1ª Jornada Fonoaudiologia, Educação e Psicanálise

Linguagem e Subjetividade

1ª Jornada Fonoaudiologia, Educação e Psicanálise

07/2014

1ª Jornada Fonoaudiologia, Educação e Psicanálise

Regina Maria Freire*

O projeto A Alfabetização e seus Avatares comemora seu quarto ano de existência com uma série de pesquisas - finalizadas e compartilhadas, mensalmente, neste espaço - e de parcerias conquistadas, promovendo um evento que integra as três áreas que privilegiamos como nossos principais interlocutores.

A 1ª JORNADA FONOAUDIOLOGIA, EDUCAÇÃO E PSICANÁLISE será realizada no dia 7 de agosto, quinta feira, das 9 às 17 horas, no anfiteatro do Instituto de Psicologia da USP.

Convidamos nossos leitores a se inscrever neste site em que o evento, público, aberto e gratuito, está sendo divulgado. Como forma de ampliar a participação de outros pesquisadores, abrimos espaço para os que gostariam de trazer suas considerações sobre a temática que nos enlaça, a saber: INCLUSÃO, FRACASSO ESCOLAR E DESAFIOS DA ALFABETIZAÇÃO, sob a forma de pôsteres. As regras podem ser encontradas no folheto de divulgação.

O evento será aberto pela coordenadora do projeto, Regina Freire e encerrado por Christian Dunker, anfitriões do acontecimento.

Pretende-se, com esta ocasião, intercambiar experiências e trazer pesquisadores reconhecidos por sua imersão nas temáticas aqui privilegiadas.

Após a abertura, às 9:30 horas, daremos início a primeira mesa, cujo tema Inclusão, estará em debate. Um profissional de cada uma das áreas mencionadas no título do evento, trará suas considerações sobre a inclusão escolar, sob pontos de vista de campos e interesses diversos. A mesa seguinte, às 11 horas, trará o tema Fracasso escolar para o centro da cena e, desta vez com quatro integrantes, a mesa discutirá a partir de suas observações práticas e científicas, o que seria o chamado fracasso escolar e como poderia ser revertido, analisado, subvertido, reinterpretado e enfrentado.

Às 14 horas, teremos a terceira mesa, cujo objetivo será discutir os Desafios que a alfabetização apresenta aos campos da Fonoaudiologia, da Psicanálise e da Educação. Esta mesa acontece após o intervalo para o almoço e para a colocação dos trabalhos desenvolvidos nos pôsteres e expostos na entrada do anfiteatro.

Voltando à mesa das 14 horas, entende-se que os convidados deverão trazer, sob sua ótica, indicações de como podem atuar, nas limitações de suas áreas, para modificar o panorama da alfabetização e da escolarização, particularmente no Ensino Fundamental I, na realidade de nosso município. Ao término desta mesa e, antes do encerramento, na companhia de um café com bolinhos, os convidados poderão ler os pôsteres e conversar com seus autores que ali estarão para debater seus achados e trocar experiências.

Ao final, o encerramento, que se pretende seja o início de outros acontecimentos semelhantes, não será uma despedida mas a certeza de que nossos esforços não tem sido em vão e, sequer, encerram-se aqui.

Como forma de aquecimento para o evento, trago algumas considerações sobre o que nos levou a escolher a temática que irá permear as apresentações. A Inclusão foi tema da dissertação de Vera Ralin que, usando como metodologia a Análise de Discurso de linha francesa, alçou o discurso de professores da rede pública em diálogos com a pesquisadora em que o objetivo era conhecer a visão dos professores sobre este tema. Usando fragmentos dos discursos dos professores e buscando as formações discursivas subjacentes a seus discursos, Vera conclui que os sentidos que professores atribuem à inclusão escolar definem-se, predominantemente por serem uma forma de promoção da socialização e, por proporcionarem ensino/aprendizagem ao sujeito com deficiência. Sugere que a escola seja abraçada sob a perspectiva de um trabalho colaborativo para que haja uma (re)significação dos discursos sobre inclusão. O estudo deste tema incentivou um dos professores de uma escola municipal parceira que atende uma sala especial, a aprofundar os olhares sobre a inclusão, na ótica do professor em sua práxis, como pesquisa de dissertação.

