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A autonomia do idoso
Valdir Reginato
 

Valdir Reginato, médico, é membro do Centro de História e Filosofia das Ciências da Saúde da UNIFESP – CeHFi.


O crescimento da população considerada idosa, principalmente nos países desenvolvidos, tem levado a sociedade a refletir sobre como o século XXI deve se preparar para acolher esse significativo contingente de pessoas que reclama por atitudes que as tornem inseridas nas atividades cotidianas, assim como por medidas que as amparem nas deficiências que comprometem física e psicologicamente um organismo na terceira idade. O Brasil, sempre conhecido como o país da criança e do jovem, também concorre para estar nos próximos anos entre os seis países com maior número de idosos do mundo, com mais de 15% da população acima dos 60 anos de idade. Visando colaborar para a reflexão sobre essa realidade, o Núcleo Interdisciplinar de Bioética da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), com o apoio do Centro de História e Filosofia das Ciências da Saúde (CeHFi) e do Núcleo Fé e Cultura da PUC/SP, organizou no dia 27 de setembro último o evento “A Autonomia do Idoso”.

Na abertura, o o professor Marco Túlio, da UNIFESP, apresentou uma visão das necessidades a que o idoso precisa se adaptar para não se sentir desamparado e isolado no mundo atual. A capacidade de mudança do idoso é limitada, e vivemos num mundo de transformações permanentes, onde o que se compra hoje está superado amanhã, e qualquer novidade já é questionada antes mesmo de ser divulgada. A exagerada valorização da estética faz com que o idoso sinta-se diminuído em sua auto-estima ou tenha de se submeter a programas violentos do “rejuvenescimento”. A redução do número de membros de uma família e as mudanças dos hábitos familiares são outras das preocupações apresentadas pelo professor Marco Túlio, que se manifestou contrário à idéia dos asilos como alternativa para abrigar os idosos. Grande parte desses asilos, que vêm crescendo em número principalmente nos grandes centros metropolitanos, funciona como “depósito de velhos”, sem quaisquer condições para o acolhimento condigno do idoso.

Já o professor Luis Alberto Saporetti, geriatra, do Hospital das Clínicas e da Faculdade de Medicina da USP, fez considerações clínicas a respeito do envelhecimento, destacando que a diminuição da capacidade física do idoso depende muito de seu ritmo de vida, de seus hábitos comportamentais e alimentares, e que é possível e desejado que essa etapa da vida seja alcançada em pleno vigor. As limitações decorrentes, sobretudo, de doenças crônicas e degenerativas diminuem cada vez mais, amparadas por recursos terapêuticos que tornam possível a readaptação do idoso à vida social. Assim, não é mais surpresa a expectativa de vida superar, nos países desenvolvidos, a idade dos 80 anos. O professor Saporetti procurou desmistificar as “fórmulas da juventude”, que não possuem credibilidade científica. Os melhores resultados, para quem busca envelhecer com saúde, vêm da manutenção de atividades de trabalho sistemático, dentro das possibilidades de cada um, e da preservação de objetivos de vida. A leitura, os trabalhos manuais, o convívio social, uma dedicação moderada aos exercícios físicos (conforme orientação médica) e os cuidados com a alimentação continuam a ser as recomendações mais importantes.

Na segunda etapa do evento, com a colaboração da psicóloga Claudia Ajzen, da Universidade da Terceira Idade (UATI-UNIFESP), apresentei vários casos clínicos para que se discutisse a questão da autonomia do idoso nas suas dimensões de dependência física e/ou mental. Entre os aspectos abordados, sobressaem a dinâmica familiar dos pacientes idosos e a interferência desses pacientes no cotidiano de seus filhos e parentes próximos, além das implicações da presença do cuidador. A colaboração da família é fundamental para o prognóstico do paciente idoso comprometido. O apoio aos que cuidam diretamente do idoso deve exigir uma colaboração indireta ou direta de todos os envolvidos. Mudar o idoso de casa periodicamente, para aliviar a situação individual dos membros da família, não é a melhor alternativa, levando em consideração as grandes dificuldades de adaptação a cada troca de moradia. Subsidiar um dos responsáveis em condições de manter o idoso é sempre melhor que mudá-lo. Preparar os familiares para os eventos que se seguem a uma determinada seqüela neurológica ou pós-operatória, ou de degeneração mental (como a decorrente do mal de Alzheimer) é tarefa da equipe de saúde, que deve colaborar para que as medidas pertinentes sejam preparadas antecipadamente e o processo de adaptação seja menos doloroso. Promover a participação do idoso das atividades familiares cotidianas que lhe sejam possíveis é um modo de valorizar e responsabilizar a pessoa mais velha. Mesmo as pessoas muito limitadas em suas funções motoras devem permanecer ocupadas mediante constantes solicitações, quando o nível cognitivo estiver preservado. Rezar por alguém, por exemplo, não exige trabalho físico e promove um bem ilimitado, ainda mais quando a pessoa que reza é também uma pessoa doente.

Concluindo o evento, o doutor Edi Fonseca Lago, da Promotoria Pública, apresentou e discutiu o Estatuto do Idoso recentemente aprovado. Ele destacou as intenções do Estatuto, que, em tese, favorecem não só a inserção do idoso na sociedade, mas também a proteção de seus direitos no que diz respeito a cuidados com a saúde e bem-estar social. Contudo, o debate entre os participantes das diferentes áreas da saúde confirmou que a concretização do Estatuto parece, hoje, uma realidade muito distante. As boas intenções da lei dependem, para se concretizar, de um grande esforço de conscientização de diferentes instituições da sociedade, traduzido em atitudes que vão desde a construção de ambientes que possam acolher melhor o idoso até medidas ordinárias como a adaptação de banheiros públicos, a manutenção de assentos em veículos coletivos, a instalação de apoios em escadas de edifícios públicos, etc., passando, evidentemente, por uma melhoria da assistência à saúde e pela criação de condições que permitam gerar trabalho digno para aqueles que desejam continuar em atividade.

A colaboração para a qualidade de vida do idoso de hoje é uma maneira de compreendermos melhor a dignidade dos que nascem para uma expectativa de vida mais longa, com sentido e direção para a eternidade que aguarda a todos no amanhã.

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