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Sede do infinito
Filippo Santoro
 

Diante de uma tragédia como a que vitimou a cantora Cássia Eller, a primeira atitude que se impõe é a de um profundo respeito por uma pessoa que, demonstrando a sua insatisfação diante de todos os cânones e regras estabelecidas, escolhe o caminho da revolta, pagando com a sua própria pele. As formas atrevidas de encarar a sociedade, e a recusa de todos os esquemas, revelam uma audácia que escandaliza qualquer tipo de conformismo social, moral e religioso.

Uma certa transgressão, hoje, é chique, dentro dos quadros da sociedade que se poderia chamar de libertina: um pouco de droga, um baseado... sem exagero... Pelo contrário, esta morte dramática revela um pouco daquilo que é o coração do homem: um mistério profundo e insondável, insatisfeito com as meias medidas.

Duas são as atitudes que ultimamente resgatam a estatura do ser humano: a anarquista e a autenticamente religiosa. O coração é sede ardente de infinito; o infinito está dentro do ser, no sangue, na respiração. "O anarquista é a afirmação de si até o infinito; o homem autenticamente religioso é a afirmação do infinito como significado de si" (L. Giussani, "O senso religioso").

Partimos desta profunda simpatia e respeito pela cantora que deixa a cena no auge do sucesso. Mas o coração fica por acaso satisfeito diante do ponto final desta história? O que grita, diante de tanta audácia, o fato da morte?

É possível a plenitude do desejo sem se destruir? Ou a única alternativa é ficar acomodado aos cânones da mentalidade dominante, sem exagerar muito? Existe um outro caminho para a alma ferida de amor? Só se ela encontrasse uma pessoa concreta com o infinito no olhar e no coração, um infinito que é um Outro presente entre nós.

Diante desse drama, o problema da custódia do Chicão é que ele encontre alguém que o ajude a descobrir o mistério pelo qual sua mãe viveu e morreu — e isso, normalmente, para toda criança, deveria ser a família. Mas, se toda a sua família prefere que seja a companheira da mãe, esta, neste caso, é uma solução, mesmo que parcial, porque a figura do pai é essencial para o desenvolvimento da personalidade. A psicologia mais elementar documenta que, na educação da criança, o elemento feminino, sozinho, oferece proteção, mas cria uma pessoa insegura diante da realidade; o elemento masculino, sozinho, cria uma pessoa violenta.

Somente uma família constituída segundo a variedade dos elementos paternos e maternos é capaz de educar. Mas isso, no nosso caso, já não existia antes; a mentalidade dominante já imperava com as suas novas normas e meias transgressões.

A grande alternativa que temos é: ou destruir qualquer lei da natureza, ou descobrir nela a presença do Infinito.

 
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