Este maravilhoso livro
[Elementos] com toda as suas imperfeições, as quais realmente são
desprezíveis quando avaliadas pela época que apareceram, sem dúvida
permanecerá o mais formidável texto matemático de todos os tempos.
Proclus.
Inspirados
em Trudeau (2004), p.117-119, tradução nossa do original em italiano),
introduzimos a seguir o Quadro 1.1, que é a organização da axiomática dos
Elementos. Algumas das lacunas lógicas, comentadas pelo autor, são citadas
na seqüência do texto. Os 48 teoremas apresentados no livro I foram
subdivididos em dois grupos: os que usam o V postulado (ou um seu
equivalente) e os que não o utilizam nas suas demonstrações, para melhor
compreensão da geometria absoluta, a qual será exposta nos tópicos
seguintes.
Embora não utilizaremos a
axiomática euclidiana para elaborar nossas demonstrações, optamos pela
inclusão comentada das mesmas, para que o leitor, caso a desconheça, tenha
oportunidade de leitura, e possa se familiarizar com as inconsistências
lógicas do texto, comparadas com a evolução do rigor na matemática, fato que
culminou em algumas re-elaborações axiomáticas no decorrer da história.
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QUADRO I –
AXIOMÁTICA EUCLIDIANA |
TERMOS
PRIMITIVOS |
01 |
Um ponto é o que não tem
partes. |
02 |
Uma linha é o que tem
comprimento sem largura. |
03 |
As extremidades de uma linha são
pontos. |
04 |
Uma linha reta é uma linha que
repousa igualmente entre as suas extremidades. |
05 |
Uma superfície é o que tem
apenas comprimento e largura. |
06 |
As extremidades de uma superfície são
linhas. |
07 |
Uma superfície plana é uma
superfície que repousa igualmente entre as suas linhas retas. |
TERMOS
DEFINIDOS |
08 |
Um ângulo plano é a inclinação
recíproca de duas linhas que se tocam numa superfície plana e que
não fazem parte da mesma linha reta. |
09 |
Quando as linhas que contêm o ângulo
são linhas retas, o ângulo chama-se retilíneo. |
10 |
Quando uma linha reta, incidindo com
outra linha reta, fizerem dois ângulos iguais, cada um desses
ângulos é reto, e a linha reta incidente diz-se
perpendicular à linha com a qual incide. |
11 |
Um ângulo obtuso é um ângulo
maior que um ângulo reto. |
12 |
Um ângulo agudo é um ângulo
menor que um ângulo reto. |
13 |
Chama-se termo (fronteira)
aquilo que é a extremidade de alguma coisa. |
14 |
Figura
é um espaço, fechado por um ou mais termos (fronteira). |
15 |
Um círculo é uma figura plana,
fechada por uma só linha, chamada circunferência, de forma
que todas as linhas retas, que de um ponto existente no meio da
figura se conduzem para a circunferência, são iguais entre si. |
16 |
O ponto chama-se centro do
círculo. |
17 |
O diâmetro do círculo é uma
linha reta, que passa pelo centro, e termina por ambos os lados na
circunferência. |
18 |
Semi-círculo
é uma figura compreendida entre o diâmetro e a parte da
circunferência, que é cortada pelo diâmetro. |
19 |
Segmento de círculo
é uma figura compreendida entre uma linha reta e uma porção da
circunferência. |
20 |
Figuras retilíneas
são aquelas formadas por linhas retas. |
21 |
As figuras triláteras são
aquelas formadas por três linhas retas. |
22 |
As figuras quadriláteras são
aquelas formadas por quatro linhas retas. |
23 |
As multiláteras aquelas
formadas por mais de quatro linhas retas. |
24 |
Das figuras triláteras, o
triângulo equilátero é a que tem três lados iguais. |
25 |
O triângulo isósceles o que
tem dois lados iguais. |
26 |
O triângulo escaleno o que tem
os três lados desiguais. |
27 |
O triângulo retângulo é o que
tem um ângulo reto. |
28 |
O triângulo obtusângulo é o
que tem um ângulo obtuso. |
29 |
O triângulo acutângulo é o que
tem todos os ângulos agudos. |
30 |
Entre as figuras quadriláteras, o
quadrado é a que é simultaneamente equilátero e retângulo. |
31 |
O retângulo é a figura, que
tem uma parte mais comprida, é retângula mas não eqüilátera. |
32 |
O rombo é uma figura
equilátera mas não retângula. |
33 |
O rombóide é a que, tendo os
lados opostos iguais, nem é equilátera nem eqüiângula. |
34 |
Todas as outras figuras
quadriláteras, que não são as referidas, se chamam trapézios. |
35 |
Linhas retas paralelas são
linhas retas que, estando na mesma superfície plana e sendo
estendidas indefinidamente em ambas as direções, nunca chegam a se
tocar. |
AXIOMAS |
