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Discurso proferido por Dom Odilo Pedro Scherer para o Conselho Universitário da PUC
Dom Odilo Scherer
 

Primeiro encontro de Dom Odilo, na qualidade de Grão Chanceler, com a comunidade universitária, em 11 de junho de 2007.


Saudações:
         Prof.a Maura  P.Bicudo Veras, DD. Reitora da PUC
         Prof.a  Bader Burihan Sawaia, , DD. Vice-Reitora Acadêmica
         Prof. Flávio Mesquita Saraiva, Vice-Reitor Administrativo,
         Prof. João Décio Passos, Vice-Reitor Comunitário
         Digníssimos membros do Conselho Superior da Pontifícia Universidade Católica,
         Excelentíssimos Senhores Bispos Auxiliares de S.Paulo, membros do Conselho da Fundação São Paulo, Mantenedora da PUC
         Demais Autoridades presentes...
         Representantes da Comunidade Universitária da PUC,
Professores, Estudantes, Funcionários...
         Senhoras e senhores,

A nomeação como Arcebispo metropolitano de São Paulo, pelo papa Bento XVI, conferiu-me também as funções reservadas pelo Estatuto desta Pontifícia Universidade Católica de São Paulo ao seu Grão-Chanceler.

Sinto-me muito honrado por esta elevada incumbência numa Instituição de tanto prestígio e que já prestou tão relevantes serviços à comunidade. Vim, pois, para me apresentar à Comunidade Universitária.        Desejo saudar as altas Autoridades Acadêmicas da Universidade e os representantes dos diversos corpos e organismos que integram a Comunidade Universitária.

A história da PUC inicia com a sua fundação, em 1946, pelo grande Arcebispo metropolitano de São Paulo, o Cardeal Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, sob o pontificado do papa Pio XII.

O mundo se refazia, então, do trauma da 2ª. grande guerra mundial, cujos horrores mostravam a falência das propostas totalitárias de sociedade e levantavam até mesmo suspeitas sobre a capacidade humana de administrar a agressividade, a violência e o instinto destruidor do ser humano. Naquele momento doloroso da história recente da humanidade, era preciso buscar novas luzes e suscitar energias novas para a organização da convivência e das atividades da comunidade humana, dando-lhe esperança e perspectivas para um futuro de paz; era preciso propor referências sólidas e rumos seguros para sanear e reconstruir a cultura. Foi aquele o contexto histórico da fundação da PUC de São Paulo.

A cidade de São Paulo estava, então, em franco crescimento e precisava preparar as jovens gerações para a participação positiva no seu desenvolvimento; a PUC passou a fazê-lo com uma proposta pedagógica inspirada em sólidos valores humanos e cristãos, inicialmente, sobretudo, na área das ciências humanas. Em 1949, já se encontrava em processo de ampliação; para abrigar em local mais adequado suas instalações e os novos cursos, a PUC veio para este espaço, nas Perdizes, que foi do Convento das Carmelitas Descalças. O local, que havia servido, sobretudo, à oração e à contemplação da Verdade eterna, passou a servir às atividades acadêmicas, também destinadas à investigação sobre a verdade e à sua aplicação à existência humana.

A PUC atravessou tempos difíceis no período de repressão das liberdades democráticas no Brasil, quando suas instalações foram violadas e até mesmo depredadas pelas forças da repressão; no entanto, a PUC conseguiu manter-se como um centro de resistência democrática da sociedade e da intelectualidade, na defesa da liberdade e dos direitos humanos.

Ao longo dos mais de 60 anos de sua existência, a PUC passou por um processo de constante amadurecimento e de afirmação da razão de ser de sua existência, com excelente qualidade acadêmica e com reconhecidos serviços prestados à sociedade, articulando a proposta do humanismo cristão com os princípios da liberdade na pesquisa do conhecimento e do compromisso social.

