Em 1 de junho de 2006, o professor Edin Sued Abumanssur, especialista em Sociologia da Religião no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da PUC/SP, concedeu a entrevista a seguir, falando sobre a questão da violência urbana e o papel da Igreja em relação ao problema.

Núcleo de Fé & Cultura: Quais as causas da violência urbana?

Edin Sued: É um conjunto de fatores. O primeiro fator é a ausência do Estado em determinados setores da vida social, como na área da saúde, na área da educação, na área da segurança mesmo. Essa ausência ocorre, principalmente, na periferia. Se o Estado não ocupa, outras forças, outras formas ocupam. Se a justiça não incide na vida da periferia, aparecem os justiceiros. Onde há inoperância do Estado, outras forças entram, como a dos traficantes, dos corruptos. Outro fator é a impunidade. Não há mais certeza de que a pessoa será punida.

Núcleo de Fé & Cultura: Mas como a sociedade pode enfrentar essas dificuldades?

Edin Sued:A sociedade organizada (ele enfatizou muito isso na entrevista) pode pressionar os dirigentes por uma maior agilidade, por mais investimentos nas questões sociais, na saúde, na educação, no transporte, na segurança, na prevenção da violência. A sociedade tem o dever de cobrar essas coisas. Cobrar uma efetivação de justiça, para que não surjam os justiceiros. Cobrar contra a impunidade, contra a corrupção, tão em voga hoje. Mas uma coisa importante: a sociedade não deve substituir o Estado em suas obrigações. Ela deve cobrar, reivindicar, mas não substituir, senão acabam fazendo justiça com as próprias mãos - como é o caso dos justiceiros. Tem que cobrar para que o Estado exerça suas obrigações.

Núcleo de Fé & Cultura: E como a Igreja e os cristãos podem colaborar no combate à violência?

Edin Sued:A Igreja e os cristãos têm o papel do testemunho dos valores que fundamentam a ética cristã. Testemunhar os valores cristãos. Essa é o que podemos chamar de colaboração da Igreja na dimensão teológica ou espiritual. Mas, por outro lado, também devemos considerar que a Igreja é uma organização como qualquer outra. Quer dizer, tem responsabilidade de atuação, responsabilidade de cobrança dos órgãos públicos, na vigilância de recursos, na vigilância contra a corrupção. A Igreja deve ajudar na organização das pessoas, tem essa obrigação. a Igreja tem princípios éticos e morais, que devem ser testemunhados. Testemunho não apenas no anúncio dos valores do Reino, mas na maneira de viver, na maneira de estabelecer diálogos na sociedade. Deve pregar uma coerência com os princípios e valores cristãos. O próprio modo de vida dos líderes, dos agentes pastorais deve expressar esses valores. Nesse sentido, a Igreja tem uma dimensão que vai além do papel de outra organização comum, como uma empresa ou um clube - que também têm e devem exercer responsabilidades sociais. A Igreja, por carregar valores que deveriam fundamentar a sociedade tem até uma responsabilidade maior que outras organizações. Possui uma responsabilidade maior pela fidelidade ao Evangelho.