Segundo Renato Lima, pesquisador do SEADE e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, existem diferenças em relação a como o Estado, em suas múltiplas esferas e poderes, deve encarar violência e crime organizado. No entanto, parece que estas diferenças são, mais, de caráter político do que procedimentais. Ou seja, quase ninguém dúvida de que o assunto é atribuição do executivo, do judiciário e do legislativo, sejam eles federal ou estaduais. Além disso, também há um consenso sobre a participação dos municípios na prevenção à violência, nos moldes, por exemplo, do que vem sendo feito em Diadema ou Recife (modelos de ação municipal que são referências nacionais). Da mesma forma, há o consenso da centralidade dos investimentos nos eixos de gestão da informação, da inteligência e dos recursos humanos, num movimento de valorização dos policiais e, ao mesmo tempo, constituição/modernização de instrumentos e ferramentas de gestão.
A inteligência é vista como a grande arma contra o crime organizado e o investimento na coleta, tratamento e análise de informações de inteligência é, sem dúvida, a principal tarefa das instituições de justiça criminal, as polícias incluídas. Cabe, no entanto, destacar que inteligência policial é diferente de inteligência de Estado (ABIN, CIA, MI6, etc.), pois esta última cumpre objetivos muito distintos dos de apuração criminal. Isso está mudando no Brasil, e mesmo no mundo, mas ainda não é tão óbvia esta diferença. Todos os esforços são, portanto, para qualificar profissionais nessa filosofia (um bom trabalho de inteligência é, além de eficiente em prevenir delitos, elemento de redução da violência).
O grande desafio seria, no caso, evitar que os investimentos nessa área, que são recentes e ainda em volume insuficiente, sejam feitos na chave da inteligência de Estado (eliminar os riscos trazidos pelo inimigo) e fomentar a perspectiva policial (prevenir delitos e violência). Como a questão de Estado ainda é muito forte no Brasil, imagina-se o quão complexo é viabilizar um processo aparentemente simples. |