O Sujeito e a Linguagem

Linguagem e Subjetividade

O Sujeito e a Linguagem

03/2011

O Sujeito e a Linguagem

Juliana Cristina Alves de Andrade*

Linguagem nos remete à comunicação, uma de suas funções. Comunicamo-nos de diversas maneiras e por razões variadas. Só que, em geral, esta ação está vinculada ao ato motor de falar e escrever que desconsidera o autor principal desta fala: o sujeito.
Por esta crença ser frequente em nossa clínica, quando no deparamos com perturbações de fala e escrita, o caminho escolhido para minimizar ou até mesmo eliminar esta queixa é recorrer aos instrumentos pedagógicos, prescrevendo estratégias para reforçar uma fala/escrita que o sujeito precisa "adquirir" ou "aperfeiçoar", para que ele seja capaz de falar/escrever e assim se "adequar" ao perfil de comunicação esperado.
Mas aí levanto uma questão: neste caminho para solucionar essa "perturbação", onde localizamos o sujeito, com suas peculiaridades? No tempo de cada um para chegar ao final do tratamento? Não basta considerar o "tempo", pois muitas vezes esse "tempo" demora e, pode até, não chegar!
Buscando suporte para as questões que a clínica nos coloca, no campo psicanalítico, constatamos que o bebê, antes mesmo de nascer, é falado por uma fala/escrita, de forma que sua presença simbólica precede sua presença física no mundo. Isto é, a criança tanto é falada como escrita pelo "Outro" (fala-se grande outro), "Outro" que em Lacan refere-se ao tesouro dos significantes em que o sujeito falante está imerso.
A partir desta constatação, a fonoaudiologia hoje, articula o fazer terapêutico considerando a demanda, o sujeito que a encaminha e aquela a quem a demanda é endereçada. Esse é um caminho para dar à Fonoaudiologia instrumentos próprios de trabalho, pois segundo Leite (2006) não há como separar corpo e linguagem, sujeito e sua fala/escrita, pois nessa direção, se o terapeuta olhar para o sintoma na escrita como algo observável, ele pode cair na armadilha que a suposta transparência lhe arma: fica apenas com o produto do sintoma.
Por isso, a clínica de linguagem caminha em direção à subjetividade estabelecendo assim uma relação sujeito-língua-outro, possibilitando ao terapeuta ver além do que está escrito, interpretar o sintoma na escrita como presença de sujeito, refletindo sobre seu funcionamento na fala/escrita daquele que a produz.


Referências bibliográficas

LEITE, L. (2000). Sobre o efeito sintomático e as produções escritas de crianças. Dissertação de mestrado. São Paulo. PUC-SP.

 

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