Projetos

Certas concepções em história da química tornaram-se tão arraigadas entre os estudiosos que, a partir de um certo momento, deixaram de ser verificadas. Algumas dessas idéias referem-se ao reconhecimento e aos processos de obtenção e utilização de compostos de nitrogênio. Vários pesquisadores chegaram a afirmar que materiais como os nitratos e sais de amônio não eram conhecidos na Antigüidade. Estudos recentes buscaram reconsiderar tais afirmativas, através da verificação de textos originais que mostraram vestígios contrariando essas máximas.

Num primeiro momento a pesquisa nos levará até períodos de grande Antigüidade, vividos em território mesopotâmico. Formulários e receituários concernentes a práticas artesanais, produzidos então, deixam entrever a utilização de materiais desse tipo. Certamente esses conhecimentos devem ter chegado ao mundo persa e daí ao árabe a partir do século IX. No caso do Ocidente Medieval, a manipulação de nitratos passa a ser conhecida com certeza a partir do século XIII. Entretanto, não se sabe ainda por que vias se deu essa transmissão.

A partir do século XV, a produção de salitre intensifica-se e torna-se um grande empreendimento durante o sécuto XVIII. Porém, de forma geral, as práticas tradicionais foram mantidas, bem como permaneceram concepções sobre a matéria baseadas nas qualidades, tanto entre os filósofos mecânicos, quanto entre os paracelsistas do século XVII. Mas, embora o receituário se mantivesse, tal produção solicitou investigaçoes que acabaram desembocando na química moderna. Essa relação oscilante entre química tradicional e química moderna pode ser verificada em dicionários de grande difusão entre os séculos XVIII e XIX.

Assim, com o desenvolvimento do projeto ora proposto, pretende-se analisar as questões acima levantadas, na perspectiva da nova historiografia da história da ciência, por meio da elaboração de um mapeamento de conhecimentos sobre compostos de nitrogênio, desde a Antiguidade até o século XIX, que reflita as possíveis formas de transmissão de conhecimentos sobre os compostos de nitrogênio, suas complexas articulações, bem como as manifestações de rupturas e de permanencias de conceitos sobre a matéria e suas transformações. Pretende-se que tal mapeamento seja apresentado e divulgado na forma de publicações, que contribuirão para aprofundar as discussões, tão raras em nosso país, sobre a história da ciência da matéria, na perspectiva da nova historiografia da história da ciencia.