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O amor de Deus e o nome: uma reflexão sobre o Shoah
Discurso pronunciado por Bento XVI no Memorial Yad Vashem, dedicado às vítimas do Holocausto na Segunda Grande Guerra. Jerusalém, em 11 de Maio de 2009.
 

O mal pode tirar quase tudo da pessoa humana. Mas não pode tirar-lhe “o nome”, que corresponde àquele desígnio que Deus dá a cada um desde a sua concepção. Desenvolvendo esse tema, de valor e significado comum tanto para judeus quanto para cristãos, o Papa reflete sobre a tragédia do Shoah, o assassinato de milhões de judeus pelos nazistas na Segunda Grande Guerra. Um sinal de unidade que vai além de diálogos neutros e diplomáticos, pois se funda na comoção em comum diante do drama do mal e da força da misericórdia do único Deus.

"Eu lhes darei na minha casa, dentro das minhas muralhas, um lugar e um nome... dar-lhes-ei um nome eterno que nunca desaparecerá" (Is 56, 5).
Este trecho tirado do Livro do profeta Isaías oferece as duas palavras simples que exprimem de modo solene o significado profundo deste lugar venerado: yad "memorial"; shem "nome". Vim aqui para me deter em silêncio diante deste monumento, erigido para honrar a memória de milhões de judeus mortos na horrível tragédia do Shoah. Eles perderam as suas vidas, mas nunca perderam os próprios nomes: eles estão indelevelmente inscritos nos corações dos seus entes queridos, dos seus companheiros de prisão e de quantos decidiram nunca mais permitir que uma atrocidade semelhante possa desonrar de novo a humanidade. Os seus nomes, para sempre principalmente, estão gravados na memória do Deus Todo-Poderoso.
Alguém pode privar o vizinho das suas propriedades, das ocasiões favoráveis ou da liberdade. Pode tecer uma traiçoeira rede de mentiras para convencer os outros que certos grupos não merecem respeito. Todavia, por mais que se esforcem, nunca podem cancelar o nome de outro ser humano.
A Sagrada Escritura ensina-nos a importância dos nomes quando a alguém é confiada uma missão única ou um dom especial. Deus chamou a Abrão "Abraão" porque devia tornar-se o "pai de muitas nações" (Gn 17, 5). Jacob foi chamado "Israel" porque tinha lutado "com Deus e com os homens, e tinha vencido" (cf. Gn 32, 29). Os nomes conservados neste venerado monumento para sempre terão um lugar sagrado entre os inúmeros descendentes de Abraão. Como aconteceu com Abraão, também a sua fé foi provada. Como com Jacob, também eles foram mergulhados na luta entre o bem e o mal, enquanto lutavam para discernir os desígnios do Todo-Poderoso. Os nomes destas vítimas nunca possam perecer! Os seus sofrimentos nunca possam ser negados, diminuídos ou esquecidos! E possam todas as pessoas de boa vontade permanecer vigilantes a fim de desarraigar do coração do homem qualquer aspecto capaz de produzir uma semelhante tragédia!
A Igreja Católica, empenhada nos ensinamentos de Jesus e orientada para imitar o seu amor por todas as pessoas, experimenta uma profunda compaixão pelas vítimas aqui recordadas. Do mesmo modo, coloca-se ao lado de quantos hoje estão sujeitos a perseguições por causa da raça, da cor, da condição de vida ou da religião – os seus sofrimentos são também os dela e dela é a sua esperança de justiça. Como Bispo de Roma e Sucessor do Apóstolo Pedro, confirmo – como os meus predecessores – o empenho da Igreja a rezar e agir incansavelmente a fim de garantir que o ódio nunca mais reine no coração dos homens. O Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob é o Deus da paz (cf. Sl 85, 9).
As Escrituras ensinam que é nosso dever recordar ao mundo que este Deus vive, não obstante às vezes seja difícil compreender os seus misteriosos e imperscrutáveis caminhos. Ele revelou-se a si mesmo e continua a agir na história humana. Só Ele governa o mundo com justiça e julga com equidade todos os povos (cf. Sl 9, 9).
Ao fixar o olhar nos rostos reflectidos no espelho d'água que se estende silencioso no interior deste memorial, não se pode esquecer que cada um deles tem um nome. Só posso imaginar a jubilosa expectativa dos seus pais, enquanto esperavam com ansiedade o nascimento das suas crianças. Qual nome daremos a este filho? O que lhe acontecerá? Quem poderia imaginar que seriam condenados a um destino tão deplorável!
Enquanto estamos aqui em silêncio, o seu brado ainda ressoa nos nossos corações. É um grito que se eleva contra todos os actos de injustiça e de violência. É uma condenação perene contra o derramamento de sangue inocente. É o grito de Abel que sobe da terra para o Todo-Poderoso. Ao professar a nossa inabalável confiança em Deus, demos voz àquele grito com as palavras do Livro das Lamentações, tão impregnadas de significado quer para os judeus quer para os cristãos:
"O amor de Javé nunca acaba
e a sua compaixão não tem fim.
Pelo contrário, renovam-se cada manhã: "Como é grande a tua fidelidade!".
Digo a mim mesmo:
"Javé é a minha herança",
por isso n'Ele espero.
Javé é bom para os que n'Ele
esperam e O procuram.
É bom esperar em silêncio
a salvação de Javé" (3, 22-26).
Queridos Amigos, estou profundamente agradecido a Deus e a vós pela oportunidade que me foi oferecida de deter-me aqui em silêncio.

 

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