Hoje a PUC está se adequando às novas realidades do Brasil e do mundo. O processo de veloz globalização e as transformações sociais, econômicas e culturais do nosso tempo trazem novas demandas para o mundo universitário e requerem posturas novas, onde é preciso conjugar a indispensável qualidade acadêmica, a necessária expansão e a oferta de uma proposta pedagógica diferenciada, que manifeste a natureza e a identidade próprias da PUC, com  sua sustentabilidade administrativa.
Parte dessa adequação às novas realidades é também o processo de revisão do Estatuto da PUC, que é desejável e mesmo necessário, levando em conta as orientações da Igreja para as Universidades Católicas na Constituição Apostólica Ex corde Ecclesiae, do papa João Paulo II (1990). Desejo, pois, encorajar o Conselho Superior da Universidade a levar avante esse processo de revisão e adequação das estruturas da Universidade à sua natureza própria e às suas novas necessidades, permitindo-lhe cumprir mais eficazmente sua missão. A Fundação São Paulo, Mantenedora continuará a oferecer sua presença e seu apoio, enquanto Mantenedora da PUC.

A Universidade Católica, no entender da Igreja, é “uma comunidade acadêmica que contribui, de modo rigoroso e crítico, para a defesa e o desenvolvimento da dignidade humana e para a herança cultural, mediante a investigação o ensino e os diversos serviços prestados à comunidade. Para tanto, ela goza daquela autonomia institucional que é necessária para cumprir, eficazmente, suas funções e garante aos seus membros a liberdade acadêmica na salvaguarda dos direitos do indivíduo e da comunidade no âmbito das exigências da verdade e do bem comum (Cf. Concílio Vaticano II, Gravissimum educationis, n. 10; João Paulo II, Ex corde Ecclesiae, 1990, n. 12).

A existência de uma Pontifícia Universidade Católica tem como objetivos assegurar, de forma institucional, uma presença cristã no mundo universitário, na sociedade e no mundo da cultura; viabilizar e articular uma reflexão constante, à luz da fé católica e na fidelidade a ela, sobre o tesouro crescente do conhecimento humano, ao qual procura dar uma contribuição mediante suas próprias investigações; servir ao povo de Deus e à família humana no seu caminho rumo à realização do significado e do objetivo transcendente de sua existência  (cf. João Paulo II, Ex corde Ecclesiae, rio e no mundo da cultura, viabilizando uma reflexistas para o mundo universitn. 13).

Ainda recordando palavras do Papa João Paulo II no Documento apenas citado, as Universidades Católicas são impregnadas pelos ideais, atitudes e princípios católicos, que também modelam as atividades universitárias, de acordo com a natureza e a autonomia próprias de tais atividades; os estudiosos examinam a fundo a realidade, com os métodos próprios de cada disciplina acadêmica, e contribuem para o enriquecimento do tesouro dos conhecimentos humanos (cf n. 14-15).

As Universidades Católicas caracterizam-se, pois, como unidades vivas de organismos voltados para a investigação da verdade e também para a promoção do necessário diálogo entre fé e razão, ambas voltadas para a única e originária verdade (cf n. 16-17). De fato, “fé e razão são duas asas com as quais o espírito humano se eleva à contemplação da verdade” (cf João Paulo II, Fides et ratio, Preâmbulo). As coisas terrenas e as realidades da fé têm, com efeito, a mesma origem suprema, que é o próprio Deus. A integração vital dos dois níveis de conhecimento da única verdade conduz a um apreço maior pela própria verdade e contribui para uma compreensão mais ampla do significado da vida humana e da existência deste mundo.

Por isso mesmo, recorda ainda o Papa João Paulo II, dado que o saber deve servir à pessoa humana, a investigação numa Universidade Católica sempre se faz com a preocupação das implicações éticas e morais, quer nos métodos, quer nas descobertas; essa preocupação é tanto mais necessária no campo da investigação científica e tecnológica, onde o primado da pessoa sobre as coisas, e de Deus sobre o homem, deve ser sempre salvaguardado (cf n. 18).

