Os bairros do Brás, Pari e Móoca, a área mais central
da Zona Leste, parecem predispostos a ter um papel fundamental na reestruturação global
de São Paulo. Essa região foi drasticamente afetada pela desindustrialização sofrendo
grande esvaziamento populacional e de atividades. O processo de desvalorização, gerando
desemprego, retração fiscal e obsolescência de equipamentos e do construído,
inscreve-se na lógica dos sistemas flexíveis e dinâmicos de acumulação. Uma ampla
reestruturação não pode ser realizada sem, primeiro, desindustrialização e
desvalorização.
A região não passou pelos processos recentes de
restruturação da metrópole. Ocorreu um congelamento desse tecido, onde não se
implantaram as espacializações características do último período, como os
condomínios fechados, enclaves de habitação e serviços ou habitação popular. Não
sofreu a ação dos mecanismos convencionais de reestruturação habitacional, como os
programas de financiamento, reinvestimento imobiliário e políticas públicas de
desenvolvimento urbano localizado. Não passou, portanto, pelos processos de reocupação
e gentrification, que se fazem através da renovação de locais históricos e da
instalação de equipamentos culturais.
Os megaempreendimentos dispensam essas estratégias
paulatinas de ocupação. Eles se instalam de uma só vez, em grandes áreas, através da
compra ou desapropriação de todo o território. O que implica, de qualquer modo, em
deslocamento massivo e abrupto de populações, acirrando a desigualdade do
desenvolvimento urbano e a exclusão social. Daí a dimensão do espaço disponível na
região, devido à estagnação e desorganização urbana ser essencial à
reestruturação global. Somente um desinvestimento desse porte pode dar espaço a um
reinvestimento na escala proposta pelos novos projetos imobiliários e de desenvolvimento
urbano.