Imagens remotas

As novas dimensões do mundo globalizado exigem uma nova cartografia: das dinâmicas, dos fluxos, das reconfigurações permanentes e variáveis. As perspectivas aéreas redefiniram a cultura visual, com sua ambição a uma retórica universal, mas guardavam uma proximidade aos mapas: obedeciam às determinações do espaço legível. Espaço–tempo não-visuais, ao contrário, evidenciam os limites do mapeamento convencional.

Algumas convenções, próprias das visualizações da informação geográfica, do mapeamento, persistem no sensoramento remoto. É o que permite, às vezes, que essas imagens abrangentes convertam a percepção em espetáculo. Mas a produção e interpretação de imagens por sensoramento remoto implicam outros procedimentos. Nelas se codificam informações sobre um padrão de energia, mutável espacial e temporalmente, do qual a existência de objetos só pode ser deduzida. Não há como inferir a sua presença. É por remeterem à fenômenos não visíveis que suscitam problemas de representação.

O sensoramento remoto por satélite nos proporcionou uma percepção global, mas a forma efetiva dessa percepção é determinada por objetivos específicos, de acordo com critérios de eficiência estabelecidos pelas corporações que detêm as bases de dados, os programas e o acesso aos serviços de satélites. A fragmentação da percepção em conjuntos momentâneos e desconexos a transformou em instrumento de gerenciamento. A lógica avançada do mapeamento contemporâneo parece constituir um aparato no qual somos incapazes de interferir.

A retórica das imagens do sensoramento remoto implicaria uma administração da gramática, em vez de uma esfera pública da interpretação? O sensoramento remoto constrói uma visão textualizada (percepção maquinal), adaptável ao gerenciamento dos fluxos de informação. Uma retórica produzida nos moldes da administração dos recursos públicos segundo os interesses do capital e suas políticas.

Pode-se vislumbrar um modo de codificação alternativo ao projeto corporativo? Mesmo mapas simplificados de rodovias requerem uma combinação de recursos visuais e verbais de interpretação, permitindo projetos ideológicos de leitura. Mas é importante distinguir as novas técnicas de mapeamento composto GIS daquelas do mapeamento convencional. O sistema de satélites já implica uma extrapolação, por máquinas, do que não se pode ver. Um modo de percepção cibernético que aplica uma compactação de tempo e espaço em mapas de mudanças sociais e geográficas. 

Referência
S. Cubitt, Digital Aesthetics, Sage Publications, London, 1998.

Imagens
Integração de dados - linking das diferentes formas de informação através de um GIS MSS Scanning Arrangement