A importância da escuta e do acolhimento aos pais frente ao adoecimento
03/2022
A importância da escuta e do acolhimento aos pais frente ao adoecimento
Toda dor pode ser suportada se sobre ela puder ser contada uma história. …
Hannah Arendt
* Solange Araujo
A chegada de um bebê nos traz alegrias, anseios, esperanças e realizações, além de sentimentos ambivalentes e desafiadores. Esse novo ser vem carregado de expectativas, sonhado e idealizado já ocupa lugar dentro da dinâmica familiar que é presentificado por meio dos cuidados com o bebê. Herdeiros de questões geracionais e transgeracionais, o bebê humano já é falado antes mesmo de seu nascimento biológico, encontrando-se inscrito no discurso parental, o que denota que os pais já tem um projeto que possa antecipá-lo. (Abrão & Pavone, 2014).
Em meio a tantas questões e construção da parentalidade, alguns pais ainda tem que se haver com nascimentos atípicos, como prematuridade, malformações e diagnósticos de doença crônica.
Pesquisas apontam que esta vivência pode gerar sentimentos de medo, impotência, tristeza, raiva, culpa, ansiedades, estresses, frustração, angústia e depressão ( Menezes et al 2020; Salgado et al 201; Castro & Piccinini, 2002) A família experimenta questões emocionais, práticas e mudanças de rotinas para além do esperado com a chegada de um bebê.
Stern (1997), aponta que nascimentos atípicos provocam fraturas entre o bebê sonhado e idealizado, ocasionando um vácuo de representações. Os pais se vêem envoltos com seus próprios sentimentos e muitas vezes apresentam dificuldades de investir libidinalmente neste bebê. Frente aos sentimentos de angústia e desamparo, partem em busca de consultas médicas e tratamentos, ganhando neste momento um “diagnóstico”. Não é comum, a equação simbólica que alguns pais fazem atribuindo aos comportamentos do bebê em função do diagnóstico : “Ele é nervoso porque tem fibrose cística”. Faz-se neste momento, muitas vezes, a captura e a fixação do bebê em uma determinada posição no discurso
Proporcionar um olhar para além do corpo orgânico, desidentificação com a doença/diagnóstico e suas limitações, se faz necessário. Entendemos que a forma com que os pais farão a interpretação deste corpo doente, será crucial para constituição do sujeito e sua relação com a doença.
Diante de situações inomináveis e impactos sobre o imaginário parental cabe ao analista escutar a posição discursiva desses pais. Torna-se importante tecer um espaço singular, continente de escuta e acolhimento, para fortalecimento das funções parentais, possibilitando mudanças necessárias para o estabelecimento de novos laços que possam produzir efeitos sobre a subjetivação (Merletti, 2012)
* Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação Humana e Saúde.
Referências Bibliográficas:
ABRÃO, L & PAVONE, S. Quando um déficit ou doença orgânica bate à porta do imaginário parental. Os efeitos na constituição subjetiva da criança. Distúrb Comun, São Paulo, 26(2): 373-385, junho, 2014
CASTRO, E & PICCININI, G. Implicações da doença orgânica crônica na infância para as relações familiares: algumas questões teóricas. • Psicol. Reflex. Crit. 15 (3) 2002
MENEZES, L, T, et al. Vivência de mães de crianças com cardiopatia congênita que serão submetidas à cirurgia cardiovascular. Rev. SBPH [online]. 2020, vol.23, n.1
MERLETTI, C.K. I. Escuta grupal de pais de crianças com problemas de desenvolvimento : uma proposta metodológica baseada na psicanálise. 2012. São Paulo. Universidade de São Paulo. 2012. Dissertação de Mestrado.
SALGADO, C, L. A cirurgia cardiaca pediátrica sobre o olhar dos pais: um estudo qualitativo. Artigos Originais. Braz. J. Cardiovasc. Surg. 26 (1). Mar 2011
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