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Um espaço de diálogo entre fé e cultura
Ana Luisa Mahlmeister
 

Reportagem sobre o lançamento do Núcleo Fé e Cultura, em 2 de junho de 2000. Matéria publicada originalmente em Passos Litterae Communionis nº 9, julho de 2000

 

Partindo de uma iniciativa do Arcebispo de São Paulo, D. Cláudio Hummes, de criar ocasiões de encontro entre a experiência religiosa e o homem de hoje em todas as suas expressões culturais, a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo lançou o Núcleo Fé e Cultura - um espaço de diálogo, dentro de uma proposta interdisciplinar. O lançamento aconteceu no dia 2 de junho, na PUC de São Paulo, no campus da Marquês de Paranaguá, com a presença do Arcebispo, do reitor da PUC, Prof. Dr. Antônio Carlos Caruso Ronca, do padre Vando Valentini, pároco da capela universitária da PUC e coordenador do Núcleo, e com depoimentos dos professores Luiz Eduardo Wanderley (Ciências Sociais, PUC-SP), Yves Gandra da Silva Martins, Paulo Nogueira Neto (Ecologia, USP), Ana Lydia Sawaya (Nutrição, Universidade Federal Paulista) e da escritora Lygia Fagundes Telles.

Segundo o Arcebispo de São Paulo, D. Claudio Hummes, é de importância fundamental para uma grande cidade como São Paulo, que interliga muitas histórias, reativar a vertente da fé cristã. “Buscamos interligar o mundo cristão à tecnologia e fundamentar um diálogo entre a fé e este mundo, rever a força de comunicação da fé, transmitir valores modernos retomando os critérios de liberdade e da individualidade. A fé ajuda a reagir e não fecha as pessoas na sua individualidade, reativando os valores fundamentais do homem que vão além do indivíduo. Espero que o Núcleo vá encontrando seu caminho dentro da cidade e reative esse momento de diálogo e encontro entre as pessoas”, completa D. Cláudio. Para ele o Núcleo vai possibilitar um diálogo entre a fé e a razão, a fé e a ciência, a fé e a pesquisa científica e a fé e a cultura, permitindo que a sociedade e a universidade possam dialogar “preocupadas em buscar os fundamentos básicos de uma ética no mundo de hoje”.

Segundo o coordenador do Núcleo, padre Vando Valentini, a proposta é atingir profissionais de todas as áreas do saber, sendo aberta a todos que tenham interesse nesse diálogo e que desejam estar inseridos na vida da cidade de São Paulo e da sua população. “A novidade é ser uma ocasião de encontro do homem, porque encontrar a cultura é encontrar o homem em suas mais variadas formas de se expressar, dentro de suas necessidades fundamentais: beleza, verdade e justiça. Não é uma busca intelectual mas um desejo de encontrar o homem tal qual ele é”, explica o padre Vando Valentini.

Para isso os organizadores do Núcleo iniciaram uma série de encontros pessoais com professores, estudantes universitários, pesquisadores, formadores de opinião, lideranças políticas e sociais interessadas nessa reflexão. Através desses encontros, mais de 80 pessoas de diversas universidades de São Paulo e Campinas foram contatadas e deram seu apoio ao projeto.

Segundo o padre Vando, o Núcleo está aberto à cidade. “Não temos um projeto fechado. O Núcleo vai se fazendo a partir das pessoas e com o objetivo de abraçar toda a realidade. Neste momento de crise a Igreja mostra uma possibilidade real de diálogo, não por uma genialidade mas por causa da humanidade de Cristo vivo, através de quem o segue com verdade. É um momento importante para a Igreja: quando as ideologias constróem uma imagem artificial do homem, manipulado pelo poder, ela propõe encontrar o homem sem preconceitos, sem impor a ele uma imagem pré-concebida”, afirma. Ele também destacou que o Núcleo marca um desejo da PUC de ser um centro de referência e um lugar de encontro de centros universitários, contrário à fragmentação.

O Núcleo já conta com um programa mínimo de trabalho. Depois do lançamento, aconteceu em 8 de junho o seminário “Fé e Liberdade a partir da Fides et Ratio”, com a presença do D. Angelo Scola, Reitor da Pontifícia Universidade do Latrão (Cidade do Vaticano), na PUC de São Paulo. Para o final de outubro já está marcado um encontro acadêmico de dois dias sobre o tema “Interesse pelo Humano: Raiz da Cultura”, com mesas redondas e sessões de trabalho, e que vai gerar a primeira publicação do Núcleo, os Anais do encontro. Outros temas que serão trabalhados incluem a questão da fé e da cultura nas grandes religiões, a retomada do significado da experiência cristã e o problema da morte, as novas tecnologias e o homem.

Durante o lançamento do Núcleo, no dia 2 de junho, na PUC de São Paulo, o advogado Yves Gandra Martins destacou que após todos os depoimentos da noite, via pouco conflito entre a fé e a cultura: a fé já antecipou muito do conhecimento da ciência e só existe antagonismo para aqueles que colocam a ciência acima da realidade. Ele vê uma união entre a fé e a cultura através do elemento ético. “Sem ética existe a eliminação da verdade. Se há busca de verdade há busca de valores e não existe ciência sem ética e valores. E a fé ilumina o ser que busca conhecimento para que os valores confirmem a verdade da ciência: a fé se faz com a busca pela verdade”, afirma.

Para a escritora Lygia Fagundes Telles, em seu ofício de escritora o diálogo que seduz o leitor estende uma ponte entre ela e o outro. Aí entra a fé, a chave do ofício de escrever: é o desejo de um diálogo com o outro e a busca da beleza. Ela terminou sua apresentação com uma frase de João Cabral de Melo Neto: “Podeis saber que o homem é sempre a melhor medida, mas a medida do homem não é a morte, mas a vida”.

Não faltou também um toque de poesia. Bruno Tolentino, da revista Bravo, declamou, de improviso, um poema lembrando que o motivo de todo o encontro e do próprio Núcleo é o Ressuscitado.

 
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