Encontramos hoje em nossa sociedade, particularmente nas periferias das grandes cidades, um tecido social em decomposição. Os laços de solidariedade, a experiência da própria dignidade, o sentido de construir juntos, vão se dissolvendo devido a problemas sócio-econômicos e pela penetração de uma ideologia individualista e utilitarista. É aí que cresce a violência urbana.
Neste contexto, segundo Edin Sued, do Programa de Ciências da Religião da PUC-SP, a Igreja e os cristãos têm o papel de testemunhar os valores que fundamentam a ética cristã. A Igreja, para ele, tem uma dimensão que vai além do papel de outras organizações, como uma empresa ou um clube - que também têm e devem exercer responsabilidades sociais. A Igreja possui uma responsabilidade que nasce da fidelidade ao Evangelho.
Já Márcia Regina da Costa, do Departamento de Ciências Sociais da PUC e especialista no tema da violência, considera que a Igreja pode ajudar a melhorar a qualidade de vida das pessoas, não só no aspecto material, mas em todas as suas dimensões. A professora reúne dois aspectos da ação da Igreja: ela deve acolher a todos, e particularmente às vítimas da violência; mas também ajudar em um trabalho de base, de organização das pessoas.
Reportagem do jornal Valor Econômico, mostra uma pesquisa coordenada pelo professor Marcelo Neri , da FGV, constatou-se que, tanto nos presídios do Rio de Janeiro quanto nos de São Paulo, a porcentagem de pessoas que se dizem atéias é maior que no conjunto da população. A religiosidade, ajudando a encontrar - mesmo nas situações difíceis - um sentido para a vida e fortalecendo os laços de solidariedade, é uma ajuda efetiva para que a pessoa não enverede por um caminho de violência que acaba por se revelar destrutivo tanto para ele quanto para a sociedade.
A Igreja é mais que uma instituição: é uma grande comunidade viva de pessoas unidas por uma experiência que dá significado a suas vidas. A capacidade de acolhida e de organização que nascem desta experiência humana são a principal contribuição dos cristãos para o combate à violência, pois se opõe de forma eficaz a esta desestruturação do tecido social.
Esta contribuição deve motivar os cristãos para a denúncia da violação dos direitos humanos e para a participação, em conjunto com todas as forças sociais, nos movimentos pela paz. Contudo, implica também em viver e valorizar a riqueza de sua tradição, não com petulância e presunção, mas como serviço e comunicação de si mesmos ao mundo.
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