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Cor, Cordis

Cor, Cordis é a transformação da caixa d'água que está situada na fachada lateral de um dos prédios do SESC Belenzinho em orgão/motor de um sistema simulado de circulação extra-corpórea, para metaforizar a ativação do edifício.

Projeto

A invenção e o planejamento de Cor, Cordis se fundamentam nas assunções de uma visualidade construída, mas inseparável das especificidades do lugar onde se situa a caixa d'água. Portanto, os instrumentos primeiros foram as tomadas fotográficas e as inúmeras medições da fachada, para estudo das diversas possibilidades da visualidade imaginada. Deles se originaram alguns desenhos e montagens fotográficas que, por sua vez, informaram a elaboração de um modelo digital capaz de simular, em escala, operações a serem depois reproduzidas no espaço real .

As operações implicadas

Algumas dessas operações serão transfomações de elementos existentes no lugar- tais como o próprio corpo da caixa d'água e todo o sistema de tubos e canos que a atravessam. Outras, de natureza gráfica, a serem construídas no real, são o resultado de uma projeção perspectivada e distorcida da própria caixa d'água, que se adere na fachada e ainda -artificiosamente- como um misto de sombra e fluido- vai penetrar pelas janelas de um dos andares da antiga fábrica, para se espalhar pelo chão e paredes.

O que existe no lugar

A caixa d'água:

Originalmente conectada `a construção industrial por uma rede de tubulações, a caixa d'água, agora desativada e de aspecto abandonado, deverá ser limpa (com jato de água) para que a aparência ascéptica (re)adquirida possa diferir do estado atual de deterioração da fachada da construção industrial sem uso.

A base:

Para melhor funcionar como motivo destacado que desencadeia o evento "circulatório", os pilares de sustentação da caixa d'água se constituirão nas arestas para a construção de uma espécie de cubo fechado, semelhante a uma base para escultura que dê destaque ao objeto superposto.. A particularidade dos planos desta base é que devem secionar e incluir todas as ferragens existentes no local, algumas ali dispostas por acaso, sempre e quando intersectarem o cubo construído. As medidas externas desta base estão dadas pelo afastamento e altura dos pilares de sustentação da caixa d'água.

A tubulação:

A malha complexa de diferentes tubos e canos que chegam ao espaço onde se situa a caixa d'água, por vezes penetrando nela e também na fachada, permite a analogia visual direta com uma configuração de veias, artérias e válvulas no interior do corpo. A sugestão de circulação dentro desta tubulação, num "crescendo" a medida que se aproxima do lugar do bombeamento, é essencial para a apreensão da metamorfose da caixa d'água em coração extirpado, fora do corpo do edifício. Para enfatizar esta relação, todos os tubos metálicos (bem como as ferragens intersectadas pelo cubo/base) deverão ser pintados com esmalte acetinado vermelho escuro, conforme indicação precisa de matiz e tonalidade.

O que será construído no lugar:

A silhueta sombreada:

A projeção sombreada que parte do chão junto `a base e se expande verticalmente pela fachada foi elaborada digitalmente como silhueta escura e perspectivada, gerada pela sombra da caixa d'água. A solução gráfica, entretanto, provém do recurso a uma dupla projeção: - em primeiro lugar, a da caixa d'água sobre um plano inclinado qualquer, imaginário, produzindo uma sombra distorcida, com visualidade próxima `as que são projetadas no chão por um objeto vertical; - em segundo lugar comparece a projeção desta mesma sombra distorcida sobre o prédio, como se ela própria fosse o objeto interposto entre a fonte de luz e o edifício, ocasionando nova distorção sobre a fachada. No primeiro caso se subtraiu o edifício, como anteparo para a projeção: só contou o objeto e o plano; no segundo, é a própria caixa d'água o elemento subtraído: só contam a sombra e o edifício. O recurso `a dupla projeção torna a silhueta de Cor, Cordis a sombra de uma sombra, como uma anamorfose, em artificialização crescente com relação `a sua origem. Também importou aqui a particularidade de fazer coincidir conceitualmente o plano inclinado imaginário que atravessaria o edifício (e que foi o suporte da primeira projeção de sombra) com a seção (também imaginária) a ser feita no mesmo andar em cujo interior se vai rebater e "derramar" a projeção perspectivada da caixa d'água.

Na fachada do prédio:

A forma da silhueta sombreada digitalmente produzida deverá ser mapeada para transposição de seu contorno na fachada e ainda poderá ser ampliada (em papel) até o tamanho real, para auxiliar na produção de máscaras a serem afixadas no concreto, janelas e vidros existentes. A execução será feita na forma de revestimento de quartzo de tonalidade escura, conforme um matiz indicado (vermelho ou azul).

No interior do prédio:

No terceiro andar, na área interior que confina com as janelas (atualmente vedadas com tijolos) a projeção aderida `a fachada deve coincidir com outra idêntica, ocasionada pela hipótese de duas situações espaciais combinadas: de um lado, que a fachada vertical se rompe numa certa altura e de outro, que por esta fresta no espaço se "coa" um rebatimento , em 90 graus (para "cair" no plano horizontal), da parte superior da sombra que estaria anteriormente apenas sobre a fachada. Para que esta noção possa ser efetiva, a projeção sobre os vidros deve coincidir exatamente- dentro e fora do edificio - por meio da simples superposição do revestimento utilizado. Depois, a silhueta do interior descerá pelo parapeito interno das janelas em direção ao chão, e dali se expandirá para o interior da sala, onde reproduzirá, com outra configuração, a parte superior da sombra da caixa d'água lá fora- agora em "vazamento" para dentro do prédio. O revestimento em quartzo pode ser aplicado com o auxílio de máscaras confeccionadas segundo a configuração digital, no tamanho requerido e em cor semelhante `a da projeção de sombra realizada externamente.

Na base da caixa d'água:

Um simples revestimento executado em quartzo, de coloração semelhante à da caixa d'água- depois de limpa - vai conferir uma totalidade adequada ao objeto que é o motivo central de Cor, Cordis. O suporte para o quartzo é a construção cúbica realizada em chapas de compensado de madeira, tal como referida anteriormente.

Regina Silveira