Como
intervir em megacidades? Quais as condições impostas pelo
caráter informe e genérico dessas novas espacialidades para
qualquer projeto de intervenção? Não há mais como operar apenas
com referenciais históricos, locais específicos e formas particulares
de ocupação social. As intervenções vão se fazer nessas situações
sem contornos nem limites claros, onde não há distinção entre
interior e exterior, local e global. Lidando obrigatoriamente
com a complexidade dos processos urbanísticos em curso, o
caráter poroso das edificações, as interseções das vias de
transporte, a indistinção da paisagem. Configurações informes
que impedem a consolidação das intervenções a serem realizadas
como objetos esculturais alocados no espaço.
Em
que medida a abrangência territorial pode determinar as estratégias
e procedimentos estéticos das intervenções? Como podem se
articular? Que mapeamento poderá surgir destas intervenções?
Como isso pode determinar a apreensão das intervenções e uma
releitura da área? As intervenções estarão disseminadas numa
área sem qualquer continuidade e articulação: não há como
visar uma plena apreensão do conjunto da região.
O
próprio recorte urbano proposto indica uma tomada de posição:
as dimensões da área urbana a ser abarcada excluem, por definição,
toda estratégia que implique uma abordagem apenas local das
situações. Qualquer intervenção, se tomada isoladamente, perderia-se
na extrema complexidade desta trama urbana. Também os locais
escolhidos não permitem, por suas tensões e desconfiguração,
abordagens estéticas convencionais, de caráter escultórico.
As relações que as intervenções possam estabelecer _ com o
edificado, com o entorno urbano imediato e com toda a região,
inserida em processos urbanísticos de caráter metropolitano
e global _ estão no cerne de Arte/Cidade.
Não
se trata, portanto, de um projeto de site specific. As situações
urbanas são entendidas como pontos numa trama mais vasta e
complexa, um modo de traçar novos territórios. Os aspectos
particulares _ organização espacial local, história, formas
de ocupação _ são aqui elementos de uma configuração e dinâmica
mais ampla, que dá à todas as situações seu caráter essencialmente
genérico e indistinto, fundado nas suas tensões e rearticulações.
É essa dinâmica, perpassando uma terra arrasada, em que múltiplas
reconfigurações podem se fazer, que Arte/Cidade
procura fazer aflorar.
No
horizonte de Arte/Cidade está a possibilidade
de recompor estes terrenos vagos, sítios recortados por viadutos,
pátios ferroviários abandonados e áreas de ocupação favelada
ou de comércio informal, em territórios mais vastos e complexos.
Uma estratégia baseada não na continuidade espacial e histórica,
na homogeneidade arquitetônica e social, mas na indeterminação
e na dinâmica, na instabilidade de configurações urbanas em
processo contínuo de rearticulação.
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