Revista Beneditina
Um caminho de verdadeira humanidade
Publicação do Mosteiro de Santa Cruz

A edição número 21 (maio/junho de 2007) da Revista Beneditina tem como tema “Um caminho de verdadeira humanidade”. Mostra, a partir da experiência monástica, como o cristianismo se desenvolve valorizando todas as dimensões da pessoa. Numa época em que se acusa o cristianismo de censurar e reprimir o ser humano, compreender esse “caminho de verdadeira humanidade” pode ser iluminador para todos.
No primeiro artigo, Antônio Henrique Campolina Martins escreve sobre a antropologia da Regra Beneditina, mostrando como esta rompe com a antropologia helenística presente na Regra do Mestre, regra monástica que foi uma das fontes da regra de São Bento. Os diferentes modelos antropológicos implicam em duas visões diferentes do ser humano e de sua realização. O modelo helenístico visto na Regra do Mestre proporá uma concepção de ser humano dividido em três dimensões essenciais: corpo, alma e espírito. O caminho ascético passará pela negação do corpo, que representa a vontade própria, vontade da carne, o pecado. Este caminho é um caminho de luta contra o pecado. Através da negação da carne o espírito poderá subir sem obstáculos rumo ao paraíso, a ser encontrado na vida eterna
O modelo antropológico bíblico da Regra Beneditina proporá um ser humano que se realiza na sua totalidade. Não existem dimensões essenciais a serem negadas e a ação, ao invés de ser negada, será pressuposto para a salvação. Vê-se o homem a partir de um circuito: mãos e pés, palavra e coração. Cabe ao cristão receber a palavra, interiorizá-la em seu coração e manifestá-la através de mãos e pés. A dimensão da ação se torna essencial para o caminho de realização. Através deste circuito o cristão caminhará para uma humanidade plena, a perfeita caridade. Assim, o caminho espiritual proposto pela Igreja é um caminho de unidade do ser, que busca sua totalidade, que não nega nenhuma de suas dimensões mas, ao contrário, realiza o homem através de cada uma dessas dimensões.
Na seqüência encontramos o texto de Dominique Struyf, apresentado numa conferência aos Superiores Maiores da Bélgica, falando da importância de se ter em vista as necessidades psíquicas do ser humano para identificar problemas pelos quais um indivíduo dentro de um grupo (casal, família, comunidade) ou todo um grupo podem estar passando. A doutora Struyf conta, a partir de sua experiência como diretora de um instituto psiquiátrico para crianças e adolescentes, como o reconhecimento das fragilidades e limitações são importantes para a verdadeira maturidade que permite um trabalho mais sereno com o grupo.
D. Matias Fonseca de Medeiros, em um artigo sobre a humildade, mostra o reconhecimento de que Deus veio ao encontro do homem para curá-lo de todos os males como caminho para superar limitações e fragilidades, bastando para isso a comunhão com o Pai através do amor a ele, inspirado pela humildade. D. Eugène Manning convida a uma breve reflexão sobre o perdão que, pela oração do Pai-nosso, pede a cada pessoa um exemplo de perdão para que Deus nos perdoe na mesma medida (“perdoai os nossos pecados, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”). Por fim, Padre Jean-Julien de Santo Tomás escreve sobre o olhar para Cristo, dando-nos uma amostra do que é a vida do monge: uma vida na constante companhia do Cristo, que deve ser reconhecido não apenas pelo monge, mas por qualquer cristão que queira experimentar ainda em vida a plenitude.