O projeto apresentado por Schie 2.0 e Urban Fabric,
grupos de arquitetos holandeses, pretende discutir a questão
do espaço público na metrópole contemporânea.
O ponto de partida é o antigo cinema Piratininga, na Rangel
Pestana (a Zona Leste já teve uma das maiores concentrações
de salas de cinema da cidade), hoje convertido num estacionamento.
A proposta consiste em transformar parte do cinema num gramado
(e eventualmente realizar projeções) e estender esta
metamorfose ao entorno: instalar (com pintura no chão) quadras
de futebol e pistas de skate nas ruas adjacentes, além de
uma piscina suspensa sobre a avenida. A própria condução
das atividades nestes espaços metamorfoseados ficaria por
conta da comunidade: uma organização de auxílio
às crianças de rua da área.
Uma das mais marcantes características do pensamento urbanístico
que hoje floresce na Holanda é o pragmatismo. A capacidade
de reconhecer e operar com a cidade que existe, potencializando
situações e equipamentos já instalados. Ao
invés de trabalhar com modelos ideais, desenvolvendo críticas
a partir da pressuposição do que poderia Ter sido,
trata-se de lidar com a cidade real.
Schie 2.0 e Urban Fabric partem da situação criada
pelo corredor viário e o comércio de baixa qualidade
que proliferou ao redor. O viaduto, um dos fatores da deterioração
local, é integrado ao espaço urbano como suporte de
uma praça de alimentação. Novas funções
são dadas a equipamentos subutilizados, como a plataforma
da decoração de Natal.
Atividades comerciais são previstas em locais abandonados,
lazer é programado em áreas de pouco uso nos fins
de semana. O princípio é ativar esses espaços,
dinamizar sua ocupação. O terrain vague não
é visto como um vazio, mas um campo a ser intensificado.
A intervenção visa fazer cidade, centro de comércio,
cultura, lazer e vida social.
O ciclo mais recente de reestruturação urbana, com
grandes projetos de desenvolvimento implantados pelo capital internacional,
integrando programas comerciais, habitacionais e de lazer em megaestruturas,
suprimiu toda veleidade de restaurar os antigos espaços públicos.
As iniciativas feitas nesta direção, nas últimas
décadas, revelaram-se apenas um modo de revalorizar investimentos
imobiliários e excluir a população local. Este
projeto, na sua aparente precariedade, lidando com os usos e condições
vigentes, denuncia as estratégias revitalizadoras oficiais
e, ao mesmo tempo, sugere estratégias locais de contraposição
à apropriação corporativa do espaço
público.
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