conceito situações urbanas escala intervenções pesquisa arte/cidade - zona leste

megacidades

centros transnacionais

novo urbanismo

geometria urbana variável

espacialização global

locações transterritoriais

justaposições

grandes escalas

espaços abstratos

scanning

arte aérea

mapeamento

imagens remotas

terreno vago

informe

zona

terra-de-ninguém

espaços negativos

entropia

desconexões/intervalos

cidade randômica

congestão

desterritorialização

arquitetura líquida

novas estratégias

design dinâmico

ocupação sem matéria

mutações

urbanização soft

 

Desconexões/Intervalos

 

 

 

 

 

 


Hoje toda experiência urbana implica ruptura, distância. Tentativas de articulação de um espaço fragmentado, através das intransponíveis descontinuidades entre suas partes. Intervalos que se produzem no interior da própria cidade. A Zona Leste de São Paulo é um exemplo destas interrupções, surgidas no meio da superfície descontínua da megalópole.

O esgarçamento do tecido urbano originou uma multiplicação de configurações locais, que se espraiam e rearticulam sem cessar com as outras, sem obedecer o organograma da economia e do transporte da cidade. O espaço é ocupado por acontecimentos (locais abandonados e reapropriados, feiras, usos imprevistos), mais do que por coisas acabadas. A metrópole secreta espaços _ detritos, favelas, terrenos baldios _ que não são delimitados pelas configurações do dinheiro, da produção ou da habitação.

Pequenos intervalos, interstícios na trama urbana, que a reconfiguram permanentemente. Cada bolsão _ a ocupação de uma área por sem-tetos, camelôs ou cortiços, a instalação de um novo pólo de comércio (shoppings e grandes superfícies), o surgimento de um núcleo de condomínios habitacionais _ vai redesenhando a região ao se ajustar por acumulação com outras partes locais, uma justaposição que compõe um espaço heterogêneo em variação contínua.

O espaço resultante se apresenta como uma coleção amorfa de partes justapostas sem vínculos entre si. Ele pode ser definido por acumulação, independentemente de qualquer referência a uma métrica. Cada justaposição cria uma zona de indiscernibilidade: áreas de passagem e mudanças de direção. Intervalos resultantes da descontinuidade do território, do processo fragmentado de espacialização. Neste espaço sem contornos nem limites, sem início nem fim, se está sempre no meio. Aqui todo movimento constituí uma área de vizinhança, uma terra-de-ninguém, uma relação ilocalizável entre pontos distantes ou contíguos. Esta vizinhança (fronteira) é indiferente tanto à contiguidade quanto à distância.

É o espaço dos pequenos intervalos, onde o ajuste das vizinhanças se faz independentemente de qualquer via determinada. É uma área de contato, constituída por operações locais com mudanças de direção. Ele opera de perto em perto: é um espaço local de conexões. Um território armado por articulações de partes locais, por operações de passagem.

A configuração urbana resultante é um espaço fragmentado, que se articula através das intransponíveis descontinuidades entre suas partes. Intervalos que guardam tanto a marca do passado quanto do futuro, desdobramento de um volume que produz seu próprio espaço. Produção de uma dimensão dentro dela mesma, e não mais organizada a partir de um outro lugar ausente, de uma ilocalidade ou de uma utopia. Configuração de um campo que assimila dentro si próprio a diferença, o desdobramento em outro.

 

Referências:

G. Deleuze. Mille Plateaux, Paris, Minuit, 1980.

J. Derrida. L‘ecriture et la différence, Paris, Seuil, 1967 e Marges - de la philosofie, Paris, Minuit, 1972.