O lúdico e a aprendizagem: Um recorte teórico
07/2015
O lúdico e a aprendizagem: Um recorte teórico
Adriana Gaião Martins*
O interesse relacionado à atividade lúdica na escola tem-se mostrado cada vez maior por parte de pesquisadores e, principalmente, de professores que buscam alternativas para o processo ensino-aprendizagem. A tentativa de empreender um processo de aprendizagem que desperte o interesse do aluno, estimulando a curiosidade e a criatividade, ainda é um dos grandes desafios no âmbito escolar.
Neste escrito estão reunidos recortes teóricos de estudos realizados na área da psicologia, que abordam o importante papel que os jogos e brincadeiras exercem no desenvolvimento da criança, assim como se tornam recursos didáticos de grande aplicação e valor no processo ensino aprendizagem.
É na instância do brincar que a criança tem a possibilidade de experimentar novas formas de ação, criatividade, imaginação e comunicação. Reproduzir momentos e interações importantes de sua vida, consequentemente, ressignificando-os. Representa uma fonte de conhecimento de si e do mundo, de sentidos e significados, influenciando na constituição da subjetividade da criança. Ainda, pelo lúdico, noções de tempo, espaço e regras são desenvolvidas, além de alimentar as relações interpessoais, promovendo o crescimento individual e social.
Em seus estudos psicanalíticos, Dolto (1999, pág. 113) afirma que todo jogo é mediador de desejo e traz consigo uma satisfação, permitindo expressar seu desejo aos outros em jogos compartilhados. Freud (1920), por sua vez, a partir do jogo Fort - Da! (Sumiu. Achou!), considera que é a partir do jogo que a criança afirma-se como sujeito da continuidade de seu ser no mundo.
Piaget (1988) discute o processo de alcance da autonomia pelas crianças através dos jogos e atividades grupais, como quando a criança descobre as relações de respeito mútuo e simpatia, "A reciprocidade parece, neste caso, ser fator de autonomia. (...) Ora, sem a relação com outrem, não há necessidade de moral: o indivíduo como tal conhece apenas a anomia e não a autonomia. (p.155) ". Os estudos de Piaget apontam ainda que o brincar auxilia o desabrochar das funções mentais e relaciona-se à aprendizagem, pois, ao brincar, a criança executa atividades que favorecem a aquisição, dentre elas a da linguagem e, posteriormente, as próprias atividades escolares.
Vygotsky (1991), por sua vez, ressalta que a brincadeira cria as zonas de desenvolvimento proximal e que estas proporcionam saltos qualitativos no desenvolvimento e na aprendizagem infantil. Elkonin (1998) e Leontiev (1994) ampliam esta teoria afirmando que durante a brincadeira ocorrem as mais importantes mudanças no desenvolvimento psíquico infantil. Para estes autores a brincadeira é o caminho de transição para níveis mais elevados de desenvolvimento.
Em busca de discutir os efeitos que as atividades lúdicas proporcionam ao processo de aprendizagem, a partir da experiência com oficinas do brincar, observou-se que, após seis meses de intervenção e realização de oficinas semanais, foi possível traçar mudanças positivas no comportamento e aprendizagem dos alunos. Participaram cinco crianças de inclusão de uma escola pública da Zona Norte de São Paulo. A oficina promoveu atividades de apoio à alfabetização como: leitura, contagem e elaboração de histórias, jogos didáticos, recorte e cola, desenhos, pinturas, manuseio de massa de modelar, dentre outras. A partir do estudo realizado, observou-se superação de limitações relacionadas a leitura e escrita, timidez e expressão, cooperação e respeito em grupo. Além disso, todas as crianças participantes apresentaram um avanço no seu processo de alfabetização.
Não há dúvidas de que o brincar, quando inserido no contexto escolar, tem função de agente facilitador de aprendizagem. É importante que o educador que trabalha diretamente com crianças entre em contato com o conhecimento acerca do brincar, e ainda sobre a criança e o seu desenvolvimento. É neste sentido que Piaget (1976) afirma que "Por isso, os métodos ativos de educação das crianças exigem a todos que se forneça às crianças um material conveniente, a fim de que, jogando, elas cheguem a assimilar as realidades intelectuais que, sem isso, permanecem exteriores à inteligência infantil" (p. 160).
Referências bibliográficas
DOLTO, F. As etapas decisivas da infância, São Paulo, Martins Fontes: 1999
FREUD, Sigmund. Além do princípio de prazer, 1920. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 11-75. (Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, 18).
LEONTIEV, A.N. Os princípios psicológicos da brincadeira pré-escolar. In: Vygotsky, L. S.; Luria, A. R.; Leontiev, A. N. (Orgs.), Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Moraes, 1994.
PIAGET, J..A Formação do símbolo na criança. Rio de Janeiro: ZAHAR, 1998. ___________,. Psicologia e Pedagogia. Rio de janeiro: Forense Universitária, 1976
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 4ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991
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