POSTULADOS |
01 |
É possível desenhar uma linha reta
de qualquer ponto para qualquer ponto |
02 |
É possível produzir uma linha reta
finita continuamente numa linha reta |
03 |
É possível descrever um círculo
com qualquer raio e centro |
04 |
Todos os ângulos retos são
iguais |
05 |
Se uma linha reta, cortando outras
duas linhas retas forma, do mesmo lado, os ângulos internos cuja
soma seja menor que dois ângulos retos, então essas duas retas,
prolongadas indefinidamente, encontrar-se-ão no lado no qual a soma
dos ângulos é menor que dois ângulos retos. |
AXIOMAS |
01 |
Coisas que são iguais a uma mesma
coisa também são iguais entre si. |
02 |
Se iguais forem adicionados a iguais,
os resultados são iguais. |
03 |
Se iguais forem subtraídos de iguais,
os resultados são iguais. |
04 |
Coisas que coincidem uma com a outra
são iguais. |
05 |
O todo é maior que qualquer uma de
suas partes. |
TEOREMAS
DEMONSTRADOS SEM O POSTULADO 5 |
01 |
Dada uma reta finita, é possível
construir sobre ela um triângulo eqüilátero. |
02 |
É possível traçar uma linha reta
igual a uma dada linha reta com extremidade num dado ponto |
03 |
É possível dadas duas linhas retas
desiguais, obter da linha reta maior uma parte igual à linha reta
menor |
04 |
(LAL) Se dois triângulos apresentam
respectivamente iguais dois lados e o ângulo compreendido entre
eles, então os demais lados e ângulos serão respectivamente iguais. |
05 |
Nos triângulos isósceles os ângulos
da base são iguais entre si |
06 |
Se num triângulo dois ângulos são
iguais entre si, então, os lados opostos aos tais ângulos são
também iguais entre si. |
07 |
De qualquer extremidades de uma linha
reta dada, chamada base, se conduzem duas outras linhas retas que se
encontram em um ponto; não é possível construir, com os mesmos
extremos e da mesma parte, duas linhas retas respectivamente iguais
àquelas inicialmente construídas que tenham um ponto de
encontro diferente |
08 |
(LLL) Se dois triângulos têm
respectivamente dois lados iguais, e bases também iguais, então
também são iguais os ângulos formados entre os lados iguais
correspondentes. |
09 |
É possível dividir pela metade um
ângulo retilíneo dado. |
10 |
É possível dividir pela metade uma
reta finita dada. |
11 |
Dada uma reta, é possível de um seu
ponto levantar uma perpendicular. |
12 |
De um ponto externo a uma reta
infinita dada é possível levantar uma perpendicular a reta dada. |
13 |
Se uma reta incidindo com uma outra
linha reta, formará com esta, ou dois ângulos retos ou dois ângulos
cuja soma é igual a dois retos. |
14 |
Se por um ponto de uma reta,
concorrem de partes opostas duas retas, fazendo com a primeira reta
ângulos adjacentes iguais a dois retos, as retas, que concorrem para
o dito ponto estarão em linha reta. |
15 |
Se duas retas se intersectam, formam
ângulos opostos ao vértice iguais entre si |
16 |
Em qualquer triângulo, prolongando-se
um dos lados, o ângulo externo é sempre maior que cada um dos dois
ângulos internos e opostos. |
17 |
Em qualquer triângulo a soma de dois
ângulos internos quaisquer, é menor que dois retos. |
18 |
Em um triângulo, o lado maior é
oposto ao ângulo maior. |
19 |
Em um triângulo, o ângulo maior é
oposto ao lado maior. |
20 |
(Desigualdade Triangular): Em um
triângulo a soma de dois lados quaisquer, é maior que o outro lado. |
21 |
Se sobre os extremos de um lado de um
triângulo estiverem postas duas retas dento do mesmo triângulo,
estas serão menores que os outros dois lados do triângulo, mas
compreenderão um ângulo maior do que o ângulo, que fica oposto ao
lado, sobre cujos extremos estão postas as ditas retas. |
22 |
É possível construir um triângulo com
três linhas retas iguais a três outras dadas, entre as quais
quaisquer duas, sejam sempre maiores que a terceira. |
23 |
É possível construir numa reta dada,
e com vértice em um seu ponto qualquer, um ângulo retilíneo igual a
um ângulo retilíneo dado. |
24 |
Se dois triângulos tiverem dois lados
respectivos iguais e ângulos compreendidos entre eles diferentes, o
lado oposto ao ângulo maior será maior que o outro lado respectivo. |
25 |
Se dois triângulos tiverem dois lados
respectivos iguais e o outro lado de um triângulo for maior que o do
outro, o ângulo compreendido pelos lados iguais, que ficar oposto ao
maior lado, será maior do que o outro. |
