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A Escola e a Expansão da Internet

Coube à década de 90 a sedimentação da internet como um padrão competitivo de veículo de comunicação, cuja interatividade e simplicidade determinaram também o caminho a seguir para todos os esforços de desenvolvimento de telefonia e telecomunicações. Destarte, muitos projetos educacionais centrados no rádio e na televisão instaurados em fins da década de 90 nasceram, segundo esse prisma, fadados à rápida obsolescência por estarem privados dos conceitos mais amplos da atual engenharia pedagógica, pela qual o uso da interatividade pode ser modelado e servir de plataforma para todos os outros tipos de mídia através de LMS (Learning Management System). TORI(2003) descreve LMS como sistemas,

“... em geral baseados na Web, que se destinam ao gerenciamento eletrônico de cursos a distância. São variados os recursos que oferecem, que podem ir de simples apresentação de páginas de conteúdos a completos sistemas de gestão, incluindo serviços de secretaria e e-commerce. A forma de comercialização mais utilizada é a de licença anual cujo custo pode ser em função do porte da instituição ou do número de alunos que efetivamente utilizarem o sistema...”.

Sistemas de gerenciamento de cursos a distância constituem a extensão do entendimento da escola, enquanto instituto mantenedor e gerenciador do conhecimento formalizado; suas atividades de inscrição, permissão de freqüência, avaliação de competências e atribuição de certificados e comprovantes respondem às necessidades da demanda de mão de obra especializada de uma sociedade anterior à era da informação. Hoje, o setor de serviços, sempre mais flexível no que tange à cobrança de certificação, responde por uma crescente maioria de postos de trabalho disponíveis e permite que a educação informal, porém atualizada sob a forma de cursos livres,de extensão ou apenas de material disponível na internet, tenha um incremento constante de demanda.

Na curiosa economia da informação, “a informação é cara para ser produzida, mas barata para ser reproduzida” (Shapiro e Varian 1999). Esse fato impõe ao professor o ônus de uma produção autoral que, à medida que aumenta a acessibilidade e a interatividade do sistema, fica mais difícil de ser protegida. Em contrapartida, tira da escola e da educação formal o privilégio de ser o pólo disseminador do conhecimento: competências podem ser forjadas da interação on-line de pessoas que compartilham um projeto comum, do qual resulta uma forte concorrência entre a educação informal compartilhada, autodidata e a educação formal voltada para o desenvolvimento de habilidades concernentes ao mercado de trabalho.

Em contraste com a maneira de como se organiza a escola, a internet gerencia a informação de forma descentralizada (Castells 2003) agregando nodos de conhecimento de qualquer parte do planeta, sujeitos a diferentes estruturas e valores sociais. Depreende-se de Castells (2003) que a natureza da internet fornece meios para que se fortaleça a cultura do código aberto (open source), do copyleft (abdicação dos direitos autorais), do software livre (livre da cobrança de licença de uso) e da arte hipermediática de autoria pública inserida na Web arte.

Note-se que a questão exposta não trata do ensino presencial especificamente, mas do ensino formalizado nas instituições que, tradicionalmente, responderam pela educação. Quando se pergunta qual será o papel do professor nesse novo estágio da educação, deixa-se para segundo plano a questão principal, a saber: qual será o novo papel da escola? O sucesso do sistema educacional balizado pelo entendimento comum da escola não é mais inquestionável: assim como outros veículos de comunicação que repousavam incólumes tiveram de ser reformulados em toda a sua estrutura, convém repensar não apenas em como modelar o ambiente telemático à fôrma da escola, mas também no quanto a escola deverá se modificar para compartilhar do ciberespaço. Ainda mais, refletir se essa nova estrutura administrativa dispõe de meios para se tornar economicamente viável.

Grandes transformações do sistema educacional não são, de sobremaneira, inéditas, mas, respaldando-se naquelas ocorridas de fins do século XIV ao início do XVI, podemos concluir que, mesmo sociedades muito pouco maleáveis expuseram-se a grandes mudanças na estrutura educacional quando a demanda sofreu grande alteração de rumo em virtude da conjuntura socioeconômica do período. Delumeau (1984) descreve:

(...)“Nos fins do século XIV, os vários colégios de Paris já não reuniam mais de 450 bolseiros. Mas, nos séculos XV e XVI, eram muito mais numerosos os jovens que procuravam instrução sem pretender ser teólogos, médicos ou mesmo juristas. Eram autorizados, contra pagamento, a assistir, lado a lado com os bolseiros, às aulas dadas nos colégios. Essa massa nova e turbulenta de candidatos à instrução não deixava de ser inquietante. É ela que explica a introdução dos castigos corporais, em vez de multas, nos colégios de Oxford ou de Paris. Em 1503, Standonck esforçou-se em Montaigu por proteger com regulamentos draconianos a devoção e o isolamento dos estudantes pobres e dos bolseiros. Mas estava-se perante uma evolução irreversível. Os externos invadiram os colégios, que tiveram de ampliar-se, de transformar-se, de adoptar uma nova disciplina”(...)

Em outra oportunidade complementa:

(...)“não há dúvida de que o Renascimento assistiu, globalmente, ao declínio das universidades, privadas assim dos seus mais dinâmicos elementos. Os colégios passaram a atrair a massa de jovens que não necessitavam uma formação estritamente especializada.”(...)(Delumeau1984)

 

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