A violência urbana não é conseqüência apenas da pobreza. Ela é decorrência de uma estrutura social incapaz de acolher a pessoa, particularmente os mais pobres, na sua globalidade.
Os atentados criminosos que aconteceram em São Paulo , em maio, são a face mais visível de um amplo processo social que vem acontecendo nos bairros pobres, nas periferias e nos presídios brasileiros. Está associado às mudanças na sociedade globalizada, que facilitaram o desenvolvimento do crime organizado em escala internacional, ao mesmo tempo em que colaboraram para a exclusão social de grandes parcelas da população, como observa Sérgio Adorno, do Núcleo de Estudos da Violência da USP.
Apesar da inegável associação entre violência e pobreza, estamos diante de um fenômeno muito mais complexo, que pode ser entendido melhor como conseqüência da desestruturação do tecido social e da ausência de políticas públicas efetivas, particularmente para as populações pobres da periferia urbana. Para Sílvia Lesser, da Faculdade de Psicologia da USP, a camada mais pobre da população - que mais sofre com o problema da violência e da criminalidade - não encontra nos grandes centros urbanos uma sociedade organizada capaz de uma acolhida efetiva.
O enfrentamento do problema passa por vários níveis de atuação. O mais imediato é o da Segurança Pública. Existe hoje um fórum nacional - formado por especialistas e representantes de várias organizações - que discute as medidas prioritárias para o combate à violência no Brasil. Segundo Edin Sued, do Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião da PUC-SP, a sociedade deve pressionar seus dirigentes, para que sejam implementadas medidas referentes à segurança pública e políticas que - melhorando a qualidade de vida das populações menos assistidas - ajudem a cortar a violência em suas raízes.
Vemos que é necessário que a sociedade se organize para acolher a todos na condição em que se encontram. Este acolhimento não se reduz a um simples trabalho assistencial. Sentir-se acolhido, integrado a um grupo com o qual se partilha o sentido da existência e da luta cotidiana, é condição para ser sujeito ativo no mundo e se organizar para resolver os próprios problemas.
Em entrevista à Folha de São Paulo, Nicolau Sevcenko falou da importância da população assumir o gerenciamento da cidadania, da sociedade se organizar de baixo para cima. Caminhando por linhas próximas, a Doutrina Social da Igreja sempre valorizou a ação integrada e o protagonismo de todas as instituições sociais - família, escola, sindicato, etc. Uma sociedade consegue resolver seus problemas - inclusive o da violência - quando essas instituições se articulam e assumem seu papel na vida pública.
Não basta pressionar o Estado para que as coisas aconteçam. É necessário reconhecer a importância e apoiar o trabalho de todas as organizações sociais, dando condições para que as pessoas vivam como protagonistas de suas vidas, acolherendo umas às outras e criando uma sociedade mais capaz de enfrentar a violência.
|