26 |
(a) (ALA): Se dois triângulos têm
iguais dois ângulos e um lado, comum a eles, correspondentes, então,
os outros lados e o ângulo correspondentes também são iguais
(b) (AAL): Se dois triângulos têm
respectivamente iguais dois ângulos e o lado oposto a um deles,
então, os triângulos são congruentes. |
27 |
Se, quando duas retas são
intersectadas por uma terceira, fizer com elas ângulos alternos
iguais, as mesmas duas retas são paralelas. |
28 |
Se, quando duas retas são
intersectadas por uma terceira, fizer o ângulo externo igual ao
interno e oposto da mesma parte; ou também dois internos da mesma
parte iguais a dois retos, as mesmas duas retas são paralelas. |
31 |
Por um ponto dado fora de uma reta
dada, é possível traçar uma linha reta paralela à reta dada. |
TEOREMAS
DEMONSTRADOS COM O POSTULADO 5 |
29 |
Num plano, uma reta que intersecta duas retas paralelas forma com elas ângulos alternos iguais entre si,
ou
ângulos externos iguais aos ângulos internos opostos da mesma parte,
e finalmente ângulos internos da mesma parte, iguais a dois retos. |
30 |
Retas paralelas a uma mesma reta são
paralelas entre si. |
32 |
(a) Em todo triângulo, se si
prolongar um dos lados, o ângulo externo é igual à soma dos dois
ângulos internos opostos.
(b) Em todo triângulo a soma dos três
ângulos internos do triângulo é igual a dois retos. |
33 |
As retas, que da mesma parte estão
postas entre as extremidades de duas outras retas iguais e
paralelas, são também iguais e paralelas. |
34 |
Os paralelogramos apresentam lados
opostos iguais entre si e são divididos pela diagonal em duas partes
iguais. |
35 |
Paralelogramos que apresentam a mesma
base e estão compreendidos entre as mesmas paralelas são iguais
entre si. |
36 |
Paralelogramos que estão postos sobre
bases iguais, e entre as mesmas paralelas, são iguais entre si. |
37 |
Triângulos com a mesma base e
compreendidos entre as mesmas paralelas são iguais entre si. |
38 |
Triângulos postos em bases iguais e
compreendidos entre as mesmas paralelas são iguais entre si. |
39 |
Triângulos iguais postos sobre a
mesma base, e da mesma parte, estão entre as mesmas paralelas. |
40 |
Triângulos iguais postos sobre bases
iguais, e da mesma parte, estão entre as mesmas paralelas. |
41 |
Se um paralelogramo e um triângulo
estiverem sobre a mesma base e entre as mesmas paralelas, o
paralelogramo é o dobro do triângulo. |
42 |
É possível construir um
paralelogramo, que seja igual a um triângulo dado, e que tenha um
ângulo igual a outro ângulo dado. |
43 |
Em qualquer paralelogramo os
complementos dos paralelogramos, que existem ao redor da diagonal,
são iguais entre si. |
44 |
È possível sobre uma linha reta dada
construir um paralelogramo igual a um triângulo dado, e que tenha um
ângulo igual a outro ângulo retilíneo dado. |
45 |
È possível construir um paralelogramo
igual a uma fiugra retilínea qualquer dada, e com ângulo igual a
outro ângulo dado. |
46 |
Dada uma linha reta, é possível
construir um quadrado. |
47 |
(Teorema de Pitágoras): Nos
triângulos retângulos o quadrado construído sobre o lado oposto ao
ângulo reto é igual a somas dos quadrados construídos sobre os lados
que compreendem o ângulo reto. |
48 |
Se o quadrado feito sobre um lado de
um triângulo for igual aos quadrados dos outros dois lados, o ângulo
compreendido por estes dois lados será reto. |
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Comentários sobre os Elementos:
Sobre as Definições
Agrupamos as definições
do livro I como termos primitivos e termos definidos. O conceito atual de definição (ou termos definidos) é que ela
deve introduzir um novo termo técnico a partir dos termos introduzidos
anteriormente. Sob esse prisma os termos definidos 1,2,3 e 4 não são
definições propriamente ditas. Note que “parte” (em 1.), “comprimento sem
largura” (em 2.) e “assenta igualmente entre” (em 4) são conceitos não
definidos anteriormente, embora sejam “intuitivos”, motivo pelo qual foram
classificados como termos primitivos (que são os termos inicialmente
introduzidos num sistema axiomático material, de conhecimento geral e
universalmente aceitos). Embora Euclides não tenha feito essa segregação,
ele a utiliza segundo os conceitos atuais em suas demonstrações, não citando os termos primitivos para justificar uma passagem da prova.
