Aparatos tecnológicos em questão

Linguagem e Subjetividade

Aparatos tecnológicos em questão

05/2013

Aparatos tecnológicos em questão

Vera Lúcia de Oliveira Ralin*

Decido escrever sobre algo que me encanta, que uso, que divulgo, mas que ultimamente tem me assustado. 

O homem descobriu a tecnologia e a usa a seu favor, permitindo que se realize o inimaginável. Testar limites, quebrar barreiras, descobrir... A tecnologia é útil, necessária e indispensável; torna mais fácil a vida do homem. Dá-nos velocidade de informação, nos aproxima do distante. Tecnologia na medicina, na educação, na comunicação.

A tecnologia da internet e sua velocidade levam informações ao mais distante, informa o desinformado. É um veículo para a comunicação tão abrangente que da mesma maneira que uma boa informação chega até nós em um clique, informações errôneas também chegam rápido, principalmente se estão articuladas a mídias populares. 

E o que isso tem a ver como a fonoaudiologia, com a linguagem, com a subjetividade? Muito. E mais ainda quando a tecnologia está atrelada à comunicação, à transmissão de conhecimento sobre nossa área ou de algo que nos diz respeito.

Se tratando de algo relacionado à fonoaudiologia, recentemente foram lançados na internet matérias e vídeos sobre/para o autismo. Vídeos que se propõem a conscientizar sobre a temática, porém que acabaram por caracterizar erroneamente o autismo. O autista não fala, não acena, muito menos se interessa por coisas interessantes.  Em outro campo: autista que precisa de um abraço mecânico por não conseguir interagir com o outro. Sucessivas negações ao autista colocam-no em um lugar “não humano”, lugar fora da linguagem. 

Ora, que conscientização é essa que coloca um estereótipo para a patologia, igualando qualquer indivíduo a um diagnóstico?

Tomei os fatos que envolvem o autismo pela proximidade dos acontecimentos, mas atento para os estereótipos que envolvem não só essa, mas tantas outras patologias, síndrome de down, paralisia cerebral, AVC, surdez.

O processo de midiatização de informações sobre tais especificidades tem sua importância, claro, afinal lutamos para que não sejam escondidas as diferenças. Parece controverso que tantas divulgações sirvam para não esconder as diferenças, mas mostrem determinadas características, que a meu ver indicam a divulgação de estereotipias como um retorno a falsa ideia de igualdade.  

Onde está a subjetividade? Que tecnologia é essa que aproxima o homem da máquina e esquece a própria humanidade?

Todavia, pode ter respaldo o argumento de que a culpa não é de quem faz a tecnologia e sim de quem a usa para outros fins. Não culpo aqui a tecnologia, mas o modo como é usada parece extrapolar os limites do bom senso. O que quero frisar é que cuidem das possíveis consequências ao desenvolverem certos aparatos solucionadores de problemas. Que antes de publicarem características de uma patologia entendam que a magnitude de um personagem conhecido tem o poder de alienação.

Fico me perguntando aonde vamos parar? E se a ficção exibida em filmes do futuro estiver cada vez mais próxima do real? Pensar que o humano venha a ser suprimido pela tecnologia é o assustador.

 

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