O tema Fracasso escolar foi tocado e desenvolvido em duas dissertações que tomaram direções diferentes. Ainda trabalhando sob a metodologia da Análise de Discurso Pechêutiana, tanto Cinthia Gonçalves como Manoela Piccirilli, gravaram os dizeres de professores, fizeram recortes e os analisaram. Cinthia conclui que a análise permitiu identificar o assujeitamento do professor à ideologia dominante do discurso pedagógico e a posição de aprendiz por ele ocupada. Deparou-se com um professor desvalorizado e desamparado que ocupa essas posições discursivas em decorrência da entrada de diversos profissionais na escola que ocuparam o espaço do professor para, supostamente, instrumentalizá-lo; do estabelecimento de aulas, palestras e do Curso de Formação Continuada que identificam o professor a um profissional em constante “formação”; do binômio fracasso social/ fracasso escolar que equipara qualquer aluno com dificuldades escolares a um fracasso social. Sugere que se leve o professor a duvidar do que ele diz e do que é dito sobre si como ponto de partida para uma ação fonoaudiológica com o professor. Por outro lado, Manoela centrou-se no chamado Fracasso escolar. Discutiu o sentido deste nome, quase um rótulo para nomear o que escapa ao professor e que resulta em ações inúmeras e recorrentes por parte das coordenações de educação no sentido de descolar a escola deste aprisionamento por esse significante. Sua análise, assentada sobre duas reuniões entre pesquisadores e professores da rede pública, identificou, no discurso dos professores durante a primeira reunião, uma busca pela homogeneidade em detrimento das particularidades do aluno; um processo de produção de sentidos pautados em ideais escolares dominados por uma política educacional capitalista que, ao colocar os alunos como iguais e não refletir sobre suas singularidades, contribui para o fracasso escolar. Na segunda reunião, deparou-se com um funcionamento discursivo que admitiu a presença da criança como sujeito que tem necessidades e desejos além dos impostos por um ideal escolar produzindo, assim, novos sentidos que o fracasso escolar. Afirma que os sentidos de fracasso escolar no discurso desses professores surgem como efeito de uma lógica educacional regulada por um discurso capitalista que, na tentativa de controlar o saber da criança, deixa escapar algo que é interpretado como fracasso escolar. Porém, ao deixar esse discurso em suspenso, o fracasso escolar pôde ganhar novos sentidos contribuindo para a alfabetização. Estes trabalhos acabaram incentivando o terceiro tema do encontro ou seja, os desafios da alfabetização. Para o projeto A Alfabetização e seus avatares, estes desafios seriam minimizados com uma política que se dedicasse à prevenção dos problemas de fala e de escrita, realizada pela Saúde em articulação com a Educação. A pesquisa de Bruna Diógenes tomou essa direção e trouxe à tona os indicadores de risco para a aquisição da linguagem pelo falante assim como a pesquisa de Janaina Venezian está enfocando os indicadores de risco para a aquisição da escrita. Ambos os trabalhos relevam a importância da prevenção em saúde pública, com ações, realizadas por Agentes Comunitários, que seriam complementares àquelas desenvolvidas pela educação.

Enfim, as pesquisas aqui apontadas indicam resultados promissores na busca de alternativas para os problemas enfrentados pela escola e por aqueles que estão em seu entorno, como os psicólogos e os fonoaudiólogos. Com certeza a sua discussão em presença de outros interessados e implicados, levantará outras alternativas e indicará a pertinência dos temas escolhidos para o evento.

VENHA PARTICIPAR!
 


Referências bibliográficas:
Ralin, V L O R - O discurso do professor sobre inclusão escolar. 2013. Dissertação de mestrado. PEPG em Fonoaudiologia. PUCSP.
Gonçalves, CF - A posição do aprendiz no discurso dos professores. 2013 . Dissertação de Mestrado. PEPG em Fonoaudiologia. PUCSP.
Piccirilli, M S S- O fracasso escolar no discurso do professor . 2014 . Dissertação de Mestrado. PEPG em Fonoaudiologia. PUCSP.
Diógenes, B S - Indicadores de risco para a fala infantil: validação de conteúdo. 2014. Dissertação de mestrado. PEPG em Fonoaudiologia. PUCSP.
Venezian, J - Validação dos indicadores de risco para a constituição do sujeito leitor/escritor . 2014. Pré-projeto de pesquisa apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Fonoaudiologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo-PUC como requisito para desenvolvimento da dissertação de mestrado. PEPG em Fonoaudiologia. PUCSP.

 

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