Especialista em checagem de fatos avalia plataforma do governo “Brasil Contra Fake”

Especialista em checagem de fatos avalia plataforma do governo “Brasil Contra Fake”

Imagem mostra editora executiva Natália Leal, mulher branca com óculos

Natália Leal, jornalista e
editora-executiva da Agência Lupa.

 

Logo após o lançamento do site “Brasil Contra Fake”, realizado no dia 27 de março, especialistas em desinformação e agências de checagem se manifestaram e avaliaram o site apresentado pela Secretaria de Comunicação Social (Secom). Entrevistamos Natália Leal, que é jornalista especialista em desinformação e diretora-executiva da Agência Lupa para entender melhor a sua avaliação sobre o site e do conteúdo publicado nele.

Quando perguntada sobre como os governos devem atuar e tratar a desinformação Leal defende que, “o governo, como instituição e poder, deve apoiar e encampar campanhas de combate à desinformação, usando sua estrutura para conscientizar a sociedade sobre a importância do tema. Esse papel de defesa institucional da informação verdadeira, checada e de qualidade é fundamental para garantir o desenvolvimento do pensamento crítico e a educação midiática da população.”

Apesar de entender que governos devem atuar no combate fake news, a diretora da Lupa avalia que o site “Brasil Contra Fake” foi lançado como uma “agência de verificação”, o que no seu entender faz com que “[...] o site seja pouco útil e mais contribui para a desordem informacional. O site deveria ser indicado como o que realmente é: espaço de comunicação institucional, propaganda e divulgação de posicionamentos e notas oficiais do governo federal.”

Leal explica que a “checagem de fatos é um gênero jornalístico que se origina na técnica de checagem jornalístico [...] ele tem marcadores discursivos específicos, como as etiquetas de classificação, e técnicas também muito próprias, como a transparência total de fontes e metodologia [...] e o apartidarismo. Caso a produção de conteúdo não siga à risca esses princípios e marcadores, não pode e não deve ser chamada de checagem de fatos, sob pena de contribuir para a confusão informacional da sociedade, que já é bastante acentuada, e impactar negativamente na relação entre o público e o jornalismo.”

A principal crítica dos especialistas em desinformação ao site de combate a fake news criado pelo Secom é exatamente a confusão entre o conteúdo do site ser uma comunicação institucional ou uma checagem, para esclarecer essa avaliação Natália descreve quais são as diferenças do que foi apresentado pelo “Brasil Contra Fake” e o que é checagem de fatos: “A produção do site "Brasil contra fake" não é apartidária, não se conhece sua metodologia e nem se tem acesso às fontes usadas na construção dos conteúdos. Além disso, as informações divulgadas, na maioria das vezes, contam com o governo como única fonte, o que não é adequado, já que o governo é parte interessada nessa divulgação. Já os conteúdos produzidos por plataformas de checagem seguem [...] garantindo o cumprimento da metodologia do fact-checking.”

Outro ponto levantado é a falta de transparência da metodologia usada nos textos publicados no site, a jornalista Natália Leal expõe porque essa característica é importante para a checagem de fatos: “A transparência permite que o público entenda os critérios adotados, refaça o caminho da checagem e cheque ele mesmo o checador. Além disso, a transparência contribui nos processos de educação midiática e de desenvolvimento do pensamento crítico da audiência, pois ajuda a entender como o jornalismo é feito para além de apenas entregar a informação.”

Especialistas também avaliaram que o site não é transparente sobre quem são as pessoas responsáveis pelos textos divulgados e se essas pessoas são profissionais do jornalismo. Natália explica que o trabalho de checagem de fatos exige que seja realizado por jornalista, “porque jornalistas profissionais seguem diretrizes éticas e estão gabaritados para exercer suas atividades conforme os preceitos da profissão, defendendo sempre a divulgação de informações corretas e bem apuradas, contribuindo para qualificar o debate público e empoderar as pessoas para que tomem melhores decisões para si mesmas e para a sociedade na qual vivem.”

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