O Vaticano divulgou nesta terça-feira, dia 10 de julho, um documento, datado de 29 de junho último, que esclarece questões doutrinais internas da Igreja Católica Apostólica Romana. Este texto reafirma de modo claro que a Igreja Católica reúne todos os requisitos da Igreja cristã fundada originalmente por Jesus Cristo e seus apóstolos e esclarece o que já foi afirmado no documento "Dominus Iesus", divulgado no ano 2000.
Estes esclarecimentos, apesar de tratarem de um assunto polêmico, não trazem em si nenhum elemento novo que atinja a causa da unidade dos cristãos, pois são todos assuntos já postos na mesa dos diálogos ecumênicos. O texto é obra da Congregação para a Doutrina da Fé, tendo sido previamente aprovado pelo Papa Bento XVI para publicação, em forma literária de perguntas e respostas, sem maior desenvolvimento das questões. O atual Prefeito da Congregação, cardeal William Levada, e seu Secretário, monsenhor Angelo Amato, assinam o documento.
As “respostas” mostram que Bento XVI continua firme em suas convicções de defender o Cristianismo contra o relativismo contemporâneo e para isto ele aponta para a Igreja Católica como a única que, através de sua continuidade histórica, é capaz de manter uma referência moral e religiosa da herança cristã. Ao afirmar isto, o Papa indica que apenas na Igreja Católica estes valores podem ser encontrados de forma plena, pois nela subsistem os valores imutáveis do Cristianismo originário. Nas outras comunidades eclesiais cristãs, de acordo com o documento, estes valores estão presentes, mas com uma certa deficiência, tendo em vista que as mesmas não possuem a plenitude dos elementos da única Igreja de Cristo, segundo a auto-consciência da Igreja Católica.
Estes esclarecimentos são considerados salutares para a caminhada ecumênica, pois reafirmam a identidade da Igreja Católica e, conseqüentemente, chamam às demais Igrejas cristãs a refletirem sobre a sua eclesiologia e identidade. Isto permitirá continuar num diálogo franco e aberto. Bento XVI, em sua recente visita ao Brasil, reafirmou o compromisso da Igreja Católica para com o ecumenismo, apontando para o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC) como canal de diálogo com outras denominações cristãs. A palavra chave aqui, reafirmada no documento de ontem, é “diálogo”. O subsecretário da Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano, Pe. Agostinho di Noia, afirma que o documento visa esclarecer a identidade da Igreja Católica, mas não altera o compromisso da mesma com o diálogo ecumênico.
Apesar de toda a repercussão na mídia, lembrando o sucedido no ano 2000 com a “Dominus Iesus”, convidamos a todas as Igrejas cristãs a continuarem refletindo e orando intensamente pela perfeita recomposição da plena unidade de todos os cristãos, cada uma dentro de sua própria identidade, mas sempre abertos ao diálogo e à partilha da fé. Devemos cada um fazer um exame de consciência diante do Senhor, pelo fato da unidade ainda não ter sido alcançada por conta de nossas falhas. O Espírito Santo continua agindo no mundo ecumênico, apesar de nós. O diálogo entre as Igrejas é uma resposta positiva ao apelo à unidade feito por Cristo.
Certamente, no caminho da unidade, existem ainda sérias dificuldades a serem superadas, sejam por razões históricas ou teológicas. Por isso mesmo devemos estar afeitos à oração, abertos ao diálogo, conscientes de nossa identidade, de nossa história e do compromisso de todos na busca da plena comunhão eclesial. Esta é a nossa esperança para que o mundo creia.
Brasília, 11 de julho de 2007.
Rev. Luiz Alberto Barbosa
Secretário Executivo
Pe. Gabriele Cipriani
Secretário Adjunto
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