Pelos termos definidos
podemos notar que pontos, retas e planos são conceitos primitivos,
considerados como entidades ideais. As linhas citadas em 2. podem ser linhas
retas ou curvas (quando o texto se refere à reta, a mesma é citada como
“linha reta”), de extensão finita. Em 3. é explicitada a relação entre ponto
e linha, que neste caso refere-se a segmento de reta. Em 4, temos que “a
menor distância entre dois pontos é uma reta”, expressão criada 50 anos
depois dos Elementos, por Arquimedes. As definições 5., 6. e 7. são análogas
as 2., 3. e 4. para duas dimensões. Em 5. devemos considerar superfície como
podendo ser plana ou curva, com extensão finita. O livro I refere-se somente
a geometria plana, embora muitas de suas proposições se estendem à geometria
espacial.
Da definição 8. à 23.
podemos considerar que, segundo os atuais conceitos, são verdadeiras
definições. Se observarmos que em 8. há termos não definidos anteriormente
como “inclinação”, devemos considerar que podemos reescrevê-lo a partir das
definições anteriores: “um ângulo plano é formado por duas linhas em um
plano as quais se encontram e não se apresentam em linha reta”. Ainda em 8.,
Euclides não cita que as duas linhas são linhas retas, mas somente em um
teorema (livro III, teorema 16) é utilizado ângulo formado por linhas
curvas. De todo modo Euclides ao utilizar a definição 8, redige como sendo
“ângulo plano retilíneo”, que são ângulos cujas medidas estão entre 0º e
180º. Podemos adotar por simplificação somente o termo ângulo como sendo um
“ângulo plano retilíneo”.
Em 11. e 12. notamos que
os conceitos de “ângulo maior” e “ângulo menor”, embora intuitivos, não são
termos definidos. Em 15. temos uma definição de raio. Em 19. os triláteros
são os atuais triângulos. Em 21. temos uma antecipação do teorema 17, o qual
afirma que um triângulo pode ter no máximo um ângulo não agudo.
Sobre os Axiomas
São inicialmente
apresentados 3 postulados e 12 axiomas. A diferença entre postulado e
axioma, não mais utilizada, é que o primeiro refere-se às noções geométricas
e o segundo as noções gerais e os reorganizamos no Quadro I (cinco primeiros
postulados e os cinco primeiros axiomas).
Os postulados 1. e 2. são
ditos postulados “da régua” e o 3. postulado “do compasso”, pois
possibilitam a construção geométrica de linhas retas a partir de pontos,
prolongar linhas retas finitas e construir círculos a partir de seu centro.
Euclides considera como critério de existência a possibilidade de construção
dos objetos. Embora não esteja explícito, nos conceitos atuais, devemos
considerar a construção de uma única reta e de um único círculo,
respectivamente em 1. e 3 e ainda em 2. que se possa prolongar uma reta, o
quanto se queira, em ambos os lados. Observe que por 3. é possível traçar um
circulo com raio e centro definidos, mas não permite traçar um círculo com
raio igual a um segmento dado, ou seja, ainda não é possível transportar um
segmento (que será garantido pelo teorema 2).
Os axiomas, são as noções
comuns, regras gerais relacionadas às grandezas, que na geometria plana são
de três tipos: comprimento de retas finitas, amplitude de ângulos e áreas.
