O que Guy Debord nos diz sobre desinformação?

O que Guy Debord nos diz sobre desinformação?

O autor de A Sociedade do Espetáculo cunhou o termo pela primeira vez em seu livro publicado em 1967


Por Beatriz Porto,
Especial para PUC CHECK


Em seu livro Debord introduz o termo “desinformação” como o mau uso da verdade. Para ele, a desinformação deve fatalmente conter uma certa parte de verdade, mas deliberadamente manipulada por um hábil inimigo, explica. Desde o lançamento do livro e em conjunto a divulgação da expressão, cada vez mais pesquisas têm sido feitas e outras maneiras de pensar a desinformação vêm se popularizando. O documentário lançado em 2021, “A Verdade da Mentira”, produzido pelo History Channel, traz depoimentos de diversos profissionais da comunicação a respeito da disseminação de notícias falsas. De acordo com o jornalista Pedro Doria: no fim das contas o que a fake news faz, muito mais do que enganar pessoas, é confirmar a sensação que aquela pessoa tem a respeito da sua visão de mundo, declara no minuto 4:38 da produção. Além da tentativa de popularizar cada vez mais a ideia de desinformação, o documentário procura desmistificar o processo de checagem de fatos. Assim como o conceito de desinformação, Debord também introduziu o conceito das etiquetas de verificação usadas hoje em dia pelas agências de checagem.

Em A Sociedade do Espetáculo, Guy Debord expõe: Há mais de cem anos, o Nouveau dictionnaire des synonymes français, de A.-L. Sardou definia as nuanças que é preciso definir entre falacioso, enganador, impostor, sedutor, insidioso, capcioso. No livro, o autor detalha cada uma das palavras da seguinte forma:

 

Enganador

O que é feito para enganar, iludir, levar ao erro com o intuito determinado de enganar com artifício;

Impostor

Designa todos os tipos de falsas aparência, ou de tramas combinadas para enganar ou prejudicar;

Sedutor

Expressa a ação específica de apoderar-se de alguém, desviá-lo por meio de recursos habilidosos e insinuantes;

Insidioso

Marca apenas a ação de armar com perícia armadilhas e fazer com que alguém caia nelas;

Capcioso

Limita-se à ação sutil de surpreender alguém e fazê-lo cair em erro;

Falacioso

Reúne quase todas essas características.


A partir disso, notamos a similaridade com os atuais modelos de etiquetas usados pelas agências Lupa, Aos Fatos, Comprova e Fato ou Fake do G1, por exemplo, para classificar a veracidade das notícias que circulam na internet.


AGÊNCIA LUPA

Falso

Informação incorreta;

Contraditório

Informações contraditórias divulgadas pela mesma fonte;

Verdadeiro

Informação correta;

Ainda é cedo

Informação que pode ser verdadeira em algum momento, mas ainda não é;

Exagerado

Informação correta, porém com citação de dados acima da realidade;

Subestimado

Informação correta, porém os dados reais são acima do valor citado;

Insustentável

Dados públicos não corroboram a informação;

Verdadeiro, mas…

Informação correta, porém sem detalhamento;

De olho

Informação em monitoramento.


AOS FATOS

Verdadeiro

Informação coerente com os fatos;

Não é bem assim

Informação fora de contexto e/ou manipulada;

Falso

Informação não condizente com os fatos.


COMPROVA

Enganoso

Informação retirada de contexto para manipulação e, claro, enganação;

Falso

Informação falsificada e não condizente com a realidade;

Sátira

Memes e conteúdos humorísticos em geral que estejam sendo tomados como verdade;

Comprovado

Informação comprovada como verdadeira.


FATO OU FAKE

Fato

Informação totalmente verídica;

Não é bem assim

Informação com partes de verdade, porém distorcida;

Fake

Informação não baseada em fatos.


Embora cada agência tenha um método de classificação, uns mais complexos e outros mais simples, a importância do acompanhamento de pelo menos uma dessas agências garante que os internautas possam manter-se devidamente informados diante da estonteante quantidade informações que saem todos os dias a todo momento.

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