* Dom Filippo Santoro é bispo auxiliar do Rio de Janeiro. Artigo extraído de O Globo, edição de 24 de novembro de 2003.
Um adolescente de 16 anos se envolve no assassinato de uma jovem e do seu namorado, como mandante de um crime revoltante. Qual é a razão de tanta ofensa à dignidade humana? Entre as muitas causas se destaca uma: a falta de uma educação que leve ao respeito do valor da vida. A ausência de uma perspectiva maior faz com que tudo se reduza ao consumo, ao prazer imediato, ao comércio e à posse das coisas.
É necessária uma verdadeira educação que ilumine o ser humano sobre sua origem, seu destino e sobre o valor de seus atos. É isto que torna necessário o ensino religioso na escola pública e a atuação do professor de religião, tão importante quanto a do professor de português ou de matemática.
Algumas pessoas poderão dizer: “Certo, o ensino religioso é útil, mas que seja administrado de uma forma light, apresentando os princípios gerais do fenômeno religioso e da ética, sem referência específica a nenhuma religião”. Esse é o ensino religioso que está sendo administrado atualmente pelo Estado em todo o país, e que pode ser dado por qualquer professor. Os resultados estão diante dos olhos. Quando esse tipo de ensino é oferecido, o aluno fica perdido e confuso, porque os professores podem fazer violência aos credos, ou mesmo destruir o significado autêntico da experiência religiosa.
As leis aprovadas no estado e no município do Rio de
Janeiro indicam um outro caminho, porque defendem a liberdade de escolher a educação religiosa julgada mais adequada pelas famílias e pelos jovens, incluindo a possibilidade, para quem se declara ateu, de não utilizar essa opção de ensino.
O Estado deve oferecer garantias às várias religiões presentes no país, para que possam expressar-se livremente e comunicar-se às novas gerações no seu aspecto cultural
e doutrinário nas escolas,
deixando os aspectos cultuais e catequéticos aos templos e às várias comunidades religiosas.
A forma de ensino que mais respeita a seriedade de uma proposta pedagógica e a liberdade das famílias é o ensino confessional e pluralista. O pluralismo comporta a convivência, o respeito e o diálogo entre diferentes visões da vida, não o esvaziamento das diversas identidades culturais e religiosas. Infelizmente, na nossa sociedade, assistimos ao esvaziamento das várias identidades e à afirmação de uma visão da vida puramente oportunista e individualista, que reduz tudo ao próprio interesse, prazer e comodismo.
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