Número 24, Julho - Dezembro/2021
ISSN: 1984-3585
 
 

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"Antropocentrismo em crise", organizado por Marina Fuser - Call for Papers n. 24 (jul./dez. 2021)

A TECCOGS - Revista Digital de Tecnologias Cognitivas, do programa de Estudos Pós-Graduados em Tecnologias da Inteligência e Design Digital da PUC-SP, mantém aberta a sua chamada de artigos, relatos de pesquisa de campo, entrevistas, resenhas e traduções que se enquadrem nos dossiês apresentados abaixo, bem como nas linhas interdisciplinares apontadas na proposta geral da revista. Pesquisadores interessados em submeter trabalhos que se adequem aos temas a seguir devem encaminhá-los, seguindo as normas de envio, para teccogs@pucsp.br. Os textos serão recebidos e selecionados pelo editor convidado do respectivo número e pelo editor executivo da revista.

O Antropocentrismo tem sido posto em xeque no campo dos estudos culturais e antropológicos com bastante vigor, principalmente com a crise que se instaurou a partir dos anos 1960, que tem como eixo a representação da alteridade e da autenticidade nos estudos etnográficos, como apontam James Clifford e George Marcus em Writing Culture Debates (1986). Com efeito, o pós-1968 lançou nova luz sobre a maneira de se falar de outros povos, outras existências, e refletir as diferenças que o Humanismo até então deixou de fora.

O Homem Vitruviano (Braidotti 2013, Haraway 2016), a imagem que melhor catalisa o Antropocentrismo com os traços de Leonardo da Vinci, que afigura um homem ocupando o centro da esfera do universo corresponde a um pilar da Modernidade, de repente é posto de cabeça para baixo. Com As Palavras e as Coisas: Uma Arqueologia das Ciências Humanas (2001), Michel Foucault faz a pergunta seminal para abalar as frágeis paredes do humanismo clássico: “O que conta como humano?” Esta pergunta provoca abalos sísmicos pelo que está fora dessa premissa, ou seja, o que se difere, em níveis e escalas, do homem branco, heterossexual, europeu. A crise do Antropocentrismo abre um imenso leque de perspectivas que se desdobra entre a antropologia, a biologia, a semiótica, os estudos pós-coloniais, o feminismo, a filosofia, estudos tecnológicos, a linguística, etc. Foucault abriu uma caixa de Pandora, onde são jogados os monstros, os anômalos, os animais, as plantas, os fungos, os estrangeiros, os não brancos, as mulheres, os homossexuais, os transexuais e até os robôs. Esta crise, nas palavras de Eduardo Viveiros de Castro nos aproxima do ‘alienígena’, particularmente de ‘alienígenas’ terráqueos, que coabitam o planeta, sendo humanos e não-humanos, mas são mais ou menos desprezados pelo estatuto antropocêntrico: “nosso imaginário do ‘humano’ incorporou a figura maximamente outra do ‘extraterrestre’ ou ‘alienígena’.” Rosi Braidotti desloca a figura humana do epicentro do universo do Homem Vitruviano de Da Vinci para um “Zoocentrismo”(2013), com toda uma fauna ocupando este centro. Haraway alterna esta imagem com a figura de um cachorro, ou de um gato, sugerindo a centralidade de espécies companheiras.

Dos múltiplos processos que desencadearam desta crise do Antropocentrismo, a tendência que mais se sobressai pela atualidade e a ampla abrangência de campos do saber é o Antropoceno. Ros Gray e Shela Sheikh definem Antropoceno como “a proposta científica de que a terra entrara numa nova era, resultante da atividade humana” (2018), pela superexploração dos recursos naturais, humanos, animais e dos bens duráveis, cujas consequências mais sentidas são erosão do solo, o aquecimento global, a extinção de múltiplas espécies e a ameaça apocalíptica que paira sobre a vida na terra. O termo não é o primeiro e tampouco o único a problematizar a finitude dos recursos terrestres, mas como aponta Katie King, o Antropoceno propicia um discurso prolífico que atravessa diversas áreas e contextos entre as ecologias políticas contemporâneas. (2014) O Antropoceno tornou-se um trend topic, uma palavra da moda, estampada na capa de jornais científicos (Global Change, Scientific American, Nature, etc.), periódicos e em veículos internacionais de notícias como o New York Times e The Economist. O termo tem gerado expressões estéticas, como a “geopoética” teorizada por Angela Last. (2017) Ana Tsing (2015) vai além, em seus estudos de fungos, que mostra toda uma arquitetura de teias e filamentos que configura conexões vitais entre os elementos da natureza, dotados, por assim dizer, de agência, num sentido que não passa pelo humano.

Nos deparamos com a emergência de novas ontologias, novas perspectivas dos seres como partes de um todo que desloca o centro de gravidade desse humano conquistador, colonizador e devastador dos solos. Estudos feministas e pós-coloniais resgatam cosmologias perspectivistas (Viveiros de Castro), pós-humanismos (Braidotti) e devires ciborgues (Haraway) que compreendam novas alianças, visando outros estatutos entre espécies, um tratamento responsável da terra e um desenvolvimento tecnológico que nos ajude a superar o caminho pantanoso que a humanidade vem trilhando, e submetendo toda a vida na terra.

emas relacionados (ou propostas semelhantes):

- Antropocentrismo e novas ontologias;

- A IA e o Antropocentrismo;

- O Antropoceno e a emergência de novas tecnologias;

- Devires não-humanos: vegetais, animais ou robôs;

- Ecopolítica e Cosmopolítica;

- Perspectivismo, ecologias e tecnologias;

- Pós-Colonialismo e Antropoceno / Antropocentrismo;

- Eco-Feminismo na era digital;

- Cibercultura e Antropocentrismo;

- Fontes renováveis de energia e Antropoceno;

- Pós-humanismos;

- Novos Materialismos e o Antropocentrismo;

- Espécies companheiras e novos vínculos do humano.

A revista aceita submissões em português, espanhol ou inglês. O título do artigo e o resumo (até 200 palavras + cinco palavras-chave) devem ser enviados até o dia 30/04/2021. Os artigos completos devem ser enviados até o dia 31/05/2021 para os e-mails teccogs@pucsp.br e marinacfuser@hotmail.com, com o assunto “Submissão para n. 24”.

Referências bibliográficas:

BRAIDOTTI, Rosi. The Posthuman. Cambridge: Polity Press, 2013.

CLIFFORD, James; MARCUS, George E (ed.). Writing culture: the poetics and politics of Ethnography. Berkeley: University of California Press, 1986.

FOUCAULT, Michel. The order of things: an archaeology of the human sciences. London and New York: Routledge, 2001 [1966].

GRAY, Ros; SHEIKH, Shela. The wretched Earth. Third Text, v. 32, n. 2-3, p. 163-175, 2018.

HARAWAY, Donna. Staying with the trouble: making Kin in the Chthulucene. Duham: Duke University Press, 2016.

KING Katie. Media in transcontextual tangles: why it matters. Berlin: Memorial Lecture; West Lafayette: Purdue University, 2014.

LAST, Angela. We are the World? Anthropocene cultural production between geopoetics and geopolitics. In: Sage Journal: Theory, Culture & Society, v. 34, n. 2-3. Glasgow: Sage Publishing, 2017.

TSING, Anna Lowenhaupt. The mushroom at the end of the world: on the possibility of life in capitalist ruins. Princeton and Oxford: Princeton University Press, 2015.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Os pronomes cosmológicos e o perspectivismo ameríndio. Mana, v. 2, n. 2, p. 115–144, 1996.

 
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