Depoimentos

 

LEITURA SOBRE MÁRIO SCHENBERG

À LUZ DE UM POETA ECOLOGISTA

 por

Tereza de Oliveira

  

Conheci o trabalho do cientista brasileiro Mário Schenberg através das suas pesquisas sobre partículas elementares, apresentado na cidade japonesa de Kyoto, nos Anos 60; mas foi nos Anos 70, em função das bienais de arte e das causas ecológicas, que o conheci melhor.

 Estou dentro de um avião, e voando para Viena; as estrelas rodeiam-me como partículas cósmicas numa sinfonia transcendental. Enquanto isso, leio o ensaio (que é também palestra) Mário Schenberg - a ousadia do Ser que sabia Estar. E bebo um gole de porto. Sorrio. Pelo subtítulo nem seria preciso perguntar quem é o autor. O meu amigo e mestre JB... Sempre envolvido numa engenharia literária, como escreveu sobre ele o professor Francisco Igreja, o mestre João Barcellos foi buscar um personagem da História brasileira que o apaixonou pelos aspectos filosóficos envolvidos.

É o que sinto ao acabar de ler Mário Schenberg - a ousadia do Ser que sabia Estar. De tão belo e profundo, espero que este texto de João Barcellos chegue rápido às mãos da Juventude brasileira.

Um texto tão apaixonante quanto o personagem estudado. É um pouco como ler o próprio João Barcellos no seu poético, amoroso e muito particular existir. Além da pesquisa - coisa que JB sempre faz informalmente, e que sempre impressiona outros pequisadores pela profundidade que ele atinge, e por isso vira referência - ele toma como alicerces paralelos os poetas Sidônio Muralha, companheiro de Schenberg, Thiago de Mello e Fernando Pessoa, além de um cântico anônimo extraído dos Manuscritos do Mar Morto. E não poderia ser de outra forma, porque a universalidade da obra schenbergiana, como ele escreve, é como a Ciência ecológica: Tudo se relaciona com o Todo. Traçando (e permito-me utilizar aqui esta expressão - traçando - tão cara ao meu amigo e mestre) o perfil schenbergiano embasado na apetência filosófica de pôr a Ciência, no geral, como instrumento do Progresso e não da voracidade destruidora das política bélicas e econômicas. Existimos e transportamos em nós os deuses que a sobrevivência nos impõe, por isso, de alguma maneira, somos espirituais e somos políticos. Esta é a belíssima homenagem de JB à humanidade tão vivida e tão exemplarmente oferecida ao mundo por Mário Schenberg.

Às vezes, as pessoas perguntam-me a idade do meu amigo e mestre João Barcellos, e eu digo, rindo: 40 anos mais novo! Eu tenho 83, estou em 1997, e continuo aprendendo com esses jovens que, como ele, fazem da Poesia a ponte para o Progresso que deverá ter como base a Mentalidade Aberta e Crítica. Por isso, repito: a leitura de Mário Schenberg - a ousadia do Ser que sabia Estar é também uma leitura sobre o próprio João Barcellos. Aliás, é fácil avaliar isto pela leitura da Carta Eco-Política De Um Poeta Amoroso um dos melhores textos de JB entre os muitos que li ou analisei.

Bebo mais um gole de porto. Apetece. Um prelúdio ao concerto da Vida que nem sempre nos aguarda em cada esquina, em cada aeroporto. Sinto este gole espiritual como um brinde a Schenberg e ao jornalismo cultural de João Barcellos (que é o que ele mais faz e prestigia), um mestre respeitado por muitos mestres. E como é bom ter amigos assim... (Tereza de Oliveira, poeta e crítica de arte).

 

O Poeta, O Cientista E Eu

Habituada à escrita técnica, nem me atrevo a olhar uma página em branco, a não ser que se trate de uma curta reportagem ou de uma breve opinião e na maior parte dos casos à margem dos relatórios de pesquisa.

Em conversa telefônica com o escritor e conferencista João Barcellos, em São Paulo, soube, em linhas gerais, de seu trabalho acerca de um cientista e crítico de arte muito querido: Dr. Mário Schenberg. Um mestre uspiano. Fiquei entusiasmada. Em razão do meu trabalho raramente vou em minha casa, na Granja Viana, onde tive vários e bons momentos de erudita conversa com João Barcellos, por isso, quando recebi a sua ligação fiquei contente. Ao saber do trabalho sobre o Dr. Schenberg, ainda mais. Parecia que dentro de mim renascia o espírito do jornalismo internacional que fez de meu pai um militante da imprensa investigativa. E dei comigo a escrevinhar uns garranchos. Como?! Foi uma conversa de cinco minutos... Me dá as informações sobre a palestra porque nessa noite estarei ocupada com meus alunos, pedi. E eu, Joane d’Almeida y Piñon, tomada por uma raríssima febre: escrever, escrever, escrever. O engraçado é que não era só sobre o Dr. Schenberg, senti que havia muita coisa pelas palavras do João Barcellos, esse intelectual luso que conheci em uma conferência que ele dirigiu sobre Poesia, na PUC, em São Paulo, com recital poético de Fernando Muralha. Fui lá convidada por uma amiga muito querida, aliás, contemporânea de Mário Schenberg: a artista plástica Tereza de Oliveira, que foi minha professora de artes. No dia da palestra recebi, por fax, o texto do escritor, e no dia seguinte as informações sobre o evento. Enquanto dissertava sobre Física Teórica, para meus alunos, lembrava-me do Dr. Schenberg e da pintura literária que o escritor luso produziu em seu texto. Escrever, escrever, escrever. Era uma ordem dentro de mim. Li, para mim, e depois para os dezesséis alunos que estavam em meu apartamento, o texto Mário Shenberg – a ousadia do Ser que sabia Estar. E eles, os alunos, aplaudiram. Queremos cópia disso aí, professora, pdiram eles. Era isso. Aquela profundidade que eu tinha sentido na curta exposição que o meu amigo escritor fez para mim ao telefone. Não era um texto qualquer: é a análise e um intelectual habituado ao non sense das coisas precárias (aprendi com ele a usar este tipo deb expressões). E ele utilizou na pesquisa o mesmo processo que pude apreciar na palestra Os Celtas e no opúsculo O Peregrino, ou seja, a dimensão humana do "todo cósmico" que envolve a todos nós. Disso, o Dr. Schenberg foi um paradigma. O poeta João Barcellos sabia que ía encontrar isso na "obra schenbergiana", o que eu não poderia imaginar é que ele iria produzir em uma dúzia de páginas o que muita gente faz em cem ou mais páginas!

Escrevo com a caneta-tinteiro que meu pai me ofereceu há dez anos, quando entrei para o Clube dos Quarenta. E escrevo, escrevo, escrevo. Será verdade? Só mesmo um trabalho sobre Mário Schenberg sob a ótica poético-filosófica de João Barcellos para eu saudar, assim, meu velho e bom pai. Ele, que me dizia: natal é todos os dias. Esta minha escrita, de agora, talvez seja mesmo um natal: os meus alunos aprenderam mais sobre o Dr. Schenberg, na minha leitura do texto de João Barcellos, que em anos de universidade. Mas poucos sabem mexer tão fundo com o Pensamento dos outros... Obrigada, João! – Joane d’Almeida y Piñon (física/psicóloga).

 

 

 

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