Diálogos Impertinentes - A RAZÃO 26/03/1996.
Gerd Bornheim e José Miguel Wisnik discutem "A Razão" Estudiosos conversam sobre a racionalidade e seus duplos - Fernando de Barros e Silva - especial para a Folha A razão é uma senhora bem velha, mas a história de sua crise contemporânea tem mais ou menos meio século. Foi equacionada, por exemplo, quando Edmund Husserl escreveu em "A Crise das Ciências Européias" (36) que ela, a razão, apesar do sucesso incontestável das ciências, entrara em colapso. Ou quando Adorno e Horkheimer, com objetivos diversos, apontaram na década de 40 que o mundo totalmente iluminado pela racionalidade resultara numa civilização que era ao mesmo tempo uma nova espécie de barbárie. Se estes são os marcos contemporâneos do debate, não é menos verdade que, de maneira aberta ou velada, há 2.000 anos a noção de razão traz consigo o seu oposto, seja ele o mito, a fé, a loucura, o instinto ou a barbárie. Essa duplicidade que envolve a racionalidade volta à cena amanhã, quando o músico José Miguel Wisnik e o filósofo Gerd Bornheim debatem "A Razão" dentro da série "Diálogos Impertinentes", promovida pela Folha, PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica) e Sesc (Serviço Social do Comércio). "É o pensamento que estabelece o homem no mundo, permite a ele prolongar a sua vida, dominar a natureza, enfim, torná-lo mais humano", diz Bornheim, professor do Departamento de Filosofia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). "A razão é apenas uma das formas que o instinto da inteligência pode assumir, já que, como afirma o poeta Fernando Pessoa, a inteligência é um instinto", afirma Wisnik, professor de literatura brasileira na USP. A mediação do encontro será feita pelo jornalista Caio Túlio Costa, diretor-executivo da Folha Online, e por Mário Sérgio Cortella, professor do Departamento de Teologia da PUC-SP. Segundo Bornheim, além do aspecto teórico, o desempenho prático da razão é central na vida do homem contemporâneo. "Isso dá à razão uma importância e um papel surpreendentes, que nunca existiram na história da humanidade". Segundo Wisnik, o que mais o estimula a debater é justamente a idéia do "diálogo impertinente". "Gosto dessa situação de impertinência, dessa proposta de algo que não cabe, que não pertence, que passa fora do que está delineado." É difícil, afirma o músico, que a "impertinência" proposta pela série realmente se efetive no debate, mas isso deve ser buscado. "Penso no aspecto musical que existe no diálogo, como no jazz, onde os músicos se entendem e se harmonizam a partir do improviso, sem que haja um caminho prévio a ser trilhado", diz. https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1996/3/25/ilustrada/15.html