Uma segunda língua, para quem?
03/2012
Uma segunda língua, para quem?
Regina Maria Ayres de Camargo Freire*
Bem antes de nascer, o bebê já é falado pelo outro – pais, familiares – e ganha vida em seu imaginário. Assim, quando nasce, dizemos que o faz imerso em um banho simbólico, ou seja, rodeado pela linguagem. Seus pais, e os que o rodeiam, falam com ele, por ele, e dele, atribuindo-lhe intenções e interpretando seus murmúrios como desejo de algo, ações estas que o colocam na posição de sujeito.
Assim, ressalta-se que um ponto importante para a constituição da criança é que ela seja falada pelo outro, reconhecida por ele como falante e convidada por ele a responder a suas perguntas, ainda que, como bebê, não fale como os adultos.
Se a mãe fala em uma língua e o pai em outra, isto pode fazer com que a criança, ao começar a falar, misture as duas línguas ou, ainda, fale partes da palavra em uma língua e junte com partes da mesma palavra em outra língua. Isto quer dizer apenas, que ela está sob o efeito dos dizeres de seus pais, não tendo nenhuma conotação negativa.
Portanto, a língua falada com a criança, seja pela mãe, seja pelo pai, é a língua na qual estes imaginarizaram a criança. Em outras palavras, se esta fala lhe é dirigda em uma língua ou em mais de uma língua, pouco importa, desde que ocorra. E, se, por qualquer razão, a mãe abrir mão de sua língua materna por esta ser diferente da do pai ou da do local em que vive, e adotar uma outra língua, sua fala irá soar falsa e dificilmente carregará seus desejos ao se dirigir ao bebê. Portanto, o primeiro passo é falar com o bebê na língua em que o falante - pai e mãe ou substituto - foi falado por seus pais. Alguns chamam a essa língua, a língua afetiva, outros, a língua em que o sujeito foi constituído e outros, ainda, a língua materna.
E então, qual a importância da inserção da criança em uma escola bilíngüe?
E, em que momento isso deve ocorrer?
De forma geral, a criança deve ser colocada em uma escola de línguas depois que mostra certa fluência em sua língua ou seja, quando narra acontecimentos. Isto pode ocorrer entre 2 e 3 anos de idade. Mas, o mais indicado é observar os efeitos desse aprendizado na criança. Se seu processo de aquisição de linguagem parece estagnar depois da entrada da segunda língua, seria indicado retirar a criança da escola e aguardar que ela retome a fluência. Vale, ainda, observar se a criança sente prazer em estar na escolinha de línguas e se aprecia seus amiguinhos. Irritação, choro, tristeza podem indicar que este não é o momento adequado.
Uma criança "aprende" uma segunda língua com mais rapidez que um adulto, assim, lembradas as condições colocadas acima, por volta de 3 a 4 anos, parece um momento mais propício. Mas, cada criança responde a uma situação nova de forma singular e é a isto que os pais devem estar mais atentos e não ao que recomendo, ou aos manuais de desenvolvimento. Deve-se lembrar, finalmente, que o desejo dos pais de que a criança aprenda uma segunda língua é primordial para que ela o faça. Assim, se os pais tem opiniões divergentes, é melhor resolver entre eles antes de matricular a criança na escola bilíngue.
Os benefícios de uma segunda língua, para além dos óbvios - ser uma ferramenta valorizada em um mundo globalizado, favorecer melhores oportunidades de estudo e trabalho, entre outros - está na possibilidade de desenvolver o raciocínio, dado que o simbólico é articulado pela lógica e não pela memória.
Por fim, observar sempre as reações de seu filho à mudanças e buscar um especialista quando tiver dúvidas.
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