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Deus é fascinado pela música
 
Revista Época (Espanha), 149, Janeiro de 1988
Entrevista a Narciso Yepes, por Pilar Urbano

Narciso Yepes (1927-1997) foi um dos maiores violonistas clássicos do século XX. Nascido na Espanha, personificou um importante capítulo da história universal do violão entre outras distinções foi Doctor Honoris Causa pela Universidade de Murcia e membro da Real Academia de Belas Artes da Espanha.

O século XX não foi apenas um século de secularização e perda do espírito religioso. Justamente por ser um século onde muitos não receberam uma educação para a fé adequada, foi um século de grandes conversões. Aqui, o músico Narciso Yepes conta como foi a sua conversão e como, a partir daí, conviveu com sua arte.
 

Eu faço música, em primeiro lugar, para meu prazer pessoal. E, só depois, para que outros a ouçam. Quando dou um concerto, seja em um grande teatro, seja num auditório palaciano, ou em um mosteiro..., ou tocando só para o papa, como fiz certa vez para João Paulo II, o instante mais comovente e mais feliz para mim é esse momento de silêncio que se produz antes de começar a tocar. Então sei que o público e eu vamos compartilhar uma música, com todas as suas emoções estéticas. Eu não procuro o aplauso, e quando o recebo sempre fico surpreso..., me esqueço que, ao final do concerto, vem a ovação! E vou confessar algo mais: quase sempre, para quem eu realmente toco é para Deus. Eu disse “quase sempre” porque há vezes em que, por minha culpa, em pleno concerto posso distrair-me. O público não repara, mas Deus e eu sim.

E... Deus gosta de sua música?
Ele é fascinado! Mais do que da minha música, o que Ele gosta é que eu Lhe dedique minha atenção, minha sensibilidade, meu esforço, minha arte..., meu trabalho. E, além disso, certamente, tocar um instrumento da melhor maneira que alguém saiba, e ser consciente da presença de Deus é uma forma maravilhosa de rezar, de orar. Isso eu o tenho experimentado bem.

O Senhor sempre teve essa fé religiosa que agora tem?
Não. Minha vida de cristão teve um grande parêntese de vazio, que durou um quarto de século. Batizaram-me ao nascer, e depois não recebi nenhuma noção que ilustrasse e alimentasse minha fé... Para dizer-lhe que comunguei a primeira vez aos vinte e cinco anos! De 1927 até 1951 eu não praticava, nem acreditava, nem me preocupava minimamente se havia ou não vida espiritual e uma transcendência, um mais além. Deus não contava nada na minha existência. Mas depois pude saber que eu sempre havia contado para Ele. Foi uma conversão súbita, inesperada e muito simples. Eu estava em Paris, eu estava debruçado numa ponte do rio Sena, vendo fluir a água. Era de manhã. Exatamente 18 de maio. De imediato O escutei dentro de mim. Talvez já me tivesse chamado em outras ocasiões, mas eu não o havia escutado. Naquele dia eu tinha “a porta aberta”. E Deus pode entrar. Não só se fez ouvir, mas entrou completamente e para sempre em minha vida.

Uma conversão como a de Paul Claudel, a de André Frossard, a de São Paulo?
Ah, eu suponho que Deus não se repete! Cada homem é um projeto divino, distinto e único; e para cada homem Deus tem um caminho próprio, uns momentos e uns pontos de encontro, umas graças e umas exigências... E todo chamado é único na história.

O senhor disse que “escutou”, que “se fez ouvir”... Posso entender, Narciso, que o senhor, ali junto ao Sena, escutou palavras?
Sim, claro. Foi uma pergunta, aparentemente, muito simples: “Que estás fazendo?” Nesse instante tudo mudou para mim. Senti a necessidade de me perguntar por que vivia, para quem vivia. Minha resposta foi imediata. Entrei na igreja mais próxima: Saint Julian le Pauvre. E falei com um sacerdote durante três horas... É curioso, porque meu desconhecimento era tal que nem me dei conta de que era uma igreja ortodoxa. A partir desse dia procurei instrução religiosa católica. Não esqueci que eu era batizado. Tinha a fé adormecida e ela reviveu. E desde aquele momento nunca deixei de saber que sou criatura de Deus, filho de Deus. Um homem com um sinal de eternidade que vai se tecendo e atravessando, já aqui, na companhia de Deus. Assim, como até então Deus não contava em nada na minha vida, desde aquele instante não há nada na minha vida, nem o mais trivial, nem o mais sério, que não conte com Deus.

A íntegra dessa entrevista, em espanhol, pode ser vista no site do Vicariado Sul da diocese de Santiago do Chile

 

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