PRAIA DO BRÁS, SÃO PAULO
TRÊS ESTRATÉGIAS PARA PLANEJAR O CAOS
À primeira vista, São Paulo parece uma cidade sem
poder público. O modelo de caos, no qual decisões
individuais determinam o rumo coletivo, se estabeleceu bem aqui.
Uma vez que todo mundo sabe que o governo não faz nada, a
população aprendeu a tomar conta dos próprios
interesses.
A sociedade baseada no individualismo coletivo se manifesta na
paisagem urbana, como por exemplo na ausência aparente de
um espaço coletivo. Nos bairros ricos existem espaços
públicos privados, shopping centers e condomínios
fechados, onde as pessoas podem consumir, se divertir ou encontrar
companheiros com o mesmo poder aquisitivo.
Às pessoas que não usufruem dos serviços fornecidos
pela iniciativa privada, restam para sua interação
social opções como as ruas, os terminais de ônibus
e os espaços religiosos, muito comuns nos bairros mais pobres,
principalmente na periferia.
Ao contrário do Rio de Janeiro, São Paulo é
escassa no que se refere à paisagem natural. Não tem
praias marítimas, quase não dispõe de parques
e, quando é o caso, estes são cercados para impedir
a entrada de mendigos e crianças de rua.
O Brás é um bairro tradicionalmente industrial, desprovido
de shopping centers, condomínios fechados ou parques atraentes.
O espaço público ficou limitado ao asfalto para circulação
e ao cimento para estacionamento, carga e descarga.
Queremos introduzir um novo tipo de espaço coletivo no Brás,
o bairro merece a sua "praia". Temos três estratégias
para conseguir isso.
TRÊS MANEIRAS PARA CRIAR ESPAÇO PÚBLICO
1. Reconquistar espaço
O espaço disponível é completamente tomando
por carros, caminhões e ônibus. Vamos retomar um trecho,
no cinema desativado, que virou estacionamento.
2. Duplo usufruto do espaço (em função do
tempo)
Em frente das lojas há um espaço para estacionar,
para carga e descarga. Fora do horário de expediente, esse
espaço pode ser aproveitado para jogos e esportes: um ginásio
na rua.
3. Criar um novo espaço
A verticalização da rua é a maneira mais drástica
para criar mais espaço. Com uma construção
em forma de uma mesa, podemos até fornecer uma piscina para
o Brás.
1. Reconquistar espaço (Cinestacionamento)
Em 1941, o Cine Piratininga era o maior cinema do Brasil. Hoje,
virou um estacionamento para 120 carros. A cobertura sumiu. As paredes
e o balcão, com espaço para centenas de pessoas, continuam
lá. O nosso cinestacionamento já estava pronto para
usar antes de ter surgido a idéia.
Só falta organizar a programação e a propaganda.
Experiências em Berlim e Roterdam provam que um cinema ao
ar livre ou um drive thru cinema podem ter sucesso comercial. Ainda
sobra espaço para um palco e assim podemos também
organizar espetáculos de teatro, musica ou dança.
Uma parte da platéia pode virar gramado (uma vegetação
extinta há muito tempo no Brás), para que os visitantes
possam sentar ou jogar bola.
2. Uso duplo no tempo (o ginásio na rua)
Onde existe muita atividade durante o dia - carga, descarga, estacionamento
não acontece nada depois do horário de expediente.
Esses lugares, as calçadas largas, ficam vazios depois que
as grades das lojas se fecham. Ficam baldios por mais da metade
do tempo e por isso propomos um segundo uso. Podemos pintar na calçada
as faixas de estacionamento e quadras esportivas que são
usadas nos ginásios: todas com cores diferentes, para futesal,
vôlei, tênis e carros. À noite e aos domingos
têm-se um campo de esportes publico, para a realização
de competições e torneios.
3. Criar um novo espaço (piscinaduto)
Se não existe mais espaço publico disponível,
podemos criar mais, verticalizando. Uma rua em cima de uma rua.
A plataforma que comumente é instalada na Av. Paulista durante
a época do Natal pode muito bem ficar "estacionada"
durante o resto do ano na Av. Rangel Pestana. Aqui vamos inaugurar
a nossa piscina do bairro, com uma prainha de área branca,
palmeiras e um bar aberto para todos.
Bosque do Brás
As três intervenções propostas se localizam
ao lado do viaduto sobre a ferrovia, que vai até a Estação
Brás / Roosevelt e o Largo da Concórdia, o shopping
dos pobres. O viaduto é a entrada nobre da nossa "praia".
Vai ser plantada com um renques de palmeiras imperiais dos pobres:
bambu. As barracas de comida existentes em baixo do viaduto continuam
ali e vão formar uma bela praça de alimentação
do Bosque do Brás.
SOS Criança: manutenção e programação
O "gerenciamento" da Praia do Brás estará
nas mãos da SOS- Criança. A sede da organização
é na Av. Rangel Pestana, no mesmo quarteirão que o
Cinestacionamento. As criança são os verdadeiros especialistas
em espaços públicos, uso múltiplo de espaço
e programação alternativa para o domínio coletivo.
São os nossos principais usuários e também
podem montar a programação de esportes, teatro, cinema
e outras manifestações. A SOS Criança organiza
cursos profissionalizantes que podem tornar-se fornecedores de serviços:
cabeleireiro, gráfica, cinematografia, ateliê de costura
e escola de teatro.
Schie 2.0 e Urban Fabric
Ton Matton, Lucas Verweij, Jan Konings, Stefan Werrer, Morgan Lumen
e Paul Meurs
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