As transformações a que as escolas parecem estar sujeitas implicam também a mudança do status da atividade do professor: a preparação da sua aula terá de ser, muitas vezes, acompanhada da criação de um material didático multimídia, o qual poderá ser disponibilizado num programa de autoria ou num LMS; o acompanhamento dos alunos fora do expediente de aula, antes formalizado sob a forma de um plantão, transforma-se num informal bate-papo num chat ou num fórum: como serão computados os direitos autorais e as atividades extraclasse, quando as sutilezas da informalidade borram a tipificação do que é estabelecido pela legislação? Apesar de desconhecido da maior parte do corpo discente, um movimento contrário à descentralização da informação tem tomado corpo na área jurídica, seja voltado para a criação de novos institutos jurídicos, como os que zelam pela proteção de dados, seja tornando mais rígido o direito de propriedade intelectual.
Se por um lado, essa tendência implicaria no estabelecimento claro da autoria, por outro justifica a rápida expansão dos cursos a distância, tendo em vista que, assegurada a propriedade intelectual, só lhes resta atingir um patamar favorável de fator de escala, pois que, ao contrário do que se poderia imaginar, os seus custos de estrutura e manutenção são muito superiores aos dos cursos presenciais. De fato, por estar diretamente relacionado à tecnologia de ponta, o custo de desenvolvimento de sistemas que subsidiam ambientes telemáticos só pode ser amortizado por um fator de escala de demanda de seus serviços compatível com o dos outros veículos de comunicação, como a televisão e o rádio. De outra forma, os riscos de inviabilidade econômica são muitos e, em decorrência de ser um empreendimento novo, ainda não completamente aquilatáveis. Dessa maneira, o uso do LMS no apoio ao ensino presencial vem, não apenas, responder às críticas dirigidas aos cursos exclusivamente a distancia, seja em virtude de não explorarem a maturidade social desenvolvida no contato presencial, seja por não respeitarem o ritmo individual ou por levarem a educação às raias de se constituir num produto de consumo sujeito meramente às regras do mercado (Olivier 2002); decorre também da necessidade desse tipo de sistema se tornar viável economicamente. Na combinação de esforços gerada pela educação presencial assistida pelo LMS, a evasão (muitas vezes sintomática dos cursos a distância) se reduz, o acesso a todas as atividades extra-aula se torna mais fácil e, conforme Tori (2002), a sensação de distância do curso pode ser fortemente diminuída. Tudo isso alia a administração de uma empresa conhecida e tradicional a um empreendimento novo, virtual e caro, gerando um amálgama palatável ao gosto do investidor. No momento em que se dá a inserção do virtual no presencial, torna-se fundamental a modelagem dos cursos, a análise estatística da navegabilidade dos sistemas gerenciadores e a atualização do design multimídia empregado na abordagem do conteúdo. Para que se possa fazer a modelagem, é relevante definir os objetos de aprendizagem, os quais seriam representados por qualquer entidade, digital ou não, que possa ser referenciada e reutilizada em atividades de aprendizagem.
Ainda que a modelagem facilite a reutilização de conteúdo disponibilizado, diminuindo o tempo de preparação do material multimídia a ser usado num curso, a questão da redução do custo hora/homem não se vê resolvida, em virtude do design aplicado ser um produto de envelhecimento rápido. A cultura hipermediática sempre recorre a uma atualização dos textos, mesmo quando versam sobre o mesmo objeto. Aos desafios apresentados pela conjuntura atual, o professor só poderá responder se tiver desenvoltura no uso de instrumentos de informática, na leitura e na confecção de textos hipermediáticos, na abordagem de temas interdisciplinares e, portanto, se reivindicar meios de dispor de tempo regular para a sua formação continuada. Se novas competências são exigidas do professor para que possa fazer uso conveniente dos instrumentos que a tecnologia tem oferecido para a educação, no que se inclui um acompanhamento contínuo do desenvolvimento dos recursos do ciberespaço, cabe à escola buscar da mesma fonte os meios para discernir o seu papel vindouro enquanto pólo de referência de formação, organização e disseminação do conhecimento, não com a disposição somente de usufruir as novas tecnologias, mas, também, de se remodelar administrativa e pedagogicamente, quando necessário for; e a cada etapa conseguir, ainda, respirar revigorada para enfrentar os novos desafios que lhe serão apresentados sempre. Luís Rogério da Silva é bacharel e licenciado em História e Física pela Universidade de São Paulo. Atualmente, cumpre o programa de mestrado em Lingüística pela mesma Universidade. É professor da Universidade Paulista e, no Departamento de Educação Digital, é autor de inúmeros materiais didáticos voltados para o ensino fundamental, médio e superior nas mais variadas mídias.
|