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Da Escuta à Investigação

A Internet é um ambiente polifônico por excelência e, como tal, amplia a capacidade de professores e aprendizes de obter input abundante e variado sobre quaisquer temas que lhes interessem. Mais do que a abundância, interessa-nos aqui ressaltar a diversidade desse input, que se apresenta por meio de diferentes gêneros e variedades lingüísticas raramente acessíveis através de materiais didáticos tradicionais. Tal diversidade está expressa também no tipo de mediação eletrônica que permite ao usuário ter acesso à fala do outro. Motores de busca como Dogpile32 são capazes de localizar grandes quantidades de arquivos de áudio e vídeo digitais em diversos formatos e padrões de compactação. Assim, ao mesmo tempo em que o acesso à língua-alvo como é falada em diversas comunidades está mais fácil33, essa acessibilidade está condicionada ao domínio de detalhes técnicos tais como o tipo de arquivo compatível com cada programa de execução e os padrões de compactação que preservam mais a qualidade original dos excertos.

Além disso, assim como acontece no caso do texto escrito, é crucial que o indivíduo que procura material audiovisual utilize estratégias metacognitivas para determinar até que ponto o input obtido é de fato autêntico, confiável e legalmente accessível. Nesse sentido, especialmente, há um papel de destaque a ser exercido pelo professor, o qual embora muitas vezes não disponha do conhecimento - ou do equipamento - necessários para manipular arquivos de áudio e vídeo, certamente está em melhor posição para julgar a relevância e a confiabilidade do input com base em seu maior repertório de estratégias metacognitivas, assim como na sua experiência de vida e conhecimento de mundo.

São também esse repertório e essa experiência de vida do professor, em muitos casos, que lhe permitem atuar como um elemento mediador capaz de minimizar ruídos e instaurar harmonia na multiplicidade de vozes a que os aprendizes estão expostos. Não se trata de eliminar vozes dissonantes ou discursos não valorizados, como fazem tantos livros didáticos, mas de conciliar as dissonâncias entre tantas vozes auxiliando o aprendiz na construção da habilidade para lidar com múltiplas perspectivas em domínios do conhecimento complexos e pouco-estruturados como os que se nos apresentam no mundo real.

Entre as muitas "falas" que ecoam pela rede, há também aquelas produzidas por motores de inteligência artificial (IA) denominados "chatbots" (ou simplesmente "bots"), como A.L.I.C.E.34 (Figura 6) e Pixelbot35. Embora a validade deste tipo de recurso para a aprendizagem de línguas seja discutível do ponto de vista "psicométrico", é interessante notar que, no futuro, uma habilidade importante para aqueles que "garimpam" input na rede será, provavelmente, a de julgar o grau de naturalidade, coerência e intencionalidade com que esses mecanismos são capazes de interagir na língua-alvo como forma de aferir-lhes a confiabilidade como fontes de informação lingüística e cultural. O chatbot, A.L.I.C.E., por exemplo, é capaz de reconhecer diferentes graus de cordialidade nas perguntas formuladas pelos usuários, ou de reagir com rudeza quando o usuário utiliza linguagem chula.

 

Figura 6 - Interface do "chatbot" A.L.I.C.E, que permite ao internauta "conversar" com um software de inteligência artificial.

 

Como nos casos mencionados anteriormente, devemos supor que essa habilidade estará sempre mais ligada ao uso adequado de estratégias cognitivas e metacognitivas do que à posse de determinados aparelhos ou ao conhecimento de linguagens de programação.

 

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Notas

32 Mais informações em http://www.dogpile.com/
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33 Ver, por exemplo, o repositório "International Dialects of English Archive", disponibilizado pela Universidade do Kansas (E.U.A) em [http://www.ku.edu/~idea/]
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34 A.L.I.C.E. é um "bot" (robô) criado pelo grupo da ALICE A.I. Foundation, uma organização que se dedica ao desenvolvimento da linguagem AIML (Artificial Intelligence Markup Language). Informações sobre o robô e a fundação estão disponíveis em http://www.alicebot.org . É possível "conversar" com A.L.I.C.E. em http://www.pandorabots.com/pandora/talk?botid=f5d922d97e345aa1
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35 "Bot" que utiliza a linguagem AIML e se expressa em português, desenvolvido na Universidade Federal de Pernambuco. É possível "conversar" com Pixelbot em http://150.161.189.220/pixel/
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