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Da Escrita ao Design

Construir websites é uma atividade complexa, que envolve, segundo Garett (2000), ao menos cinco planos de elaboração: o plano das necessidades dos usuários e objetivos do website, o plano das especificações funcionais e de conteúdo, o plano da arquitetura da informação e do design de interação, o plano do design da navegação e da estruturação da interface e, finalmente, o plano do design visual. Não sem motivo, a construção de websites profissionais requer a montagem de grupos de pessoas com expertise em cada uma dessas áreas. Logo, não se pode esperar de um usuário iniciante que dê conta de tal tarefa autonomamente, mesmo que disponha de sofisticados programas de edição tais como o popular Dreamweaver12. Conseqüentemente, a proliferação espetacular de páginas da Web produzidas por não-profissionais que presenciamos nos últimos anos pode ser explicada pela disponibilidade de recursos que permitem ao designer não profissional focalizar esforços em alguns dos itens listados por Garett (2000), utilizando soluções automáticas e padronizadas para os planos restantes.

Gerenciadores de blogs (Blogger13, Movable Type14, Blosxom15 e outros) assim como gerenciadores de conteúdo tais como Zope16 e a plataforma Wiki17, permitem que iniciantes contribuam colaborativamente na produção de um website fornecendo apenas o texto escrito, muitas vezes sem formatação, e deixando a cargo do sistema – ou melhor, de um conjunto de opções pré-determinadas oferecidas pelo sistema – o design visual, a estruturação da interface, o design da navegação, etc. Ao participar do processo de publicação de conteúdo através dessas ferramentas, o iniciante pode ir-se habituando à mecânica de atualização de arquivos online, às questões de privacidade e propriedade intelectual, e outras habilidades afetas à construção de websites, e ganhando paulatinamente acesso a outros recursos que lhe permitirão, eventualmente, lidar de forma mais autônoma com as questões de design visual, de interação e de navegação.

Além de blogs e gerenciadores de conteúdo, também os editores de texto, editores de apresentações e planilhas eletrônicas, usualmente estão disponíveis em nossos computadores pessoais, podem ser utilizadas para montagem páginas da Web sem que o designer necessite compreender o funcionamento da linguagem HTML (Hypertext Markup Language), usada por programadores e webdesigners para criar hiperdocumentos. Um documento editado no software de editoração Word, da Microsoft, por exemplo, pode ser transformado em um documento HTML automaticamente através da funcionalidade “salvar como página da Web”. O mesmo pode ser feito com softwares de apresentação, por meio dos quais é possível inclusive publicar-se conteúdo multimídia e animações. Também as planilhas de cálculo têm funcionalidades compatíveis com programas de navegação que permitem ao professor e aos aprendizes criar atividades de reconstrução textual transponíveis automaticamente para o ambiente da Web. Embora uma página da Web editada dessa forma tenha varias desvantagens técnicas, tais como a falta de compatibilidade com certos programas de navegação e o tempo excessivo de carregamento, a familiaridade do usuário iniciante com esses programas permite que ele contorne certas lacunas de conhecimento para dar à sua página a aparência e as funcionalidades que deseja. Se por um lado este tipo de estratégia não ajuda o iniciante a adquirir o conhecimento necessário para uma atuação mais autônoma, por outro lado permite-lhe focalizar esforço em outras habilidades importantes tais como as decisões afetas à estruturação do texto em lexias, a seleção das opções de navegação e a combinação de diversas modalidades semióticas numa mesma superfície textual.

Ainda um outro passo intermediário na direção ao domínio de softwares profissionais de edição de páginas da Web pode ser dado com a ajuda de editores de HTML simplificados tais como Coffee Cup18 e Hot Dog PageWiz19. Programas deste tipo permitem ao designer iniciante selecionar, dentre um conjunto de modelos, ou “templates”, diversos elementos visuais e estruturas de interface a serem posteriormente integrados automaticamente. Também neste caso o desenvolvimento da autonomia do designer iniciante não é particularmente favorecido. Porém, editores simplificados tem a vantagem de introduzir o usuário nas práticas de webdesign de forma assistida ao explicitarem, melhor do que os softwares de editoração, as etapas envolvidas na criação de sites e os tipos de decisões que designers profissionais necessitam tomar na sua atividade. É tentador, embora não rigorosamente adequado do ponto de vista teórico, propor uma analogia desse processo com aquele pelo qual crianças adquirem a habilidade de formular narrativas, experimentando combinações mais ou menos bem sucedidas de formas de estruturação, temas, recursos expressivos, etc., até que lhes seja possível eventualmente, formular, tão autonomamente quanto possível, narrativas “originais” e reconhecidas como tal por quem as ouve.

Devemos ter clareza sobre o fato de que mesmo usuários profissionais de programas como Dreamweaver não são totalmente autônomos na sua prática, tendo em vista que estão sujeitos a regras de uso e lógicas de estruturação da informação impostas pelos construtores do aplicativo. Contudo, devemos supor que, ao galgar diferentes etapas contornando lacunas de conhecimento por meio da ação efetiva, o indivíduo estará desenvolvendo uma espécie de competência estratégica que lhe será útil seja qual for o nível de autonomia que venha a atingir.


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Notas

12 Mais informações disponíveis em http://www.macromedia.com/software/dreamweaver/
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13 Mais informações disponíveis em http://new.blogger.com.br
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14 Mais informações disponíveis em http://movabletype.org/
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15 Mais informações disponíveis em http://www.blosxom.com/
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16 Mais informações disponíveis em http://www.zope.com/
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17 Mais informações disponíveis em http://www.wiki.org
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18 Mais informações disponíveis em http://www.coffeecup.com/
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19 Mais informações disponíveis em http://www.sausage.com/hotdog-pagewiz.html
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