Indicadores de Risco para os sintomas de linguagem: Interface Fonoaudiologia e Saúde Pública

Linguagem e Subjetividade

Indicadores de Risco para os sintomas de linguagem: Interface Fonoaudiologia e Saúde Pública

10/2014

Indicadores de Risco para os sintomas de linguagem: Interface Fonoaudiologia e Saúde Pública

Bruna de Souza Diógenes*

A Fonoaudiologia, disciplina relativamente nova quando comparada a outras do campo da saúde, têm ampliado os seus modos de atuação para além do caráter clínico. Atualmente existe um movimento em direção à Saúde Pública para pensar a atuação fonoaudiológica na prevenção das perturbações da leitura, da escrita e da fala. Nesse contexto, os fonoaudiólogos, quando convocados a integrar as Equipes de Saúde da Família, deparam-se com os seguintes desafios: planejar e implementar ações de promoção de saúde, qualidade de vida e prevenção de doenças mais eficazes, tais como oficinas e projetos; avaliar programas e serviços de saúde em Fonoaudiologia na rede de serviços públicos; realizar encaminhamentos precoces e mais efetivos. Ao se falar, especificamente, em indicadores de risco para a constituição do falante, os achados na literatura mostram seu caráter incipiente e apontam para a urgência de estudos no campo da promoção da fala e da linguagem e da prevenção de suas perturbações. Diante desse panorama, a linha de pesquisa: “Linguagem e Subjetividade”, coordenada pela Profª Drª Regina Maria Ayres de Camargo Freire, elaborou um projeto de pesquisa com a finalidade de construir um conjunto de sinais, acessíveis à identificação pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), visando a detecção precoce do que é nomeado, de modo habitual, como problemas de comunicação oral e escrita. A perspectiva teórica adotada pressupõe que os sintomas de fala e linguagem escapam do caráter estritamente orgânico, dado que a linguagem é concebida enquanto “objeto simbólico indissociável da subjetividade, cujos sintomas são vistos como manifestações que implicam o sujeito e o outro”. (FREIRE, 2009). Sendo assim, acredita-se que, os indicadores de risco para os sintomas de linguagem “devem ser considerados indícios, pistas que dão propriedade à construção de hipóteses acerca de movimentos que são completamente subjetivos, exclusivos” (PALLADINO, 2007).

Esta coluna tem por objetivo mostrar os resultados obtidos ao longo da existência do projeto, destacando a importância da interdisciplinaridade. De modo geral, esse projeto passou por etapas, a saber: 1) Construção preliminar dos indicadores clínicos de risco para o sujeito falante/ leitor/escritor; 2) Elaboração de duas fichas que contemplam esses indicadores; 3) Estudo piloto para adequação e aplicação da ficha; 4) Validação dos indicadores por especialistas. A primeira etapa teve como resultado a elaboração dos indicadores, tomando por base os indicadores clínicos de risco para o desenvolvimento infantil (Kupfer, 2003) e o modelo de organização dos sintomas de linguagem (Gouvea, Freire e Dunker, 2011) em articulação com as queixas extraídas de protocolos fonoaudiológicos de 03 UBS da zona norte de São Paulo. O resultado identificou quatro eixos teóricos: a) Suposição de um sujeito falante/ leitor/ escritor; b) Reconhecimento do sujeito falante/leitor/escritor; c) Reconhecimento do significante/autoria; d) Responsividade à fala/escrita do outro (EVANGELISTA; FREIRE e REIS, 2011).

Dos eixos foram desdobrados os indicadores preliminares para a constituição do sujeito leitor/escritor e do sujeito falante, e a elaboração de uma ficha a ser aplicada com pais, professores e Agentes Comunitários de Saúde. Na terceira fase, ou seja, o estudo piloto para a aplicação dessas fichas, foi realizada a capacitação para que os ACS compreendessem o uso das fichas com usuários de seu território. Ao final desta etapa, a ficha, com algumas modificações derivadas do estudo piloto, foram encaminhadas (4ª etapa) para os especialistas, que julgarão o conteúdo de cada indicador por meio de: 1) avaliação de cada indicador; 2)avaliação de cada item de cada indicador e 3) avaliação do conjunto. Atualmente a pesquisa encontra-se nessa fase. Após a validação de conteúdo, a ficha estará pronta para ser aplicada pelos ACS.

Esse processo está sendo realizado com auxílio estatístico e pretende-se, ao final dos trabalhos, obter a validação dos indicadores para os sintomas de linguagem oral e escrita, e ampliar o uso dessas fichas como instrumento a ser utilizado pelos profissionais de saúde envolvidos em atenção primária, em busca de melhorias nas práticas, conferindo-lhes maior possibilidade de atuar preventivamente com os sujeitos que manifestem sintomas de linguagem.
 


Referências bibliográficas:
EVANGELISTA, F.R.; FREIRE, R.M. Indicadores preliminares para a constituição do sujeito falante. Dissertação de mestrado. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, 2011.

FREIRE, RM. Pesquisa multicêntrica de indicadores clínicos para adetecção precoce de riscos no desenvolvimento infantil. São Paulo; 2009. [Trabalho apresentado na disciplina Seminário em Clínica e Pesquisa II - Programa de Estudos Pós-Graduados em Fonoaudiologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo].

Gouvêa G, Freire RM, Dunker C. Sanção em Fonoaudiologia: um modelo de organização dos sintomas de linguagem. In: Unicamp:Cadernos de Estudos Lingüísticos (Unicamp)., 2011; 53:7-25

KUPFER, M. C.M. et al. Pesquisa multicêntrica de indicadores de risco para o desenvolvimento infantil. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, São Paulo, v.6, n.2, p.7-25, 2003

PALLADINO, R.R.R. A propósito dos indicadores de risco. Disturb Comum 2007;19(2):193-201.

REIS, B.P; FREIRE, R.M. Indicadores preliminares para a constituição do sujeito leitor/escritor. Dissertação de mestrado. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, 2011

 

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