Livro indisponível
REFLEXÕES SOBRE MEUS CONTEMPORÂNEOS
Charles Pierre Baudelaire
Estranhas heresias introduziram-se na crítica literária. Não sei que pesada nuvem, vinda de Genebra, de Boston ou do inferno, interceptou os belos raios do sol da estática. A famosa doutrina da indissolubilidade do Belo, do Verdadeiro e do Bem é uma invenção do filosofismo moderno (estranho contágio, que faz com que, definindo a loucura, se fale o jargão dela!). Os diferentes objetos da investigação espiritual exigem faculdades que lhe sejam eternamente apropriadas; algumas vezes, tal objeto só exige uma delas, outras vezes, todas juntas, o que só acontece muito raramente e, também, nunca em uma dose ou em um grau igual. Além disso, é preciso observar que quanto mais um objeto exige faculdades, menos nobre e puro ele é, quanto mais complexo, mais bastardia contém. O Verdadeiro serve de base e de objetivo às ciências; ele invoca, sobretudo, o intelecto puro. A pureza de estilo será bem-vinda aqui, mas a beleza de estilo pode ser considerada como um elemento de luxo. O Bem é a base e o objetivo das investigações morais. O Belo é a única ambição, o objetivo exclusivo do Gosto.