A 5ª Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe encerrou os seus trabalhos em Aparecida na última quinta-feira com a aprovação de um documento que constituirá um ponto de referência importante para as igrejas do continente durante os próximos dez anos e com um convite para realizar uma missão continental, de modo que todos os batizados tenham a possibilidade de encontrar-se com Jesus e compreender a riqueza de sua presença na própria vida, tornando-se discípulos e missionários.
Os trabalhos foram precedidos por anos de preparação, com consultas às comunidades da igreja, e pelo discurso inaugural do papa Bento 16, que delineou algumas prioridades. Afinal, encontramo-nos diante de um novo período na história, caracterizado pelo desconcerto generalizado que se propaga por causa das novas turbulências sociais e políticas, pela difusão de uma cultura distante e hostil à tradição cristã e pela emergência de varias ofertas religiosas que procuram responder, à sua maneira, à sede de Deus que caracteriza nossos povos.
O documento conclusivo manifesta a continuidade com as outras quatro conferências (Rio de Janeiro, Medellín, Puebla, Santo Domingo) e, ao mesmo tempo, elementos novos, que atendem às exigências próprias do nosso tempo. A igreja na América Latina esteve muito presente, nessas décadas, nas contradições mais graves que afligem nossos povos: pobreza, desigualdades e exclusão social, falta de oportunidade para os jovens, defesa dos povos indígenas e dos afro-descendentes, entre outras.
Esses temas continuam presentes no documento e o próprio método ver, julgar, agir é utilizado: ver com os olhos do fiel que crê, julgar com critérios críticos que provêm da fé e da razão, para projetar um agir próprio de discípulos e missionários.
A 5ª conferência focalizou a sua atenção na alegria de ser discípulos e missionários de Jesus Cristo, porque nele se encontram a beleza e a paz, o significado da vida, a energia para enfrentar os desafios e a criatividade para construir uma convivência mais justa e fraterna. Três dimensões emergem do documento: a pessoa, a comunidade eclesial e a sociedade.
Cada pessoa descobre a força da sua personalidade quando se encontra com Jesus Cristo e se torna seu discípulo, experimentando atração, fascínio, maravilha pela riqueza de humanidade com que se depara e que deseja para si, como aconteceu com os primeiros discípulos de que fala o Evangelho. De fato, Jesus responde ao desejo de felicidade e de realização que toda pessoa carrega no coração e pode ser encontrado hoje, porque ressuscitou e está entre nós.
Quem faz essa descoberta segue Jesus e o tem como ponto de referência nas diversas circunstâncias cotidianas, tomando distância de uma vida "velha", caracterizada pela banalidade e por relacionamentos descartáveis, pois fica mais interessado em cultivar a intensidade, a abertura, a satisfação que encontrou.
A vida em comunidade é essencial para um caminho de crescimento e de fortalecimento da personalidade cristã, em que amadurece o seguimento de Jesus, se consolida a certeza de estar no caminho da realização mais plena e se acende a paixão para comunicar a todos a beleza encontrada, numa autêntica dimensão missionária.
A comunidade passa a ser casa e escola de comunhão, de participação, de solidariedade.
O discípulo e missionário tem como horizonte a sociedade, atento a fazer fermentar todas as potencialidades positivas nos ambientes em que vive, atento também a enfrentar os problemas que ameaçam a dignidade humana. As injustiças, a corrupção, a miséria, a falta de oportunidades, a discriminação o encontram disponível para, ao lado de outros, dar a resposta mais adequada.
O filosofo pagão Terenzio dizia: "sou homem, nada do que é humano me é estranho". E o concílio aprofundou: "só em Cristo se esclarece o mistério do homem" (GS, 22). O encontro com Jesus faz crescer a nossa humanidade, tornando mais agudo o olhar que, pouco a pouco, vai se assemelhando ao olhar de Jesus, compassivo e misericordioso.
Construir uma sociedade mais justa e fraterna é o empenho que começa na própria família e na profissão, estendendo-se a toda a sociedade.
Não se trata de um sonho dos bispos do continente. A igreja é grande, apesar de seus defeitos e das agressões que recebe, porque existem muitas pessoas que já vivem dessa maneira. Ela convida todos a verificar a verdade dessa proposta.
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