ao grupo dirigido por Mira y Lopez, que no Rio de Janeiro desenvolvia os trabalhos do Instituto de Seleção e Orientação Profissional - ISOP - da Fundação Getúlio Vargas.
Desde o mês de abril de 1952 a Dra. Aniela ingressou no então "Instituto de Psicologia da Universidade Católica de São Paulo". A partir dessa época, juntamente com o Dr. Enzo Azzi participou ativamente do processo da criação, organização e desenvolvimento da estrutura que hoje conhecemos como sendo a nossa "Faculdade de Psicologia da PUC-SP", bem como sua respectiva "Clínica Psicológica".
Em meio à essas já intensas atividades Dra. Aniela foi ainda autora de inúmeros artigos, idealizadora e orientadora de muitos trabalhos de pesquisa, orientadora de numerosos trabalhos de mestrado, em diferentes áreas da Psicologia. Nos arquivos da FATG, uma cópia de seu currículo refere, somente até o ano de 1969, cerca de 40 trabalhos publicados em diferentes periódicos nacionais e internacionais, sobre diversos temas abordados: Podemos encontrar dentre seus trabalhos títulos sobre: As técnicas de exame projetivos da personalidade - em especial o Teste de Rorschach -; As já mencionadas pesquisas intra e transculturais; Temáticas abordando aspectos da Psicologia Social, Educacional e do Desenvolvimento, em diferentes faixas etárias.
Presença assídua em Congressos e Simpósios, já representava o Brasil no exterior quando a Psicologia, como profissão, apenas ensaiava existir em nosso meio.
Este aliás, foi mais um de seus campos de empenho: por ocasião da campanha pelo reconhecimento do nosso curso e profissão, foi participante das reuniões da "Sociedade de Psicologia de São Paulo", e da "Associação Brasileira de Psicologia", entidades que então debatiam o projeto de Lei sobre esse tema, posteriormente encaminhado ao Congresso Nacional.
Dra. Aniela faleceu em 1986, e esteve ligada à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo praticamente até o final de sua vida: em 1985 ainda mantinha atividades na Universidade. Exerceu ainda um papel fundamental na implantação do primeiro programa de Pós Graduação - em Psicologia Social - na PUC-SP. À página 59 do catálogo de 1996, desse setor da nossa Universidade, podemos localizar a seguinte referência à Dra. Aniela: "O Programa de Estudos Pós Graduados em Psicologia Social compreende o curso de Mestrado, criado em 1972, e o curso de Doutorado, criado em 1983. Inicialmente, tendo como figura central a professora Aniela Ginsberg, o Programa caracterizou-se pela ênfase na pesquisa empírica na perspectiva transcultural."(2)
Várias vezes homenageada pela comunidade científica, a relevância do papel exercido pela Dra. Aniela, no desenvolvimento da Psicologia em nosso meio, certamente fica evidenciado acima, ainda que seja esta apenas uma breve síntese sobre suas principais atividades.
Os interessados em conhecer mais detalhadamente sua ampla produção científica poderão entrar em contato direto com aquela que foi sua obra final: A já mencionada "Fundação Aniela e Tadeusz Ginsberg". Esta Instituição, criada por determinação - em testamento - do casal Ginsberg, tem como finalidade o apoio à estudantes de Psicologia carentes de recursos. Mantém também o acervo sobre a obra da Dra. Aniela, além de organizar anualmente vários eventos e atividades de incentivo à pesquisa em Psicologia.
Assim, como obra final, a Dra. Aniela legou seus bens àqueles alunos que não teve a oportunidade de ensinar. Ou quem sabe terá sido esta a forma que nossa Professora encontrou, de planejar sua aula mais duradoura?
Fontes consultadas:
1- Trabalho de pesquisa realizado por Sônia Regina Bueno, sob o título "A Contribuição de Dra. Aniela Ginsberg à Psicologia’’, apresentada ao CEPE- Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - Faculdade de Psicologia em 1992. Deste trabalho foi extraída a citação de abertura desta página.
Observação: O levantamento realizado por Sônia compõe parte do trabalho de pesquisa sobre o histórico do IPPUCSP (Instituto de Psicologia da Universidade Católica de São Paulo), Instituto este que, por sua vez, deu origem à Clínica Psicológica Dra. Ana Maria Poppovic, atual Clínica-escola da Faculdade de Psicologia da PUC-SP. Tal levantamento baseou-se na pesquisa e análise de documentos e registros sobre as atividades do citado Instituto - ao qual Dra. Aniela esteve estreitamente ligada, juntamente com Dr. Enzo Azzi - bem como em várias outras fontes - depoimentos pessoais e publicações - as quais contém registros do intenso trabalho desenvolvido por Dra. Aniela em nosso meio.
2- Catálogo 96 - Pós Graduação - da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
3- Documentos do arquivo da "Fundação Aniela e Tadeusz Ginsberg" (tais como fotos, cópias do Currículo da Dra. Aniela Ginsberg, entre outros) gentilmente cedidos pela Profa. Dra. Maria do Carmo Guedes e Profa. Sandra Bettoi.
Nota: Este perfil foi elaborado pela Professora Rosa Maria Farah, componente da equipe responsável pelo Serviço de Informática da Clínica Psicológica da PUC-SP.