Podemos representar as noções 1., 2., 3. e 5. algebricamente, considerando
a, b, c e d representantes de grandezas homogêneas quaisquer. Em 4. temos um
conceito geométrico qualitativo (coincidência), o da superposição de
figuras, que foi rejeitado por Hilbert. TRUDEAU (2004, p.59) afirma que
Euclides poderia substituir os axiomas 1,2,3 e 5 por uma regra mais geral,
que foi considerada implicitamente: "grandezas geométricas obedecem às mesmas
leis dos números positivos". A superposição de figuras para garantir a
congruência será amplamente questionada na análise de sua obra.
Sobre os teoremas demonstrados sem o quinto postulado
Euclides utilizou o V
postulado somente na demonstração do 29º teorema em diante (até o 48º), com
exceção do 31º.
Em 1. Euclides utiliza os
postulados 1. e 3. para demonstrar que é possível construir um triângulo
eqüilátero. Embora o triângulo eqüilátero tenha sido definido, segundo Euclides, sua existência é garantida por sua construção. E
o mesmo será feito para os demais objetos. Nessa demonstração há a
necessidade de garantir que dois círculos se intersectam em dois pontos
distintos, o que só é evidente na demonstração de Euclides se observamos a
figura. A questão da continuidade (de retas, triângulos, círculos) é
considerada “evidente”, fato muito criticado por seus sucessores.
Em 2. é garantido a
construção, a partir de um ponto, de um segmento igual a um segmento dado,
em uma outra região do plano (transporte de segmentos). Embora não expresso,
esse ponto dado será o extremo do segmento desejado.
Em 4. temos o critério de
congruência dos triângulos Lado-Ângulo-Lado (LAL). Para atualização dos
termos utilizados na definição dada por Euclides, seria necessária a
inclusão da definição de congruência, que deveria substituir o termo “igual”
utilizado nos Elementos. Ainda no teorema 4, ressaltamos que triângulos
iguais (congruentes), são os que apresentam a mesma área.
Na demonstração desse
teorema, Euclides utiliza a Noção Comum 4, que afirma que coisas que
coincidem umas com outras são iguais entre si. Esta é uma das mais
criticadas afirmações dos Elementos, desde o séc. XVI, pois a superposição
de figuras passou a ser encarada como uma experiência sensorial. Nota-se que
Euclides, mesmo podendo utilizá-la em outras ocasiões facilitando as provas
apresentadas, só o fez em dois momentos (Teoremas 4 e 8).
O Teorema 8 apresenta o
caso de congruência Lado-Lado-Lado (LLL).Como já comentado, a demonstração
desse teorema, segundo Euclides, recorre a superposição de figuras (noção
comum 4) mas é possível um outro caminho para prová-lo que seria a
utilização do teorema 23.
Para entender a
relevância do teorema 9, devemos considerar que, para Euclides, a medida de
um ângulo (sua grandeza) só era representável dento da geometria e sua
existência devia ser provada por construção geométrica. Para tanto Euclides
precisou escolher um ponto qualquer pertencente a uma das retas. Os
Elementos não prevê explicitamente a possibilidade de se escolher um
ponto qualquer, seja do plano, seja entre os extremos de uma reta, seja no interior
ou no exterior de um dado círculo ou triângulo ou ainda de uma determinada parte
de uma reta.
O teorema 26 foi
subdividido nas partes a e b, pois apresentam demonstrações distintas, assim
como o teorema 32.
· Sobre os
teoremas demonstrados com o quinto postulado
Os teoremas 29, 30 e o 32
até 48, do livro I, são demonstrados com o quinto postulado (ou com algum
teorema provado com o seu emprego). O teorema 47 é o conhecido teorema de
Pitágoras[1]. Finalmente, na demonstração
do teorema 32, Euclides cita um paralelogramo, sem uma definição precedente.
Segundo Fernández,
Podemos dizer que o rigor da lógica de Euclides se baseia, em muitos casos,
em intuições adquiridas pelo hábito de nossas representações espaciais e que
os Elementos não resolvem satisfatoriamente o problema de fundamentar a
geometria (apresentação de um número suficiente de definições, axiomas e
postulados que servem de base para uma demonstração rigorosa de todos os
teoremas que aparecem). (FERNÁNDEZ, 2004, p.59, tradução nossa do original
em espanhol).
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