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As Transformações das Atividades Docentes

As transformações a que as escolas parecem estar sujeitas implicam também a mudança do status da atividade do professor: a preparação da sua aula terá de ser, muitas vezes, acompanhada da criação de um material didático multimídia, o qual poderá ser disponibilizado num programa de autoria ou num LMS; o acompanhamento dos alunos fora do expediente de aula, antes formalizado sob a forma de um plantão, transforma-se num informal bate-papo num chat ou num fórum: como serão computados os direitos autorais e as atividades extraclasse, quando as sutilezas da informalidade borram a tipificação do que é estabelecido pela legislação?

Apesar de desconhecido da maior parte do corpo discente, um movimento contrário à descentralização da informação tem tomado corpo na área jurídica, seja voltado para a criação de novos institutos jurídicos, como os que zelam pela proteção de dados, seja tornando mais rígido o direito de propriedade intelectual.

(...)“Com isso, existe uma crescente pressão para que o Direito intervenha e restaure a situação que existia anteriormente ao surgimento da tecnologia digital e da Internet. ...

... De maneira geral, a balança do direito pende, hoje, muito mais para a proteção dos grandes conglomerados de mídia, que ganham muito dinheiro com a exploração de obras intelectuais, do que para o público em geral, que tem interesse em ver garantido o acesso ao maior número possível de informações, sem ter de incorrer em custos elevados para tanto.”(...) (Lemos 2003).

Se por um lado, essa tendência implicaria no estabelecimento claro da autoria, por outro justifica a rápida expansão dos cursos a distância, tendo em vista que, assegurada a propriedade intelectual, só lhes resta atingir um patamar favorável de fator de escala, pois que, ao contrário do que se poderia imaginar, os seus custos de estrutura e manutenção são muito superiores aos dos cursos presenciais.

De fato, por estar diretamente relacionado à tecnologia de ponta, o custo de desenvolvimento de sistemas que subsidiam ambientes telemáticos só pode ser amortizado por um fator de escala de demanda de seus serviços compatível com o dos outros veículos de comunicação, como a televisão e o rádio. De outra forma, os riscos de inviabilidade econômica são muitos e, em decorrência de ser um empreendimento novo, ainda não completamente aquilatáveis.

Dessa maneira, o uso do LMS no apoio ao ensino presencial vem, não apenas, responder às críticas dirigidas aos cursos exclusivamente a distancia, seja em virtude de não explorarem a maturidade social desenvolvida no contato presencial, seja por não respeitarem o ritmo individual ou por levarem a educação às raias de se constituir num produto de consumo sujeito meramente às regras do mercado (Olivier 2002); decorre também da necessidade desse tipo de sistema se tornar viável economicamente. Na combinação de esforços gerada pela educação presencial assistida pelo LMS, a evasão (muitas vezes sintomática dos cursos a distância) se reduz, o acesso a todas as atividades extra-aula se torna mais fácil e, conforme Tori (2002), a sensação de distância do curso pode ser fortemente diminuída. Tudo isso alia a administração de uma empresa conhecida e tradicional a um empreendimento novo, virtual e caro, gerando um amálgama palatável ao gosto do investidor.

No momento em que se dá a inserção do virtual no presencial, torna-se fundamental a modelagem dos cursos, a análise estatística da navegabilidade dos sistemas gerenciadores e a atualização do design multimídia empregado na abordagem do conteúdo.

Para que se possa fazer a modelagem, é relevante definir os objetos de aprendizagem, os quais seriam representados por qualquer entidade, digital ou não, que possa ser referenciada e reutilizada em atividades de aprendizagem.

(...)“Esse objetivo pode ser buscado por meio de diferentes níveis de padronização, desde o formato de armazenamento de cada objeto até o protocolo de comunicação entre objetos.”(...) (Tori 2003:17).

Ainda que a modelagem facilite a reutilização de conteúdo disponibilizado, diminuindo o tempo de preparação do material multimídia a ser usado num curso, a questão da redução do custo hora/homem não se vê resolvida, em virtude do design aplicado ser um produto de envelhecimento rápido. A cultura hipermediática sempre recorre a uma atualização dos textos, mesmo quando versam sobre o mesmo objeto.

Aos desafios apresentados pela conjuntura atual, o professor só poderá responder se tiver desenvoltura no uso de instrumentos de informática, na leitura e na confecção de textos hipermediáticos, na abordagem de temas interdisciplinares e, portanto, se reivindicar meios de dispor de tempo regular para a sua formação continuada.

Se novas competências são exigidas do professor para que possa fazer uso conveniente dos instrumentos que a tecnologia tem oferecido para a educação, no que se inclui um acompanhamento contínuo do desenvolvimento dos recursos do ciberespaço, cabe à escola buscar da mesma fonte os meios para discernir o seu papel vindouro enquanto pólo de referência de formação, organização e disseminação do conhecimento, não com a disposição somente de usufruir as novas tecnologias, mas, também, de se remodelar administrativa e pedagogicamente, quando necessário for; e a cada etapa conseguir, ainda, respirar revigorada para enfrentar os novos desafios que lhe serão apresentados sempre.

Luís Rogério da Silva é bacharel e licenciado em História e Física pela Universidade de São Paulo. Atualmente, cumpre o programa de mestrado em Lingüística pela mesma Universidade. É professor da Universidade Paulista e, no Departamento de Educação Digital, é autor de inúmeros materiais didáticos voltados para o ensino fundamental, médio e superior nas mais variadas mídias.

 

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