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Igreja em São Paulo: as razões da esperança - Parte I
Dom Geraldo Majella Agnelo
Dom Geraldo Majella Agnelo é Arcebispo de Salvador e Cardeal Primaz do Brasil

Ao receber, no dia 8 de outubro de 2007, por ocasião da comemoração de 100 anos da existência da Arquidiocese de São Paulo, a outorga do título Doutor "Honoris Causa", pela Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da qual foi aluno, professor e diretor, Dom Geraldo Majella Agnelo, Arcebispo de Salvador e Cardeal Primaz do Brasil, proferiu uma notável saudação que iremos publicar, devido a sua extensão, em duas partes. Na primeira parte ele enaltece o trabalho extraordinário realizado pela Igreja de São Paulo para tornar esta megalópole em lugar de encontro de pessoas de inúmeras raças e culturas, que aqui se encontram e se misturam, numa convivência que acolhe a diferença, a respeita e a valoriza.

Saudações ...

Agradeço, de coração, ao caríssimo irmão sempre amigo Dom Odilo Pedro Scherer e, em sua pessoa como Arcebispo Metropolitano, a toda a Arquidiocese de São Paulo, pela deferência de querer celebrar os 50 anos de minha ordenação sacerdotal, com a celebração da Missa comemorativa em na Catedral de São Paulo e hoje com a outorga do título de Doutor Honoris Causa da Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da qual fui aluno, professor e diretor.
Agradeço ao Diretor da Faculdade da Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, Côn. Prof. Antônio Manzatto, bem como ao Diretor do Centro Universitário Assunção, UNIFAI, Dom José Benedito Simão, que me dirigiram palavras de grande apreço e amabilidade.
Sinto-me honrado por esta homenagem e comovido ao percorrer com a memória os anos que vivi em São Paulo, justamente agora quando a Arquidiocese completa 100 anos de existência.
Caminhar sobre as pegadas de Anchieta e de tantos ilustres evangelizadores nas terras de Piratininga é motivo de vivas recordações, de saudades e também de alegrias especialmente como sacerdote e bispo.
Comemorar 100 anos de existência da Arquidiocese de São Paulo, significa olhar com estima, com admiração e com os olhos da fé toda essa história e as pessoas que a construíram com sua dedicação e sacrifício e, recebendo nas mãos essa herança, dar-lhe continuidade e faze-la crescer como resposta às necessidades e aos desafios próprios deste terceiro milênio da era cristã.
Esta megalópole tornou-se um lugar de encontro entre homens e mulheres das mais diferentes origens, raças e culturas: do nordeste e do Sul, da Itália e do Japão, da Polônia e do Vietnam, e de outra centenas de lugares. Milhões de pessoas aqui se encontram, misturam-se no metrô e nos condomínios, nos bairros e nas praças, mas também no casamento e no trabalho, numa convivência que acolhe a diferença, a respeita e a valoriza.
A todos, São Paulo oferece oportunidades para crescer, estudar, trabalhar, para participar dos benefícios da cidade moderna.    

         Aqui se concentra o melhor da criatividade humana: na tecnologia, na arte, na indústria, no teatro, no comércio.

          Milhões de pessoas aqui convivem, lutam, esperam, buscam emprego, mas também dignidade. Correm atrás do dinheiro, mas também do significado e da certeza de que vale a pena o sacrifício quotidiano, esperam a sorte, mas também um ambiente de paz. Constroem pontes, prédios, carros e avenidas, mas também famílias, escolas, hospitais,  comunidades, vida fraterna e solidária.

