Partindo de uma iniciativa do Arcebispo de São Paulo, D. Cláudio Hummes, de criar ocasiões de encontro entre a experiência religiosa e o homem de hoje em todas as suas expressões culturais, a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo lançou o Núcleo Fé e Cultura - um espaço de diálogo, dentro de uma proposta interdisciplinar. O lançamento aconteceu no dia 2 de junho, na PUC de São Paulo, no campus da Marquês de Paranaguá, com a presença do Arcebispo, do reitor da PUC, Prof. Dr. Antônio Carlos Caruso Ronca, do padre Vando Valentini, pároco da capela universitária da PUC e coordenador do Núcleo, e com depoimentos dos professores Luiz Eduardo Wanderley (Ciências Sociais, PUC-SP), Yves Gandra da Silva Martins, Paulo Nogueira Neto (Ecologia, USP), Ana Lydia Sawaya (Nutrição, Universidade Federal Paulista) e da escritora Lygia Fagundes Telles.
Segundo o Arcebispo de São Paulo, D. Claudio Hummes, é de importância fundamental para uma grande cidade como São Paulo, que interliga muitas histórias, reativar a vertente da fé cristã. “Buscamos interligar o mundo cristão à tecnologia e fundamentar um diálogo entre a fé e este mundo, rever a força de comunicação da fé, transmitir valores modernos retomando os critérios de liberdade e da individualidade. A fé ajuda a reagir e não fecha as pessoas na sua individualidade, reativando os valores fundamentais do homem que vão além do indivíduo. Espero que o Núcleo vá encontrando seu caminho dentro da cidade e reative esse momento de diálogo e encontro entre as pessoas”, completa D. Cláudio. Para ele o Núcleo vai possibilitar um diálogo entre a fé e a razão, a fé e a ciência, a fé e a pesquisa científica e a fé e a cultura, permitindo que a sociedade e a universidade possam dialogar “preocupadas em buscar os fundamentos básicos de uma ética no mundo de hoje”.
Segundo o coordenador do Núcleo, padre Vando Valentini, a proposta é atingir profissionais de todas as áreas do saber, sendo aberta a todos que tenham interesse nesse diálogo e que desejam estar inseridos na vida da cidade de São Paulo e da sua população. “A novidade é ser uma ocasião de encontro do homem, porque encontrar a cultura é encontrar o homem em suas mais variadas formas de se expressar, dentro de suas necessidades fundamentais: beleza, verdade e justiça. Não é uma busca intelectual mas um desejo de encontrar o homem tal qual ele é”, explica o padre Vando Valentini.
Para isso os organizadores do Núcleo iniciaram uma série de encontros pessoais com professores, estudantes universitários, pesquisadores, formadores de opinião, lideranças políticas e sociais interessadas nessa reflexão. Através desses encontros, mais de 80 pessoas de diversas universidades de São Paulo e Campinas foram contatadas e deram seu apoio ao projeto.
Segundo o padre Vando, o Núcleo está aberto à cidade. “Não temos um projeto fechado. O Núcleo vai se fazendo a partir das pessoas e com o objetivo de abraçar toda a realidade. Neste momento de crise a Igreja mostra uma possibilidade real de diálogo, não por uma genialidade mas por causa da humanidade de Cristo vivo, através de quem o segue com verdade. É um momento importante para a Igreja: quando as ideologias constróem uma imagem artificial do homem, manipulado pelo poder, ela propõe encontrar o homem sem preconceitos, sem impor a ele uma imagem pré-concebida”, afirma. Ele também destacou que o Núcleo marca um desejo da PUC de ser um centro de referência e um lugar de encontro de centros universitários, contrário à fragmentação.
O Núcleo já conta com um programa mínimo de trabalho. Depois do lançamento, aconteceu em 8 de junho o seminário “Fé e Liberdade a partir da Fides et Ratio”, com a presença do D. Angelo Scola, Reitor da Pontifícia Universidade do Latrão (Cidade do Vaticano), na PUC de São Paulo. Para o final de outubro já está marcado um encontro acadêmico de dois dias sobre o tema “Interesse pelo Humano: Raiz da Cultura”, com mesas redondas e sessões de trabalho, e que vai gerar a primeira publicação do Núcleo, os Anais do encontro. Outros temas que serão trabalhados incluem a questão da fé e da cultura nas grandes religiões, a retomada do significado da experiência cristã e o problema da morte, as novas tecnologias e o homem.
Durante o lançamento do Núcleo, no dia 2 de junho, na PUC de São Paulo, o advogado Yves Gandra Martins destacou que após todos os depoimentos da noite, via pouco conflito entre a fé e a cultura: a fé já antecipou muito do conhecimento da ciência e só existe antagonismo para aqueles que colocam a ciência acima da realidade. Ele vê uma união entre a fé e a cultura através do elemento ético. “Sem ética existe a eliminação da verdade. Se há busca de verdade há busca de valores e não existe ciência sem ética e valores. E a fé ilumina o ser que busca conhecimento para que os valores confirmem a verdade da ciência: a fé se faz com a busca pela verdade”, afirma.
Para a escritora Lygia Fagundes Telles, em seu ofício de escritora o diálogo que seduz o leitor estende uma ponte entre ela e o outro. Aí entra a fé, a chave do ofício de escrever: é o desejo de um diálogo com o outro e a busca da beleza. Ela terminou sua apresentação com uma frase de João Cabral de Melo Neto: “Podeis saber que o homem é sempre a melhor medida, mas a medida do homem não é a morte, mas a vida”.
Não faltou também um toque de poesia. Bruno Tolentino, da revista Bravo, declamou, de improviso, um poema lembrando que o motivo de todo o encontro e do próprio Núcleo é o Ressuscitado. |