O amor tem mil faces
Raimondo e Maria Scotto Editora Cidade Nova
Se percorrermos a história do corpo no mundo ocidental, veremos que ele assumiu vários significados ao longo do tempo. Os gregos admiravam-lhe a beleza. Eles mesmos, separando corpo e espírito, deram origem a uma mentalidade, ainda em voga, que atribui ao espírito os valores nobres e ao corpo aqueles menores.
Depois, assistimos ao resgate do corpo, à importância de cuidar bem dele, chegando-se até a corpolatria.
Parece que o caminho dos novos significados do corpo continua. A cultura globalizada transformou-o em objeto de consumo e de entretenimento ou, ainda, em mero suporte (tela ou cabide).
Pari passu com a trajetória do corpo vai a da sexualidade. Ela já foi vista como algo inferior ou pecaminosa (por vezes entende-se o termo pecado – também o pecado original de Adão e Eva – como de natureza sexual!).
Com clareza, Bento XVI devolve, em sua recente encíclica Deus caritas est, à sexualidade seu devido lugar. Seguindo a tradição cristã, classifica o amor humano em três “níveis”: eros, filia, ágape , reconhecendo a importância e a dignidade de cada um deles.
É um esclarecimento importante, pois é lugar comum crer que o cristianismo não reconhece o valor do eros – freqüentemente afirma-se, redutivamente, que a Igreja só admite sexo para procriação.
Ele afirma que há um salto qualitativo do eros para o ágape , que se dispõe à renúncia e ao sacrifício em favor da pessoa amada.
É por tudo isso, e muito mais, que vale a pena reler o livro de Raimondo Scotto, O amor tem mil faces , lançado no Brasil no ano passado pela Editora Cidade Nova. O autor agora volta ao País para a Bienal Internacional do Livro de São Paulo. Ele é um médico apaixonado pelo amor – aparente pleonasmo. Em seu livro, aprofunda, com lucidez e simplicidade, o amor humano e a sexualidade.
Seu ponto de partida é que “a sexualidade se situa na base da vida de relação. Ora, dado que a relação é plenamente madura somente quando se torna uma verdadeira relação de amor, podemos também afirmar que a sexualidade está na base da possibilidade de ser amor que toda pessoa tem”.
E completa: “Ela estende sua influência inclusive à dimensão espiritual da existência”. E a fecundidade? “O aspecto fecundante da sexualidade não deve ser entendido num sentido exclusivamente físico, mas num sentido bem mais amplo".
Em seu livro, Scotto faz cada pessoa lembrar que o amor, quando é realmente amor, é sempre fecundo. "As relações humanas têm sentido quando são fecundas, quando geram vida nova, não tanto, ou não apenas, no plano físico, mas no plano espiritual”.
Scotto sabe também que os tempos atuais apresentam novas questões, que ele trata com grande respeito e sensibilidade: gênero, fidelidade, relações extraconjugais, homossexualidade.
O livro é didático, orientador, completo, embora sem a pretensão de esgotar o assunto.
Afinal, reconhece o autor, também para a sexualidade vale a constatação de que “as exigências do coração humano jamais poderão ser preenchidas por outra pessoa, porque em cada ser humano vive um infinito que lhe dá sentido”.
Klaus Brüschke
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