         É admirável a luta de homens e mulheres para humanizar a convivência nesta cidade, para que não se torne uma gigantesca Babel, ou um mundo feito de banalidade e de vulgaridade. É admirável a batalha contra a mentalidade de Caim, explicitada na resposta que deu a Deus, depois de ter matado o irmão Abel: “por acaso sou guardião de meu irmão?” Para que não prevaleça o cálculo da utilidade e da conveniência como único critério dos relacionamentos humanos. É impressionante a luta que pessoas e famílias, instituições e grupos empreendem a cada dia para não deixar prosperar as sementes de niilismo, que se levam ao desespero e ao cinismo, terreno propício para o florescimento da corrupção e da violência.  
Penso neste momento em milhões de pessoas que rezam antes de sair para o trabalho, invocando a proteção de Deus para a sua jornada de trabalho e para a sua família,  mas rezam também para ser um sinal da luz e da sabedoria divinas nos ambientes em que vivem.
E penso nos milhares de pessoas que saem de casa, quem sabe, depois de uma longa jornada de trabalho, para encontrar pessoas, convidando-as para o grupo de oração, para o círculo bíblico, para a reunião da comunidade, para reivindicar uma creche dos poderes públicos, para visitar doentes, para levar a esperança.
São pessoas que foram tocadas por Cristo e vivem fascinadas por Ele, por isso cultivam a certeza de serem portadoras de um bem do qual os outros têm necessidade. E com indomável ardor, desejam comunicar a todos essa graça que já mudou suas vida.
São agentes de pastoral, membros de antigas associações de fieis ou de comunidades paroquiais, pessoas consagradas ou membros de movimentos eclesiais, fieis leigos e ministros ordenados. 

         Como é preciosa a participação da Igreja nesta tarefa de reconquistar, dia a dia, a cidade para uma convivência humana marcada por gestos gratuitos, de caridade fraterna, de atitudes solidárias, que resgatam a dignidade, reacendem a esperança, constroem a paz. A profecia de Amós move a Igreja com uma esperança que não esmorece. “Mudarei o destino do meu povo, eles reconstruirão as cidades devastadas e nelas habitarão. Repararei as suas brechas, levantarei as suas ruínas” (Am 9, 14a. 11),

         Na grande cidade, em que a vida parece fervilhar e fermentar e, às vezes, explodir em contradições, a Igreja esteve presente para recordar a todos a paternidade e a misericórdia de Deus; o poder vitorioso sobre a morte do Filho Jesus Cristo, o Redentor do Homem, vivo e presente entre nós; a consolação do Espírito, nosso Defensor. Ensinou o Evangelho, apresentando a luz que ilumina o caminho, o sal que dá significado e gosto à batalha de cada dia. A Igreja foi, na cidade de São Paulo, o bom Samaritano que socorre e cura as feridas de quem se via posto à margem do progresso e excluído dos benefícios aqui produzidos.

         E a Igreja multiplicou as obras da caridade, para socorrer os pobres, para acolher e educar as crianças, para orientar os jovens, para amparar os idosos, para reunir os dispersos. Mas também defendeu a dignidade e os direitos humanos quando estavam ameaçados e a liberdade quando estava conculcada e a democracia quando estava mutilada.

         Acolheu os migrantes que ocupavam a extrema periferia da cidade, apoiando suas lutas por moradia, saúde, educação, salário justo. Formou comunidades de base, sustentou movimentos de luta urbana, deu amparo e forneceu quadros a novos sindicatos, a novos partidos, anunciou o evangelho de Jesus Cristo, “oportuna e inoportunamente”.

         Para dialogar com a classe dirigente, tradicionalmente distante do Evangelho e, às vezes, hostil, a Igreja criou a Universidade Católica, a PUC-SP e aprimorou a formação de seus sacerdotes na Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção e outros centros de formação, de ensino e pesquisa.

         A multiplicidade de ideologias, disputando o espaço público e o poder, incentivou conflitos; o pluralismo religioso obrigou a retomar com maior clareza e vigor a obra da nova evangelização e a cada dia emergem novos desafios. Às vezes, parece que a comunhão eclesial, a vida fraterna das comunidades, a solidariedade, são consideradas coisas do passado, se enfraquecem, enquanto a violência e a corrupção expandem-se em todos os ambientes.
Nesse contexto a Igreja assumiu e assume a mesma missão de Jesus. O mesmo Espírito que ungiu o Senhor, moveu e move a Igreja, seu Corpo hoje visível e como Jesus ela pode dizer a cada dia: “o Senhor está sobre mim, pois ele me consagrou com a unção, para anunciar a boa nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e, aos cegos, a recuperação da vista; para dar liberdade aos oprimidos e proclamar um ano de graça da parte do Senhor.” (Lc 4, 18-19). 

        

 

 
 
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