É uma honra e uma grande responsabilidade para a Universidade Católica consagrar-se, sem reservas, à causa da verdade. Esta é sua maneira de servir, ao mesmo tempo, à dignidade humana e à missão da Igreja, que também está a serviço da verdade e do bem da humanidade. Sem nenhum desprezo pela aquisição de conhecimentos úteis, a Universidade Católica distingue-se por sua livre investigação de toda verdade sobre a natureza, o homem e Deus; e nossa época tem necessidade urgente desta forma de serviço abnegado, que é proclamar o sentido da verdade, valor fundamental sem o qual se extinguem a liberdade, a justiça e a dignidade do homem. A Igreja tem a convicção de que o amor à verdade e o empenho corajoso em todos os caminhos do saber  orientam, finalmente, na direção Daquele que é o “caminho, a verdade e a vida” e são acompanhados por Aquele, que é o Espírito de inteligência e concede à pessoa humana a sabedoria verdadeira, sem a qual o bem da sociedade e o futuro do mundo estariam comprometidos (cf n. 4).

Somos hoje herdeiros e beneficiários de uma Universidade fundada com grande idealismo e que constitui um patrimônio da comunidade paulistana. Cabe-nos zelar por este legado e ajudar a PUC a realizar plenamente sua missão neste período da sua história. Há poucos dias, foi concluída, em Aparecida, a V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe. Orientada pelo tema – “discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que nele nossos povos tenham vida. Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. Durante a Conferência de Aparecida, os participantes vindos de todos os países do Continente Americano, examinaram e avaliaram a situação da Igreja e da vida dos povos nesses países; depois definiram diretrizes para o trabalho da Igreja e de todas as suas organizações e instituições no meio desses povos. Apreço especial foi reservado para a atuação das Universidades Católicas e das outras instituições educacionais da Igreja; sua contribuição para a vida dos nossos povos é muito importante.
Ao mesmo tempo, a Conferência de Aparecida entendeu ser urgente uma atenção renovada das Universidades Católicas para os fenômenos sociais, econômicos, culturais e políticos do nosso tempo. A globalização resultante das novas tecnologias da informação e comunicação, em especial a globalização da economia, são processos amplos e envolventes, que estão mudando profundamente paradigmas culturais, comportamentos e a própria convivência humana; afetam e comprometem até mesmo o futuro da vida no nosso planeta. Para onde tudo isso leva a comunidade humana?

Por outro lado, a Conferência estimula e encoraja as Instituições universitárias ligadas à Igreja a prepararem com discernimento e coragem novas lideranças para a sociedade, formando-as nos princípios da antropologia cristã e da doutrina social da Igreja. Tais princípios, de fato, traduzem o Evangelho de Cristo para as práticas da convivência humana. Desta forma, as Universidades Católicas contribuirão com a sua parte específica para a realização da missão da Igreja, a fim de que nossos povos superem as suas dificuldades, como as injustiças sociais cristalizadas na sua organização social, política e econômica, o desrespeito à vida, a violência, a miséria e toda forma de aviltamento da dignidade humana. Nossas Universidades Católicas deverão ser laboratórios de onde saem propostas efetivas para uma sociedade orientada pelos princípios do respeito, da justiça, da solidariedade e da paz.

Ao encerrar estas palavras, agradeço mais uma vez a acolhida a mim reservada, enquanto Grão-Chanceler da PUC. Agradeço as palavras de acolhida e desejo responder logo ao convite para conhecer as instalações e os vários Campi da Universidade; estarei muito interessado na vida e no bom desempenho desta Universidade. Encorajo toda a Comunidade Universitária para cultivar grande amor e dedicação a esta instituição; é um patrimônio que, hoje, está em nossas mãos, para usufruamos dele, para que o façamos render da melhor forma para o bem da sociedade, e para que o passemos às futuras gerações enriquecido com nossa experiência e a marca de nossa contribuição.

Deus abençoe e ilumine a todos!
São Paulo, 11 de junho de 2007

Dom Odilo Pedro Scherer

Arcebispo Metropolitano de São Paulo
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