Prancha de Comunicação Suplementar e/ou Alternativa: o uso do diário como possibilidade de escolha dos símbolos gráficos

Linguagem e Subjetividade

Prancha de Comunicação Suplementar e/ou Alternativa: o uso do diário como possibilidade de escolha dos símbolos gráficos

11/2010

Prancha de Comunicação Suplementar e/ou Alternativa: o uso do diário como possibilidade de escolha dos símbolos gráficos

Giuliana Bonucci Castellano*

A Comunicação Suplementar e/ou Alternativa (CSA) é definida pela American Speech and Hearing Association (ASHA) como: "... uma área de prática clínica, de pesquisa e educacional que visa compensar e facilitar, temporária ou permanentemente, padrões de prejuízo e inabilidade de indivíduos com severas desordens expressivas e/ou desordens na compreensão de linguagem. A CSA pode ser necessária para indivíduos que demonstrem prejuízos nos modos de comunicação gestual, oral e/ou escrita(1)".

As pranchas de CSA consistem em superfícies - papel, tábua, pasta ou a tela do computador – onde se dispõem imagens visuais - símbolos gráficos, desenhos, fotos, sentenças, letras do alfabeto – e podem ser indicadas como uma forma alternativa de fala para sujeitos impossibilitados organicamente de falar de forma articulada(2) ou cuja fala apresenta-se com dificuldades.

Há um equívoco em se confundir a impossibilidade de falar de forma oral articulada com não ser falante e estar na linguagem(3). Assumir o ponto de vista de uma clínica fonoaudiológica que se sustenta em um método clínico dialógico, implica que a CSA não se reduza a uma atividade de aprender símbolos e ensinar a falar(2). Pelo contrário, Castellano(4) aponta a clínica fonoaudiológica como espaço para escuta do corpo (falante) de sujeitos com paralisia cerebral (PC), onde gestos, imagens visuais e símbolos gráficos são ressignificados como forma alternativa de fala. Nesta clínica, o sujeito com PC e o fonoaudiólogo, em sua interlocução, escolhem os símbolos gráficos que irão compor a prancha de CSA.
Estes símbolos advém de relatos de acontecimentos que envolvem o sujeito e que foram anotados em um diário, por um familiar. Solicita-se que alguém da família registre acontecimentos representativos para o sujeito com PC, acompanhados de figuras de revistas, imagens obtidas na internet, fotos, desenhos que configurem os fatos principais. Esta associação entre escrita e imagens, atravessada pelo discurso, introduz o sujeito na CSA, transformando os símbolos em significantes, ao deslocá-los e realocá-los na prancha. As páginas do diário também podem conter a escrita dos acontecimentos que ocorreram durante a sessão fonoaudiológica; nesse caso, a escrita pode vir acompanhada de símbolos gráficos (PCS, BLISS, etc).

Ao ser lido em voz alta, o diário desencadeia no sujeito com PC, traços de reconhecimento da história singular, que podem ser apreendidos pelo sorriso, pelo riso, na sucessão sonora, na mudança de tônus corporal, nos gestos. Essas marcas de reconhecimento são indicadores dos símbolos que deverão deslocar-se do diário para a prancha de CSA do sujeito. Desta forma, o diário não é um suporte prévio mas concomitante à montagem da prancha, por ser estabelecido na alternatividade da dialogização entre prancha e diário. Cabe ressaltar que a prancha está em constante mutação, pois símbolos são adicionados e/ou retirados de acordo com os textos que permeiam o dia a dia do sujeito.
A montagem da prancha a partir da dialogização que o diário elicia, não tem por objetivo oferecer padrões ou ditar normas. Não há apenas uma maneira de elaborar o diário e a prancha; para cada sujeito e para cada finalidade, o diário e a prancha podem tomar diferentes configurações.

Por fim, pode-se afirmar que a montagem da prancha de CSA a partir do diálogo instaurado pelos escritos do diário, abre espaço para: 1) a eleição de símbolos e sua transposição em significantes; 2) a interpretação de suas demandas; 3) a arquitetura da relação dialógica; 4) a inserção do sujeito no funcionamento da linguagem; 5) a montagem da prancha subjetiva de CSA e 6) o laço social entre familiares e amigos.
Como conclusão, argumenta-se a favor de seu estatuto como suporte clínico fonoaudiológico, dado os efeitos que sua leitura gera na cena clínica.


Referências bibliográficas

1. American Speech Language and Hearing Association (ASHA). Report: Augmentative and Alternative Communication,1991, 33:9-12.
2. Chun RYS. Comunicação suplementar e/ou alternativa: favorecimento da linguagem de um sujeito não falante. Pró–Fono Rev. Atual. Cient. 2003,15(1):54-64.
3. Feital MCS. A Comunicação Suplementar e/ou Alternativa na vida de pessoas com paralisia cerebral, adultas e institucionalizadas. São Paulo, 2006, p. 28, (Dissertação de Mestrado – Programa de Estudos Pós Graduados em Fonoaudiologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).
4. Castellano GB. Adolescentes com Paralisia Cerebral: Estudo de Casos Clínicos. 2010, (Dissertação de Mestrado – Programa de Estudos Pós Graduados em Fonoaudiologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo)

 

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