Como um cristão se posiciona diante dos problemas do mundo? Com sua excepcional capacidade didática, o Papa responde a essa pergunta discutindo os objetivos de sua viagem à Terra Santa e as metas da presença cristã naquela região marcada por conflitos. Uma proposta que combina oração, racionalidade, presença pública e amor ao próximo.
P. Santidade, essa viagem acontece em um período muito delicado para o Oriente Médio. Existe muita tensão na região e, na ocasião da crise em Gaza, alguns pensaram inclusive que iria renunciar a ela. Ao mesmo tempo, poucos dias depois de sua viagem, os principais responsáveis políticos de Israel e da Autoridade Palestina encontrarão o presidente Obama. O senhor crê que possa contribuir ao processo de paz que se procura realizar?
R. Certamente tento contribuir para a paz, não como indivíduo, mas em nome da Igreja Católica, da Santa Sé. Nós não somos um poder político, mas sim uma força espiritual. E essa força espiritual é uma realidade que pode contribuir ao progresso no processo de paz. Vejo isso em três níveis. No primeiro, como crentes, estamos convencidos que a oração é uma força verdadeira que abre o mundo a Deus. Estamos convencidos que Deus nos escuta e pode agir na história. Penso que se milhões de pessoas, de crentes, rezam, isso é realmente uma força que influi e pode contribuir para o avanço da paz. No segundo nível, nós procuramos agir na formação das consciências. A consciência é a capacidade do homem de conhecer a verdade, mas essa capacidade é frequentemente bloqueada por interesses particulares. E libertar desses interesses, abrir à verdade, aos verdadeiros valores, é um grande empenho: é uma tarefa da Igreja ajudar a conhecer os critérios verdadeiros, os valores verdadeiros, e a nos libertarmos de interesses particulares. Assim – terceiro nível – falamos também – e é assim mesmo – à razão: justamente porque nós não somos uma parte política, podemos talvez mais facilmente, sempre à luz da fé, ver os critérios verdadeiros, ajudar a compreender como contribuem para a paz e falar à razão, apoiando as posições realmente razoáveis. E isso nós já fizemos, e desejamos fazer agora e no futuro.
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P. Santidade, o senhor tem chamado a atenção frequentemente para o problema da diminuição do número de cristãos no Oriente Médio e particularmente na Terra Santa. É um fenômeno com diversos motivos, de caráter político, econômico e social. O que se pdoe fazer concretamente para ajudar a presença cristã na região? Que contribuição espera dar nessa viagem? Há esperança para esses cristãos no futuro? Haverá uma mensagem particular também para os cristãos de Gaza, que virão encontrá-lo em Belém?
R. Certamente existe esperança, porque esse é um momento, como o senhor disse, difícil, mas também um momento de esperança de um novo início, de um novo impulso no caminho rumo à paz. Queremos sobretudo encorajar os cristãos na Terra Santa e em todo o Oriente Médio a permanecer, a dar a sua contribuição em seus países de origem: eles são componentes importantes da vida e da cultura dessas regiões. Concretamente, a Igreja, além das palavras de encorajamento, da oração em comum, tem principalmente escolas e hospitais. Nesse sentido, nossa presença na realidade é muito concreta. As nossas escolas formam uma geração que terá a possibilidade de ser presente na vida de hoje, na vida pública. Estamos criando uma Universidade católica na Jordânia – essa me parece uma grande perspectiva – onde jovens, sejam muçulmanos, sejam cristãos, se encontrem aprendam juntos onde se forma uma elite cristã que é preparada justamente a trabalhar pela paz. Geralmente nossas escolas são um momento muito importante para abrir um futuro aos cristãos e nossos hospitais mostram nossa presença. Além disso, existem muitas associações cristãs que ajudam de diversas formas aos cristãos e que, com ajuda concreta, os encorajam a permanecer. assim, espero que realmente os cristãos possam encontrar a coragem, a humildade, a paciência, para estar nesses países, de oferecer a sua contribuição para o futuro desses países. |