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A obra de Euclides,
escrita em torno de 300 a. C é composta de 13 livros ou capítulos e reúne os
conhecimentos de geometria, álgebra e aritmética. É uma obra que foi
amplamente divulgada, sendo o livro mais editado após a Bíblia. Reunindo o
conhecimento das matemáticas de seu tempo e, embora algumas demonstrações
sejam de autoria de Euclides, sua maior contribuição está na apresentação
axiomática desse conhecimento. Ela considera a distinção
aristotélica entre postulado e axioma, atualmente não mais empregada, onde o
primeiro refere-se a proposições especificamente geométricas e o último às
noções gerais, que são comuns às demais ciências. Segundo Eves (1992; p.9)
para os gregos um discurso lógico era “uma seqüência de afirmações obtidas
por raciocínio dedutivo a partir de um conjunto aceito de afirmações
iniciais”, que deveriam ser explicitadas.
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Manuscrito dos Elementos
- D’Orville
301, escrito em 888 |
A maioria das proposições
é voltada para a construção geométrica, a partir da utilização de uma régua
não graduada e de um compasso. A geometria elementar apresentada nos livros
didáticos de ensino fundamental e médio está presente nessa obra que é
composta por 465 proposições, sendo 93 problemas e 372 teoremas, deduzidas a
partir de 5 axiomas, 5 postulados e 138 termos definidos. O livro I,
destinado a apresentação da geometria plana, contém 48 proposições,
deduzidas a partir de 5 axiomas, 5 postulados e 23 termos definidos. Essa
obra, como a conhecemos, é resultado de muitas alterações ao longo dos
séculos, devido às transcrições manuais, traduções e algumas introduções
propositais, como a de Theon de Alexandria, que “não satisfeito com a versão
transmitida por quase 700 anos, em uma linguagem mais clara, inseriu passos
às demonstrações, acrescentou demonstrações alternativas e inseriu alguns
teoremas secundários totalmente novos” (TRUDEAU, 2004, p.36, tradução nossa
do original em italiano)[1].
Não discutiremos
detalhadamente a geometria dos Elementos, exceto o que for necessário para a
explanação do desenvolvimento das geometrias não-euclidianas, mas incluímos
o Quadro 1.1, com a apresentação da axiomática presente no livro I.
Notemos que, embora os
Elementos seja um marco na história da matemática, considerando a época em
que foi escrito, muitos de seus conceitos, embora intuitivos, não foram
adequadamente esclarecidos. Exemplificando, noções como “estar entre”, “da
mesma parte” e “maior que” não foram definidos. É dada grande importância
aos desenhos que, sendo esclarecedores, faziam parte das demonstrações e as
condições de existência de alguns elementos não são garantidas.
Durante mais de 2.000 mil
anos os Elementos foram aceitos como verdades evidentes, mas o V postulado,
por não ser tão evidente como os demais, mesmo na Antiguidade, despertou o
interesse de alguns matemáticos, que acreditavam que o mesmo poderia ser um
teorema, passível de ser demonstrado a partir dos demais. Embora não se
duvidasse de sua veracidade, além de não ser evidente, o seu inverso é um
teorema (Teorema 17), o que contribuiu para se considerar a possibilidade de
sua demonstração. Outro ponto é que, o próprio Euclides, só o utilizou a
partir de sua 29ª proposição, mesmo se, em alguns casos, utilizá-lo em
provas anteriores resultasse em demonstrações mais simples.
Arístóteles |
Para Aristóteles, um
axioma ou postulado deve apresentar simplicidade, prioridade inferencial e
auto-evidência. Observando o Quadro 1.1, podemos constatar facilmente que o
postulado 5, também conhecido como o postulado das paralelas, é bem menos
evidente que os demais. |
Playflair
(1748-1819) o formulou como segue: “Duas retas que se cortam não
podem ser ambas paralelas a uma mesma reta”. Atualmente ele é mais
conhecido como: “Por um ponto fora de uma reta passa uma, e somente
uma, reta paralela à primeira reta dada”.
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Playflair |
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Modelo Axiomático dos
Elementos - Livro I |
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