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A Doutrina Social da Igreja em “Jesus de Nazaré” de Bento XVI
Esse artigo é uma colaboração do

Stefano Fontana
Stefano Fontana, filósofo, é diretor do Observatório Van Thuân sobre a Doutrina Social da Igreja.

No seu livro “Jesus de Nazaré”, o papa Bento XVI mostra que Cristo, ao propor a plena realização da lei, e não sua revogação, separa a ordem laica da ordem religiosa, criando – de forma positiva – o que hoje chamamos de laicismo. Mas, ao mesmo tempo, estabelece fundamentos para a vida humana que nenhuma ordem social pode realizar plenamente.


A expressão “Doutrina social cristã” é usada uma vez no livro Jesus de Nazaré de Joseph Ratzinger – Bento XVI. Em que contexto é utilizada? Nas reflexões sobre o quarto mandamento, que o Papa conduz em dialogo com o teólogo hebreu Jacob Neusner.
Cristo constrói uma comunidade nova e assim faz morrer o “Israel eterno” que é fundado na Torah. Mata a família e a estirpe, os laços carnais, destrói a lei do sábado e não oferece uma estrutura social realizável concretamente mas um “Novo Israel” portador de uma promessa universal.
Neusner entende que esta pretensão pode derivar apenas de Deus, mas não renuncia ao Israel eterno, à comunidade fundada no sangue e na lei. Bento XVI, ao contrário, pensa que Jesus não supera a Torah mas a leva ao seu cumprimento.
É um ponto fundamental de todo o livro, com conseqüências importantes para a Doutrina Social da Igreja. Fundando uma comunidade universal, o cristianismo liberou os ordenamentos políticos e sociais concretos de seu elemento religioso imediato e portanto, fundou a laicidade.
Cristo não eliminou a Torah, a lei, mas a confiou a uma razão capaz de discernir - que já estava presente na própria Torah. Não é formulado um ordenamento social. Porém, são dados, seguramente, critérios fundamentais, básicos para o estabelecimento dos ordenamentos sociais, ainda que, todavia, não possam encontrar realização plena em nenhum ordenamento social.
Nasce aqui a Doutrina social cristã. Completa Bento XVI: “A tentação hoje muito difundida de interpretar o Novo Testamento em um modo puramente espiritual, privando-o de toda relevância social e política, está nesta direção”. Em qual direção? Na direção de liberar o Novo Testamento do Velho, a lei nova da Torah, a lei do domingo da lei do sábado.

 
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