( * ) Cleuza Ramos é Presidente da Associação dos Trabalhadores Sem Terra de São Paulo
Nós sempre tivemos um sentimento de amor e carinho pelas pessoas, uma preocupação profunda de tentar resolver os problemas das pessoas. Um desejo de querer vê-las bem, de querer ajudá-las, de ter o coração aberto.
Nós fazemos um trabalho de habitação popular já há alguns anos. Nos anos 80, encontramos 400 famílias que não tinham para onde ir. Conversando com elas, resolvemos juntos nos organizar para comprar terra e dividi-la entre as famílias para que cada uma tivesse o seu lote. Fizemos um acordo com o Estado, que entrou com a infra-estrutura básica: água, luz, esgoto, asfalto; fizemos um outro convênio com arquitetos, para que cada família construísse a casa do jeito que queria, e com mestre-de-obras. Também reivindicamos escola, posto de saúde, fizemos planos de saúde médico e odontológico, montamos uma Farmácia Popular, um convênio com universidade para ganhar desconto de mensalidade... Hoje já temos 15 mil famílias nesse processo e um grupo de dez mil jovens universitários.
O Estado, na verdade, não pode resolver os problemas, mas ele pode participar da sua solução. Porém só mudamos a sociedade, só resolvemos os problemas, com a participação de cada pessoa. Não é uma missão do Estado resolver o problema de cada pessoa, é uma missão de cada pessoa. Cada um deve participar de sua forma. Eu acho que o Estado tem que incentivar e facilitar os movimentos sociais para que as pessoas possam se organizar e possam, através desses movimentos, enfrentar os problemas. Você participa da solução do problema, propõe proposta de respostas às necessidades. Então, acaba sendo muito mais respeitado, acaba amadurecendo, se desenvolvendo como uma pessoa mais completa.
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