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Pobreza, desigualdade e falta de solidariedade na origem da violência
Entrevista a Sylvia Leser de Mello por Felipe Mahlmeister Ribeiro
 

Para a psicóloga Sylvia Leser de Mello , professora aposentada do departamento de psicologia da USP e membro do Conselho Deliberativo do Núcleo de Estudos da Violência (NEV), as causas atribuíveis à violência são muitas. Mas ela começa pensando no imenso problema que a sociedade urbana tem em acolher uma vasta camada da população. Se, por um lado, os grandes centros urbanos e sua sociedade organizada são capazes de satisfazer muitas necessidades de muitas pessoas, por outro lado, eles se mostram incapazes de acolher a uma vasta camada da população “a mesma – ainda que não única – que tanto sofre com o problema da violência e da criminalidade”, afirma a professora Sylvia . Na incapacidade da sociedade urbana de oferecer uma vida material decente para muitas pessoas, muitas delas acabam vendo a criminalidade como uma das poucas alternativas possíveis de realização material. Essa alternativa se torna mais apelativa à medida que se torna mais comum; a violência se banaliza. “Essas pessoas se vêem obrigadas a estruturar suas vidas a partir dos elementos que encontram disponíveis e alguns destes elementos são ligados ao crime”, explica. “As pessoas se acomodam na sociedade urbana como podem”, conclui.

Além disso “a desigualdade vivida pela população urbana pobre é muito agressiva”, diz Sylvia . O cidadão urbano pobre não apenas está exposto a um abismo material e social que o afasta das camadas sócio-econômicas mais altas da sociedade em que vive. Ele também deve conviver com a desigualdade de tratamento dado, por exemplo, pelo sistema repressor e judiciário que poupa aqueles que podem pagar e este tipo de desigualdade se legitima na hierarquia social que “oprime os mais fracos e apóia a espoliação”. Essa condição de vida reproduz uma violência imanente, que é absorvida e assimilada pela sociedade gerando mais violência.

Para piorar vivemos hoje ‘protegidos’ por um sistema repressor que é legado da ditadura militar e que busca conter a violência através do uso da violência legítima – a praticada sob a bandeira do Estado. Esta forma de combater o crime traz maior aceitação da violência que vai sofisticando-se no mundo do crime organizado à medida que se sofistica nos meios legítimos. “É uma dinâmica de, você bate aqui, eu bato ali, que não supera o confronto e tão pouco o resolve”, esclarece a professora, ao contrário, “legitima um crescente grau de selvageria por parte do crime organizado”, que se radicaliza para estar à altura – e mesmo à frente, dado que não segue quaisquer princípios éticos – de seus antagonistas, a polícia.

Em meio a toda esta tragédia a professora vê para a Igreja caminhos bastante simples e concretos. A Igreja tem um potencial muito significativo para lidar com o problema do acolhimento nas sociedades urbanas por ser capaz de organizar e mobilizar as pessoas para promover reflexões e alternativas de vida que sejam construtivas para a coletividade e para as próprias pessoas. “A Igreja pode promover a organização e reunião das pessoas para a reflexão e enfrentamento de problemas comuns, por exemplo abrigando fóruns e outras iniciativas da sociedade organizada ou mesmo pode atuar na sociedade dando condições às pessoas para obterem renda”.

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