Logo após a famosa aula em Regensburg, na qual o Papa citava as palavras de Manuel II Paleólogo (1350-1425) sobre o Islã mostrava que uma religião que se colocasse contra a razão se tornava fonte de violência, muitos disseram que Bento XVI havia aumentado a distância entre o Islã e o cristianismo. A verdade é bem outra. de lá para cá, um longo caminho vem sendo trilhado, com a adesão de intelectuais e personalidades religiosas do mundo islâmico que desejam um verdadeiro encontro entre os homens de fé das duas religiões. A viagem do Papa à Terra Santa foi um momento importante na consolidação desse caminho. O site “A Commom Word Between Us and You”, cuja Introdução é transcrita a seguir, registra essa história, as adesões recebidas e a esperança que daí nasce. Uma esperança que mostra que o encontro não nasce da omissão e da falta de identidade, mas sim da palavra clara e do amor à verdade daqueles que a procuram.
No dia 13 de outubro de 2006, um mês após a fala do Papa Bento XVI em Regensburg, em 13 de setembro de 2006, 38 autoridades e pensadores islâmicos de diversas partes do mundo, representando todas as denominações e escolas de pensamentos, uniram-se para entregar uma resposta ao Papa no espírito de abertura intelectual, troca e compreensão. Em sua Open Letter to the Pope (Carta Aberta ao Papa), pela primeira vez na história recente, pensadores muçulmanos de todos os ramos do Islã falaram com uma voz sobre os verdadeiros ensinamentos do Islã.
Exatamente um ano após aquela carta, em 13 de outubro de 2007, muçulmanos expandiram sua mensagem. Em A Common Word Between Us and You (“Uma palavra em comum entre nós e vocês” – ver versões do documento em 10 diferentes idiomas em (http://www.acommonword.com/index.php?lang=en&page=downloads), 138 pensadores muçulmanos, clérigos e intelectuais se reuniram unanimemente pela primeira vez desde os tempos do Profeta para declarar o solo comum entre Cristianismo e Islamismo. Como na Carta Aberta ao Papa, os signatários desta mensagem vem de todas as denominações e escolas de pensamento no Islã. Todo país ou região no mundo de maioria islâmica está representada nesta mensagem, a qual está endereçada aos líderes de todas as igrejas do mundo e, de fato, a todos os cristãos de todas as partes.
A forma final da carta foi apresentada em uma conferência em setembro de 2007 que tinha como tema “Amor no Corão”, promovida pela Real Academia do Real Instituto Aal al-Bayt para Pensamento Islâmico, no Jordão e com apadrinhamento do. Rei Abdullah II. De fato, o solo mais comum entre Islã e Cristianismo e a melhor base para o futuro diálogo e compreensão é o amor de Deus e o amor aos vizinhos.
Muçulmanos nunca antes entregaram este tipo de declaração consensual definitiva sobre o cristianismo. Ao invés de se envolver em polêmicas os signatários adotaram uma corrente central e uma posição tradicional do islamismo de respeito às Escrituras cristãs e chamando os cristãos a ser mais, e não menos, fiéis à elas.
Espera-se que este documento possa oferecer uma constituição comum para as muitas organizações e individuos que estão levando nosso dialogo interreligioso por todo o mundo. Frequentemente estes grupos estão não se conhecem e duplicam os esforços uns dos outros. Uma Palavra em Comum entre Nós pode não apenas dar a eles um ponto de partida para cooperação e coordenação internacional como ainda o faz no solo teológico mais sólido possível: os ensinamentos do Corão e do Profeta e os mandamentos descritos por Jesus Cristo na Bíblia. Por fim, à despeito de suas diferenças, Islã e Cristianismo não apenas partilham a mesma Origem Divina e a mesma hereditariedade abraâmica, como também os dois maiores mandamentos.
(Tradução do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP). |